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Rotatividade no varejo

Como propósito, tecnologia e cultura de dados podem ajudar a preencher rapidamente postos de trabalho e conter o turnover acelerado

de Redação em 15 de julho de 2023

Espera-se, segundo especialistas, que uma empresa trabalhe com taxas de rotatividade de colaboradores – o famigerado turnover – entre 5% e 10% ao ano. Contudo, cada setor tem suas peculiaridades. O varejo tem várias: é um mercado trampolim para jovens profissionais, enfrenta altas pressões por resultados e é um dos mais sujeitos à variação da economia local, nacional ou global. Estima-se que a taxa de turnover do setor esteja, por isso, na média próxima de 36% , segundo estudo divulgado no primeiro trimestre deste ano, elaborado pela Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC) e pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL). Nesse contexto, o segmento enfrenta o paradoxo cultural: dificuldade em reter talentos por meio de sua cultura e dificuldade de construir e perpetuar a cultura organizacional porque não consegue conter a rotatividade.

“A questão do propósito é fundamental, porque se tem algo que pode me ligar à empresa é o sentido dela. Me dá uma certa tranquilidade trabalhar em uma empresa que tem propósitos de alguma forma semelhantes aos meus valores”, avalia Almiro dos Reis Neto, Diretor da Franquality Consultores para o setor. Ele está certo de que este é o gancho também para reter talentos no Varejo, e que questão toda é a comunicação, que passou a ser chave para auxiliar na manutenção da cultura e na perenidade da equipe.

Neto participou do Fórum Melhor RH Varejo, em junho, junto com Fernanda Melo (Gerente de Desenvolvimento Organizacional da Aliansce Sonae + brMalls) e Renato Acciarto (Comunicação Corporativa Interna e Digital, Relações Governamentais e Sustentabilidade), discutindo o tema no painel Cadê o colaborador que estava aqui? Como desenvolver cultura organizacional frente à alta rotatividade das equipes. O evento foi promovido pelo Centro de Estudos da Comunicação (CECOM) e pela Plataforma Melhor RH de forma on-line e gratuita.

O executivo ainda destaca que o varejo é uma longa cadeia de parceiros, desde a indústria que produz, a logística, o estoque, a loja, franquia ou não franquia. Esses parceiros precisam ter uma relação muito positiva, muito azeitada para que tudo funcione bem e com uma margem boa para todo mundo. Ele aponta que a questão do valor tem um peso significativo, afinal, por traz dessa longa cadeia, tem a questão da confiança. “As pessoas têm que acreditar que seus valores estão sendo trabalhados no dia a dia. Não é só um quadro, mas é de fato uma coisa real”, ressalta Neto.


Fernanda, por sua vez, compartilha do mesmo pensamento e complementa dizendo que “não adianta ter a cultura escrita na parede. Cultura é o que a gente sente no dia a dia. Mas é lógico, a gente tem que partir desse princípio de ter a certeza de qual é a nossa cultura, quais são os valores e os comportamentos que a gente quer ressaltar”.

“Se a gente tem ali nos nossos valores organizacionais essa questão da parceria com o lojista, do apoio e do entendimento da realidade dele, isso acaba se desdobrando no dia a dia”, reflete Fernanda. em momentos de crise, se a cultura é sólida, muitas vezes ela ajuda a manter algum nível de engajamento, mas as incertezas são os vilões. E aí entra o papel da liderança para tentar manter os colaboradores engajados sempre com muita transparência e com uma comunicação fluida. “É uma missão de gestor, de companhia, de colaboradores, todo mundo tem uma responsabilidade grande nesse processo de cultura de engajamento”, avalia ela.

Já Acciarto, jornalista focado em Comunicação Corporativa Interna e Digital, Relações Governamentais e Sustentabilidade, trouxe para o debate um ponto recente que impactou muito a história acerca dos valores e propósitos no varejo, que foi a crise das Lojas Americanas. Ao que neto respondeu: “Quando você está implantando uma nova cultura, você tem que rever todos os processos de gestão de pessoas – como a gente seleciona, como a gente remunera, como a gente promove -, porque você vai promover baseado nos valores da empresa. Mas você também vai gerir baseado nos valores da empresa”, disse. Ao avaliar o contexto da Americanas, ele comenta que aparentemente os processos de gestão não estavam alinhados com os valores da companhia.

O painel também tratou do primeiro emprego no varejo. Constatou que as novas gerações passam por mudanças de comportamento em que o propósito e o valor possuem pesos maiores que os próprios rendimentos oferecidos. O desenvolvimento de habilidades, muitas vezes, se reflete na maior busca na carreira das novas gerações. Afinal, isso gera oportunidades diversificadas.

Vaivém do mercado

Fator de turnover, mas também de geração de novos empregos, inclusive para jovens, a expansão variante do mercado, de acordo com as campanhas comerciais criadas para movimentar o setor, foi tema de outro painel do Fórum Melhor RH Varejo. O momento, intitulado RH sob medida – Como planejar e flexibilizar a gestão de pessoas conforme a demanda, contou com a participação de Rafael Almeida (Gerente de Parcerias estratégicas da Robert Half), Elaine Martins (Sócia da Academia de Negócios) e Jordana Rodrigues (Diretora de Desenvolvimento da Temsi do Brasil).

