Diversidade

Semana da Visibilidade Trans: empresas trabalham pela inclusão

Em etapas diferentes de seus processos inclusivos, companhias oferecem acolhimento jurídico, apoio médico, psicológico, formação e seleção dedicada

Próximo ao dia 29 de janeiro, conclamado o Dia Nacional da Visibilidade Trans, inicia-se uma série de eventos e discussões voltadas à empregabilidade desse público. Tema é espinhoso entre os indicadores sociais brasileiros: relatório divulgado no ano passado pela Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra) apontou que 20% da população trans ainda está fora do mercado de trabalho. Muito embora haja o Projeto de Lei 144/2020 em tramitação, que dispõe sobre a reserva de vagas de empregos ou estágio para pessoas trans e travestis.

A porta de entrada das empresa se abre para esses profissionais não com naturalidade – ainda é sob a luz de iniciativas ESG, de programas organizacionais específicos ou com a ajuda do terceiro setor que surgem as iniciativas. É o caso de Beatriz Ramerindo, de 25 anos, mulher trans que vive em São Paulo.

Beatriz concluiu o Ensino Médio, em 2020, por meio do Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos (Encceja). Tornou-se programadora e conquistou um bom emprego na área graças a uma parceria da ONG {reprograma}, de capacitação e iniciação no mercado de trabalho de tecnologia para mulheres em vulnerabilidade social e econômica, priorizando pretas, trans e travestis, com a Creditas, startup brasileira do setor financeiro e de benefícios corporativos.

Foi essa empresa que contratou, ao fim da formação, a jovem profissional, que espera servir de exemplo para seus pares. “Meu sonho é ter a minha própria startup. Quero passar o meu conhecimento para outras pessoas e me tornar fonte de inspiração para mulheres trans e travestis”, conta Beatriz.

Etapas diferentes

As iniciativas são diversificadas para esse segmento e cada companhia se encontra em um momento diferente de seu processo de implementação de uma cultura mais inclusiva. Do compromisso público, passando pela conscientização e sensibilização, aos processos de trainee e seleção – o importante é ter iniciativas bem estruturadas e políticas sólidas para incluir de fato, entendem os especialistas no assunto alocados em diversas empresas.

A Nívea – Beiersdorf, por exemplo, integra o Fórum de Empresas e Direitos LGBTI+ ao lado de outras 150 empresas signatárias dos dez compromissos que visam orientar práticas corporativas para inclusão desse público. Entre seus projetos recentes para esse público está a idealização da primeira Cartilha de Diversidade, Equidade e Inclusão da Beiersdorf incluindo não só os compromissos da empresa com o público LGBTQIA+ , mas também com negros, idosos, mulheres, e pessoas com deficiência. O material foi uma cocriação com pessoas de diferentes áreas e consultores e pode ser conferido aqui.

“A cartilha resume nossos objetivos e nossa missão enquanto marca que busca cuidar das pessoas em todas suas particularidades, entendendo suas histórias e as apoiando onde for necessário”, comenta Jean Henry, gerente de Recursos Humanos e líder da Agenda de Diversidade da companhia. O documento orienta, entre outras ações, por exemplo, como pessoas aliadas, que não fazem parte da comunidade, podem fazer a diferença em um movimento de transformação.

Outra empresa de cosméticos, a L’Oréal Brasil, aposta no letramento dos seus colaboradores, para gerar maior respeito aos profissionais trans. Iniciou a rede de afinidade LGBTQIA+ em 2021, a Prismas, promovendo desde Aulão de Introdução de Transfeminismo a palestra sobre a Linguagem Neutra e newsletter sobre Narrativas Trans Negras Brasileiras. Temas como Empregabilidade e Direito das Pessoas Trans e Roda de Acolhimento e Escuta Ativa também estão na pauta, para fomentar uma cultura interna inclusiva.

Já a Seguros Unimed, braço financeiro e segurador do Sistema Unimed, cooperativa de trabalho médico, vem adotando ações como o processo de seleção às cegas, apontado por especialistas como o ideal para aumentar a diversidade dentro das organizações, com a plataforma on-line Jobecam.

Na Home Agent, especializada em gestão de trabalho remoto e relacionamento com cliente 100% on-line, cerca 19% dos 650 funcionários — todos formais – é composta por pessoas LGBTQIAP+ (18% destes são trans) O trabalho remoto facilita processo de inclusão, na opinião de colaboradoras trans. A empresa mantém parceria com a Transemprego, plataforma de inclusão profissional voltada para este público.

A Nestlé, por sua vez, mantém uma parceria há 3 anos com o projeto “Orgulho do meu RG”, da startup “Bicha da Justiça”, no setor jurídico. A iniciativa assegura a retificação de nome e gênero nos documentos de identificação de seus profissionais transgênero e também do público em geral.

Outra empresa do ramo alimentício, a Kraft Heinz, tem política de benefício para colaboradores em processo de transição de gênero, desde o tratamento hormonal, passando por apoio psicológico, até licença remunerada de 20 dias em caso de cirurgia. O acolhimento organizacional durante e depois desse processo inclui a adaptação de documentos e tratamento em relação à identidade de gênero.

Já no varejo, o Grupo Carrefour Brasil realiza, desde 2018, ações voltadas para a contratação de pessoas trans e outros perfis específicos, os chamados Dias D, com atenção aos grupos minorizados. Também há fontes diversas de apoio aos colaboradores trans, sanando dúvidas e auxiliando em questões jurídicas, suporte psicológico e médico, entre outros.

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