As decisões da Ford foram tomadas com a urgência que a situação exigia. Uma das primeiras ações adotadas foi a implementação do home office para grande parte da força de trabalho administrativa.
Dias depois, a companhia anunciou a paralisação das atividades produtivas em todas as fábricas da América do Sul. Desde o dia 16 de março, os times de RH e Comunicação Interna começaram a elaborar um plano de ação para esse período de tempo incerto.
“Assim como em tantos outros setores, a pandemia teve um impacto significativo no nosso negócio, principalmente na forma como trabalhamos”, conta Salim Khouri, Head of Talent LATAM da Ford Motor Company.
O papel dessa soma de olhares foi fundamental nos primeiros passos do plano — a promoção das sessões de Power Up (encontros virtuais de 30 minutos para troca de experiência entre os funcionários), o lançamento de desafios e a produção materiais informativos para orientar e educar funcionários e também seus familiares.
“Para isso, levamos em consideração os mais diversos cenários e realidades que as pessoas estão enfrentando dentro de casa, tendo em mente que uma comunicação eficiente e transparente seria a melhor aliada”, diz.
Também houve o cuidado e a preocupação de colocar à disposição dos funcinários canais de comunicação com informações oficiais e atualizadas sobre o tema coronavírus em uma página de perguntas frequentes.
Criamos espaços seguros para falarmos sobre resiliência, empoderamento, colaboração, desafios do trabalho em casa – temas que sabíamos que eram do interesse do nossos funcionários debater.
Considerado personalidade de RH pela Associação Brasileira de Desenvolvimento do Paraná e indicado como um dos executivos de RH mais admirados do Brasil em 2020 pelo Grupo Gestão RH, Salim Khouri sabia que era importante, sobretudo, entender o que os funcionários estavam pensando e como estavam se sentindo.
Utilizando um canal de troca de ideias, que também servisse de conforto e acolhimento, a mensagem central da Ford foi: Nos preocupamos com você e sua família e iremos passar por isso juntos.
Na Argentina, onde é fabricada a Ranger, a Ford retomou a produção em 20 de maio, seguindo as mais rígidas recomendações globais. No Brasil, a produção foi retomada de forma gradual — na planta de Camaçari (BA), no dia 22 de junho, e em Taubaté (SP) em 1° de julho.
Sobre essa arquitetura ampla, Salim Khouri detalha na entrevista que concedeu à MELHOR.
Como foi a reorganização das rotinas em função da quarentena?
É muito importante para o time RH saber respeitar a liberdade e autonomia dos executivos com relação às suas equipes. Mas também é nossa responsabilidade ajudá-los nesse percurso.
Levando em consideração o momento que estamos vivendo e como parte do próprio processo de transformação cultural da empresa, propusemos uma série de conteúdos nas diversas plataformas internas sobre o tema. Vale destacar os fóruns online temáticos, para troca de experiências, dúvidas e sugestões entre os executivos.
Como exemplo, o primeiro deles tinha como mote exatamente esse ponto: como se conectar da melhor forma possível com o seu time durante o trabalho remoto. Além de ajudar as áreas a estabelecer uma nova rotina a distância, coube também ao RH manter os funcionários informados sobre o que estava ocorrendo de uma forma geral, mas também dentro da companhia.
Ao mesmo tempo, tínhamos o desafio de manter o clima leve durante a quarentena. Desafios e correntes virtuais foram algumas das ações que adotamos nesse sentido.
O que os lideres vêm fazendo para manter seus times coesos, mesmo distantes?
Diversas ações de comunicação e desenvolvimento foram criadas para suportar os líderes durante esse processo, além da proximidade da nossa equipe de HR Business Partner, que por meio de ferramentas de coaching, gestão de mudança e orientação estratégica se aproximou ainda mais dos líderes para provocar integração e interação do time.
Para isso, realizamos reuniões de alinhamento sobre a Covid-19; garantimos conversas transparentes e estruturadas sobre o desenvolvimento de atividades; promovemos ações de engajamento como happy hours virtuais, hora do “cafézinho”, games via webex e reuniões descontraídas para permir interação do time.
O RH está oferecendo algum tipo de treinamento e/ou suporte para a liderança nesse período?
O RH tem a missão de olhar para os desafios e suportar todos os níveis organizacionais, para isso, diversas ações estão sendo realizadas. Uma semana após a pandemia ser decretada, foram lançadas sessões rápidas de treinamento e sensibilização para todos os empregados.
Essas sessões ocorrem semanalmente, com duração de 30 a 60 minutos, e tratam temas desde como trabalhar remotamente, resiliência, saúde física e mental, vulnerabilidade, entre outros.
Lançamos uma newsletter mensal para compartilhar conteúdos relevantes, a exemplo de empoderamento, accountability e confiança. Um mês depois do início do trabalho remoto, colocamos em prática as ações relacionadas ao desenvolvimento de lideranças por meio de encontros mensais online para debatermos:
- Liderança efetiva em tempos de trabalho remoto;
- Mindfulness em tempos de crise;
- Como gerenciar times durante a crise;
- Speed of trust (velocidade da confiança);
- Comunicação não-violenta;
- Formas de manejar energia e tempo das equipes.
