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Inclusão trans e de PCDs ainda encontra obstáculos

O mercado de trabalho é hostil a esses dois grupos e a discriminação começa no processo de seleção e vai além, durante toda a carreira

A inclusão de mulheres trans e pessoas com deficiência são os grandes desafios no processo de integração de públicos diversos nas organizações. Esses temas foram tratados durante o 3º Fórum Melhor RH Diversidade e Inclusão em dois painéis: “Sensibilidade na abordagem – Como ir além da Lei na inclusão PCD”, que contou com a participação de Leandro Corrêa, gerente de Diversidade e Inclusão na Arcos Dorados, e Tabata Contri, consultora especialista em Diversidade, Equidade e Inclusão de Profissionais com Deficiência; e também no “Como derrubar mitos e apoiar colaboradores trans”,com Jaque Fantinelli, psicóloga e especialista em Diversidade, Equidade e Inclusão, Isabella de Avila, analista de Diversidade e Inclusão na Intrials, e Gabriela Augusto, fundadora da Transcendemos, debateram a importância de políticas inclusivas e de acolhimento no ambiente de trabalho.

Tornando o ambiente de trabalho mais inclusivo para pessoas trans

As speakers acreditam que para incluir pessoas trans, as empresas devem oferecer políticas claras de inclusão e diversidade, promovendo igualdade de oportunidades e respeito à identidade de gênero dos colaboradores. Além disso, é importante fornecer treinamentos para que todos os funcionários estejam preparados para lidar de forma respeitosa e inclusiva com colegas transgênero.

A promoção da diversidade também envolve dar voz e espaço para que colaboradores trans tenham oportunidades de liderança e participação ativa em processos decisórios dentro das organizações.

Isabela destaca que a empregabilidade de transexuais era pouco debatida quando ela começou sua transição de gênero. No entanto, ao longo dos anos, observa-se uma mudança gradual na mentalidade das empresas, que agora estão mais abertas e dispostas a acolher e valorizar a diversidade de gênero. “Sendo muito otimista, começamos a ouvir mais sobre isso há cinco anos. E antes desse tempo estávamos ou na prostituição ou em trabalho muito específicos como cabelo, maquiagem e que eram nossas únicas opções”, lembra.

Ela acredita que é essencial que as empresas ofereçam oportunidades de capacitação e desenvolvimento profissional para pessoas trans, para que possam competir em igualdade de condições no mercado de trabalho. Além disso, ressalta a importância de políticas inclusivas e de um ambiente de trabalho seguro e acolhedor.

Isabela também aponta que as violências são vividas dentro das instituições de ensino superior e no ambiente corporativo, reforçando a necessidade de políticas efetivas de combate à transfobia e promoção da igualdade de oportunidades. Ela lembra que muitas vezes precisou se adaptar para evitar retaliações, escolhendo um curso à distância para evitar preconceitos e retaliações. “Muitas vezes precisamos nos adaptar para não sofrer retaliações, eu escolhi fazer um curso à distância porque ele oferecia menos retaliação e prejuízos quando a minha pessoa”, recorda, como uma estratégia de defesa contra agressões.

Jaqueline salienta que a falta de acesso à educação pode impactar a inserção no mercado de trabalho. Além disso, enfatiza como as empresas que estabelecem critérios rigorosos de seleção podem dificultar a entrada de pessoas que enfrentam barreiras. “As duas faces da moeda são como se sentimos com nossa identidade e a outra são questões estruturais, de como o mundo nos acolhe, abre portas ou fecha” , enfatiza.

Em sentido horário, janelas maiores: Isabella, da Intrials; Gabriela, da Transcendemos, e Jaque, psicóloga e especialista em Diversidade, Equidade e Inclusão. Na janela menor: Adriana Venâncio, Intérprete de Libras

O que o RH de uma empresa pode fazer para acolher?

O departamento de Recursos Humanos (RH) desempenha um papel crucial no acolhimento e inclusão de pessoas trans no ambiente de trabalho. Para isso, é fundamental implementar programas de sensibilização e conscientização sobre questões de identidade de gênero, garantindo que todos os funcionários estejam preparados para lidar de forma respeitosa e inclusiva. Além disso, o RH é responsável por buscar formas de aumentar a representatividade de pessoas trans na empresa, oferecendo oportunidades de liderança e participação ativa em processos decisórios, e garantindo que as políticas de recrutamento e promoção sejam inclusivas e livres de preconceitos.

Jaqueline destaca a importância de conscientizar todos os colaboradores sobre a valorização da diversidade, promovendo treinamentos e workshops para criar um ambiente de trabalho acolhedor para pessoas trans. Ela ressalta que a empresa precisa criar procedimentos e treinamentos para orientar os funcionários sobre como lidar com colegas trans. “Precisamos falar de conscientização, porque muitas vezes não sabem como lidar com um colega trans, e a empresa precisa criar procedimentos e treinamentos”, aponta.

Além disso, o RH pode estabelecer políticas de suporte e acolhimento para pessoas trans, garantindo que tenham acesso a benefícios e recursos necessários para o seu bem-estar no ambiente de trabalho. Aline ressalta que a inclusão não é apenas responsabilidade do RH, mas também de outros times, como a comunicação, que desempenha um papel fundamental. Ela enfatiza a importância da transparência nos programas de diversidade e inclusão.