Para Almeida, a melhor forma de se preparar é ter processos estabelecidos na estrutura da organização. “O que quero dizer com isso é buscar posições de rápida entrada e volume, no geral. O que a gente vê é uma rotatividade de 40% a 50% no varejo. Se comparar com a indústria, por exemplo, é impossível pensar nesses números”, comenta, e discorre soluções para se preparar para esse tipo de demanda.

“É preciso ter contato muito assertivo com seus candidatos e isso é investir sempre em uma boa comunicação e em tecnologia”, destaca o executivo, que acredita que ter uma boa gestão dos dados da empresa é sempre importante. O investimento em tecnologia é essencial, seja em tecnologia de ponta como CRM ou até mesmo uma solução mais caseira que permita aproveitar os perfis que entram na base de dados da empresa, para que o RH tenha acesso a eles em diversas oportunidades, e assim manter uma base de dados robusta e sólida. A comunicação com esses candidatos também é outro ponto considerado essencial. A agilidade do processo e o bom feedback são tópicos que o RH deve colocar foco durante o recrutamento.

Já Jordana Rodrigues, Diretora de Desenvolvimento da Temsi do Brasil, traz a experiência que vive na Europa. Ela comenta que há uma prática mais focada na produtividade, ou seja, o time de repositores de um supermercado estão mais ativos das 8h às 11h da manhã, quando preparam os pontos de vendas. Depois desse horário, ficam mais ociosos. Em contrapartida, a partir das 11h é o time de caixas que entra em ação e estão mais ativos. Portanto, há uma flexibilidade de turnos e horários que permite aproveitar os picos de produtividade. Já no Brasil, esse processo esbarra em leis trabalhistas e eles precisam ser repensados e adaptados aos padrões do país.

Ela explica que na Itália são adotados os perfis de 16 horas. “Tem pessoas que trabalham verticalmente, por exemplo, aos sábados ou no horário de almoço, oferecendo a ajuda necessária para que aquele ponto de venda esteja sempre funcionando.” E ainda completa que esses picos são analisados a partir da coleta de dados, ou seja, a tecnologia ajuda a alinhar os processos.

Jordana enfatiza que no mercado italiano a produtividade e perfil múltiplo tem mais espaço que no varejo brasileiro. Não há, por exemplo, uma função específica de empacotar compras de supermercado. O que existe é um perfil múltiplo de função. O estoquista, em momento de pico, ajuda a desafogar a fila empacotando as compras, mas essa não é sua única função. A executiva também comenta que as soft skills nunca foram tão importantes, pois é tudo muito pessoal e muito rápido.

Elaine Martins, Sócia da Academia de Negócios concorda e completa dizendo que tudo no varejo é muito rápido. “Uma comunicação mal colocada, uma mensagem mal colocada, tem uma amplitude tremenda”, diz Elaine. A executiva ainda destaca que, nesse sentido, estamos passando por uma verdadeira revolução, inclusive de engajamento e de reconhecimento de si mesmos. Portanto, trabalhar com seleção hoje em dia não é uma tarefa fácil.

Almeida aproveita o gancho e reflete que existem muitos desafios para enfrentar nessa área e que no varejo isso se potencializa. “Há metas a se bater e concorrência o tempo inteiro. No varejo é tudo na hora. Para ontem. Se você perder a janela de venda, perder aquele momento de pegar o cliente, seja no
e-commerce, seja na loja física, você perde aquele gatilho de venda”, alerta o executivo. Para ele, a complexidade, hoje, é a empresa tentar trazer um diferencial de remuneração em alguns momentos, e isso implica também em benefícios atrelados à posição.

O Gerente de Parcerias estratégicas da Robert Half coloca em pauta o “salário emocional”. Ele explica: “É você trazer para aquela pessoa algo que não se pode trazer em benefícios, em remuneração, na folha de pagamento. Isto é, trazer um bom ambiente de trabalho e saber que a sua liderança está muito conectada com o propósito da empresa”, diz ele. Segundo o executivo, oferecendo esse cenário, é muito difícil ter pessoas que saiam rapidamente da empresa.

Elaine Martins avalia que o propósito é ainda mais latente nas lideranças que multiplicam essa visão. “Eu acho que essa questão de propósito, de cultura da empresa, de benefícios é mais fácil a liderança, mas eu me preocupo muito com a geração de 18 a 22 anos, que eu acredito que eles estão procurando um emprego, afinal, muitos têm que ajudar na família ou a família depende disso, por isso, eles acabam procurando mais a questão do salário”, alerta a executiva.

Os participantes finalizam o painel compartilhando a mesma certeza de que a capacitação transforma. E mostram, ao longo do bate-papo, como estão nessa missão dentro das empresas em que trabalham.
“Para se ter assertividade é preciso investir em pessoas, capacitar os profissionais que estão no front. É importante que o primeiro contato com o profissional seja de impacto” – Almeida deixa essa reflexão. Ao que Jordana complementa: “Sonho que se sonha só, é sonho, e sonho que se sonha junto, é realidade – eu acredito nisso e acho que de fato isso pode se estender para todas as áreas de uma empresa. Afinal uma organização é feita de pessoas”, finaliza a executiva.

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Assista ao evento completo em: https://bit.ly/3CP9y9Q

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