Além disso, todas as ações da jornada de desenvolvimento do ano estão sendo revisadas para serem realizadas online, no primeiro momento, a fim de garanti-las de forma efetiva. Entendemos que é nosso papel apoiar os funcionários nesse momento por meio de ações conectadas com o momento delicado que estamos vivendo.
Qual é o maior desafio do RH para atravessar a pandemia?
O nosso maior desafio está relacionado a garantir a segurança e saúde dos nossos empregados e familiares e, ao mesmo tempo, manter a produtividade e a entrega dos nossos objetivos estratégicos anuais.
O planejamento de retorno ao ambiente de trabalho na pós-pandemia é outro desafio. Existem as questões práticas, como garantir máscaras e álcool em gel para 100% da nossa população e o espaçamento nas estações de trabalho, refeitórios e áreas de convivência.
Precisamos nos preparar para lidar com profissionais que retornarão abalados pela perda de amigos ou parentes; ou então com algum tipo de estresse pós-traumático. Sobretudo, precisamos trabalhar sua saúde física e mental.
Ao mesmo tempo, ajudamos o engajamento desses colaboradores, para que entendam a importância de retomarmos juntos a rotina profissional.
Qual é o papel da Comunicação interna para sensibilizar os funcionários durante a crise do coronavírus?
Comunicação clara e transparente é fundamental para manter o engajamento e a parceria com nossos funcionários. Utilizamos diversas ferramentas como portais, newsletter, e-mail marketing e comunicação mobile para que, de forma estruturada e contínua, possamos compartilhar as questões mais relevantes sobre o tema e que podem afetar a vida de nossos funcionários e suas famílias.
Um dos papéis mais importantes da comunicação interna, ainda mais nesses tempos de coronavírus, é informar de forma unificada e consistente, utilizando dados oficiais, reforçando medidas preventivas e ações adotadas pela companhia interna e externamente, servindo também como um canal para a troca de ideias.
Para isso, a comunicação interna da Ford se valeu de diversas ferramentas, como dicas rápidas, página de perguntas frequentes e infográficos sobre a forma certa de lavar as mãos ou ainda a curva e o achatamento do contágio a fim de chamar a atenção sobre o coronavírus, a importância da prevenção e as diretrizes adotadas pela companhia.
Reuniões diárias entre os membros do comitê de gerenciamento de crise, que engloba várias áreas da companhia, e também com o time global são realizadas a fim de estipular uma cadência de notícias com a mesma linguagem.
Promover a integração dos times e tornar esse momento o mais leve possível, por exemplo, por meio de desafios e correntes virtuais, também está no escopo dessa área.
Como a Ford está realizando o retorno “pós-pandemia”, tanto do ponto de vista físico, quanto no modelo de trabalho? O que já está determinado, o que ainda está sendo discutido?
Desde o começo da pandemia, estabelecemos um grupo de gerenciamento de crise para a Covid-19, que se reúne regularmente para supervisionar todas as decisões e atividades necessárias.
Visando manter a segurança e a integridade de nossos funcionários, suspendemos as operações da Ford no Brasil em 19 de março e, desde então, temos implementado uma série de medidas com as melhores práticas globais, alinhadas com recomendações de médicos, cientistas e especialistas, para estabelecer um ambiente seguro para o retorno ao trabalho, dentre as quais:
- Autocertificação diária de saúde, que deve ser concluída de forma online por todos os empregados antes de se apresentarem ao trabalho;
- Verificação da temperatura sem contato físico no acesso aos ônibus e nas entradas das unidades da Ford. Qualquer pessoa com temperatura acima do normal não poderá entrar e será instruída a procurar um médico para ser liberada antes de retornar ao trabalho;
- Uso obrigatório de máscaras faciais para todos que entram nas instalações da Ford. Todos os funcionários da Ford receberão um kit, incluindo máscara facial e outros itens para ajudar a mantê-los saudáveis e confortáveis no trabalho;
- As estações de trabalho serão avaliadas frequentemente para garantir distanciamento social de, no mínimo, 1,8 metro de distância;
- Instalações foram completamente limpas e desinfectadas e serão limpas com maior frequência quando reabrirem;
- Disponibilização de estações de álcool em gel por toda a fábrica e escritórios, além de comunições que reforçam os métodos adequados de lavagem das mãos;
- Disponibilização de um manual abrangente com procedimentos e protocolos que detalham como a equipe Ford trabalhará para ajudar a manter todos seguros e saudáveis.
Destaco também outra importante medida adotada desde o início da pandemia, que foi a realização de uma campanha de comunicação interna para orientar na prevenção da disseminação da doença.
Depois de três meses de isolamento social, home office, modificações forçadas no modus operandi, o que fica de lição ou reflexão para o RH?Em um cenário sem precedentes, o RH reforça seu papel estratégico dentro da organização, intensificando a mudança cultural da companhia na adoção de práticas de trabalho que já vinham sendo implementadas, como o home office, e que foram aceleradas em virtude da pandemia.
A comunicação direta e transparente com os funcionários se mostrou uma grande aliada e, mais do nunca, as relações giram em torno da palavra confiança.
Nesse sentido, a pandemia apenas reforçou o que já sabíamos: nossos funcionários são engajados, eficientes, comprometidos, proativos e confiáveis, não importa de onde estejam trabalhando. [Inês Pereira]