“Precisamos falar de conscientização, porque muitas vezes não sabem como lidar com um colega trans, e a empresa precisa criar procedimentos e treinamentos”, aponta. Ao promover a inclusão de pessoas trans, o RH não apenas contribui para a construção de um ambiente de trabalho mais justo e igualitário, mas também fortalece a imagem da empresa como um local que valoriza a diversidade e a igualdade de direitos.

Jaque ressalta que é preciso criar estratégias ao longo prazo nas companhias para garantir que a inclusão de pessoas trans seja uma prática contínua e não apenas uma iniciativa pontual. Ela enfatiza a importância de implementar políticas e programas de suporte, além de oferecer oportunidades reais de crescimento e liderança para as pessoas trans dentro da empresa. “Em janeiro é fácil colocar ícones trans, ou tirar fotos de funcionários, mas qual a real meta de inclusão que empresas estão adotando para promover a real oportunidades?”, questiona.

Ela defende que a inclusão de pessoas trans não é apenas uma questão de justiça social, mas também traz benefícios concretos para a empresa, como maior inovação, produtividade e satisfação no trabalho. Jaque ainda critica a falta de inclusão deste público nas empresas, enfatizando a necessidade de letramento, treinamento, e revisão de processos potencialmente transfóbicos, destacando que mesmo pequenas mudanças representam um progresso significativo. “Precisa questionar as empresas do porquê não há a inclusão deste público por eles, além disso precisa de letramento, treinamento, rever os processos, que em algum momento possam ser transfóbicos, se fizer o mínimo já evolui bastante”, elucida.

Gabriela concorda que, para que a inclusão de pessoas trans seja efetiva, é essencial que toda a empresa esteja envolvida e comprometida com essa causa. Isso significa que todos os departamentos, não apenas o RH, devem estar alinhados e engajados em promover um ambiente de trabalho inclusivo e acolhedor para pessoas trans.

Inserção de PCDs no mercado de trabalho 

Tabata lembra que, ao adquirir a deficiência, a inserção no mercado de trabalho parecia impossível, pois não havia outras pessoas com deficiência em seu segmento. Ela enfatiza que a experiência de ficar fora do mercado de trabalho após usar uma cadeira de rodas é comum, e muitas pessoas enfrentam barreiras significativas para ingressar ou permanecer no mercado de trabalho, devido ao preconceito, à falta de acessibilidade e à ausência de políticas inclusivas.

Ela também destaca a falta de representatividade no ambiente de trabalho, recordando: “No meu antigo emprego não havia ninguém com deficiência, e quando não nos vemos nesses espaços, achamos que é impossível e que as oportunidades demoram para aparecer”.

Em sentido horário, do topo, Tabata, especialista em Diversidade, Equidade e Inclusão de Profissionais com Deficiência; Corrêa, da Arcos Dorados, e Adriana, Intérprete de Libras

É preciso incluir na prática e não apenas para cumprir cotas

Para Tabata, o mercado de trabalho é hostil com quem tem algum tipo de deficiência, observando: “Eu enviava meus materiais e nunca era chamada, e eu percebia que meus amigos que não tinham deficiência eram chamados”.

Leandro sublinha que é preciso pensar  em políticas de inclusão e acessibilidade no mercado de trabalho. Ele enfatiza que empresas precisam se conscientizar da importância de proporcionar oportunidades iguais para todos, independente de suas limitações”. E também ressalta a importância de promover um ambiente de trabalho inclusivo, onde as pessoas com deficiência se sintam acolhidas e tenham condições de desenvolver seu potencial profissional. “É preciso criar e cumprir uma série de ações para que possa os funcionários façam parte do cotidiano das organizações de forma autônoma”. Lembra.

O profissional lembra que geralmente as companhias acreditam que para criar ações e protocolos para receber e atender às demandas de funcionários PCDs exige um grande número de investimentos ou que exige mais que a empresa consegue. Para ele é preciso desmistificar e enfatizar a necessidade de investimento em políticas de inclusão e acessibilidade no mercado de trabalho, ressaltando a importância das empresas conscientizarem-se sobre a igualdade de oportunidades, independentemente das limitações de cada indivíduo. “Com força de vontade conseguimos executar um trabalho de D&I nas empresas.

“É preciso pensar para além de que adaptação a pessoa precisa, é preciso pensar nos valores em que ela compartilha e a partir disso entender quais adaptações aquelas pessoas precisam”, assegura.

Em consonância, Tabata enfatiza a importância de promover a autonomia e independência das pessoas com deficiência, oferecendo ferramentas e recursos que as auxiliem em suas atividades. Ela ressalta a necessidade de quebrar estereótipos e preconceitos, a fim de valorizar as pessoas com deficiência pelo seu potencial, e não com base em sua condição.

“É preciso olhar a pessoa, e não a deficiência”. Complementa a especialista. Tabata continua: “Não se pode encontrar números, é preciso contar gente, não se contrata deficiência, mas perfis, antes de qualquer coisa é preciso entender do ser humano”, endossa.

Os speakers destacam a importância de um ambiente inclusivo, onde as pessoas com deficiência sintam-se acolhidas e valorizadas. Ela ressalta a importância de criar oportunidades equitativas para que essas pessoas possam desenvolver todo o seu potencial e contribuir de forma significativa para a sociedade.

(Com reportagem do Portal da Comunicação)

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