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Reeducandos: uma chance para retomar a vida em sociedade

Na reinserção efetiva de ex-presidiários na sociedade, tocamos na falta de políticas públicas e na ausência de incentivos educacionais

Recomeçar e ressignificar. Essas duas palavras se aplicam muito bem à vida de Gustavo, de 38 anos. Em 2014, em Mato Grosso do Sul, Gustavo trabalhava com eventos e essa foi a entrada para o tráfico de drogas. Depois de uma batida da Polícia Militar, ele foi preso com outras duas pessoas e os seis meses no tráfico se tornaram oito anos de condenação. Foram dois anos em regime fechado e, nesse tempo, começou a repensar como seria sua vida dali em adiante, após uma prisão em flagrante e uma condenação.

A chance de mudar essa realidade surgiu em 2019, quando estava em regime semiaberto e se candidatou para trabalhar no Fort Atacadista, bandeira do Grupo Pereira, que realiza o programa Reeducandos, em parceria com o Conselho da Comunidade em Campo Grande, e que ajuda na ressocialização e recolocação no mercado de trabalho de detentos em regime semiaberto do Centro Penal Agroindustrial da Gameleira.

A partir dessa iniciativa, a perspectiva de futuro de Gustavo Gusmão mudou. Desde que entrou na empresa, trabalhou com descarga de mercadorias e reposição dos produtos. Após tanta dedicação e muito trabalho, estimulado por sua gerente, voltou à escola. Ao terminar o Ensino Médio, Gustavo se matriculou na faculdade para o curso de Administração e, hoje, ocupa um cargo de gestão – ele é responsável por uma equipe de reposição.

Iniciativa exitosa

Essa é apenas uma história que foi impactada pelo programa Reeducandos. Mas, infelizmente, nem todos têm esse mesmo incentivo. Quando falamos de reinserção efetiva de ex-presidiários na sociedade tocamos na falta de políticas públicas adequadas e na ausência de incentivos educacionais para que eles consigam uma nova perspectiva de ascensão social. No Brasil, existem hoje mais de 820 mil pessoas encarceradas, de acordo com o Departamento Penitenciário Nacional (Depen) e, dessas, ao menos 42% são reincidentes, ou seja, já haviam sido presas ao menos uma vez.

Além disso, eles ainda precisam lidar com o preconceito que tende a rejeitar e excluir as pessoas que cometeram algum tipo de crime, o que inviabiliza qualquer tipo de ressocialização fora da prisão. Pensando nisso e firme no nosso propósito de “ser um bom lugar para passar a vida, nos transformando, transformando as pessoas e o ambiente ao nosso redor”, o Grupo Pereira tem investido no programa desde 2014. Por meio dele, já foram transformadas as vidas de mais de 500 presos. A contratação teve início no Atacado Bate Forte e, aos poucos, foi se estruturando e ampliado para as bandeiras Supermercado Comper e Fort Atacadista. Como uma forma de criar oportunidades, foi criada ainda a Central de Manutenção de Carrinhos, espaço onde os reeducandos trabalham na manutenção dos carrinhos de compras das lojas Comper e Fort Atacadista, inaugurada em fevereiro de 2021.

O programa tem dado tão certo que, além do Mato Grosso do Sul, já está presente em Brasília (DF) e há previsão de expansão para Santa Catarina e Mato Grosso em breve. Atualmente, são 48 reeducandos em Mato Grosso do Sul e 14 no Distrito Federal que atuam, principalmente, como auxiliar de manutenção, auxiliar de carga e descarga e repositor. Este ano iniciamos o desafio de inserir reeducandas, atualmente com 04 mulheres, pois acreditamos que podemos auxiliar no desenvolvimento e inserção de todos e que as pessoas merecem uma segunda chance, e isto fortalece nosso propósito. Pelo programa, em Mato Grosso do Sul, eles recebem um salário mínimo (R$ 1.320,00) e transporte custeado pela empresa. Já em Brasília, os reeducandos recebem inicialmente ¾ do salário mínimo (R$ 990,00 + VT) e conforme seu desempenho recebem até 40% a mais do salário inicial. Treze deles foram contratados após receberem a liberdade.

Além do imaginado…

O programa Reeducandos também rendeu muito mais do que o esperado. A partir dele, nasceu o projeto Pintando e Revitalizando a Educação com Liberdade, no qual os reeducandos ajudam na reforma de escolas públicas. Por ele, 10% dos salários vão para uma conta judicial e destinados à compra de materiais de construção usados na reforma das escolas. Em seis anos, o projeto soma reconhecimento e economia aos cofres públicos que já ultrapassa R$ 8 milhões, beneficiando mais de dez mil alunos em 12 escolas. Iniciativas como essas são fundamentais para que os ex-presidiários possam, de fato, garantir seu espaço no mercado de trabalho e é muito importante minimizar os impactos que uma prisão gera.

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Paulo Silva

Diretor de Gente e Gestão do Grupo Pereira, sétimo maior grupo supermercadista do Brasil