Parece se consolidar um novo entendimento entre os profissionais de RH brasileiros sobre como destacar o melhor dos funcionários, inclusive em termos de produtividade. Visão atual está relacionada principalmente à saúde individual, mental e física dos colaboradores, em vez de atrelar-se apenas aos objetivos corporativos. Entre as novas tendências desse universo, o site de vagas Indeed destaca o modelo de trabalho híbrido, os horários flexíveis e o foco no bem-estar dos funcionários, mediante novos comportamentos das organizações a partir de constatações ao longo de dois anos de pandemia.
Corroborando outros levantamentos já divulgados em Melhor RH, ao ouvir 739 profissionais brasileiros (empregados ou em busca de oportunidades)*, o Indeed revelou que, para 60% dos entrevistados, a produtividade aumentou com o trabalho remoto. Um total de 49% afirmaram ter , hoje, mais tempo com a família. De acordo com Felipe Calbucci, diretor de vendas do Indeed, as empresas parecem entender que formalidades como horários de expediente e sentar-se em uma mesa de escritório não garantem o engajamento no trabalho realizado – os colaboradores, por sua vez, já perceberam os benefícios alcançados nesse cenário, o que exige um novo posicionamento das companhias a respeito
Novas atitudes também se fazem necessárias ao se depararem com o fato de que saúde mental prejudicada e falta de apoio das empresas também são realidades estatísticas: a mesma pesquisa constatou que 18% dos entrevistados sentiram sua saúde mental deteriorar durante o trabalho à distância, e 31% disseram não se sentir amparados por seu empregador.
- Locais de trabalho remotos/híbridos e horários de trabalho flexíveis
“A flexibilidade está rapidamente se tornando um dos fatores mais importantes para empregadores e funcionários, uma vez que já foi comprovado que beneficia ambos os lados”, entende Calbucci.
Sugestões como semanas de trabalho de 4 dias, subsídio de férias ilimitado e licença sabática não remunerada “mostram como estamos em transição lenta para o que se convencionou chamar de Novo Mundo do Trabalho, pós-pandemia”, complementa o executivo.
- Foco em saúde mental e bem-estar
Dias dedicados a saúde mental, terapia gratuita ou subsidiada, e até mesmo tempo de descanso não serão mais percebidos como “vantagens” ao comparar uma oportunidade de trabalho com outra, mas sim requisitos para até mesmo considerar uma aplicação, considera Calbucci
“O feedback e a contribuição dos funcionários precisam ser levados em consideração quando falamos de saúde mental e bem-estar. Isso ajuda as empresas a identificar se há alguma melhoria a ser feita e como encontrar soluções. Organizações que não buscam ouvir seu pessoal podem ter dificuldades para reter talentos, sem falar em perder ideias e inovações, tão necessárias neste período de transição”, comenta o executivo.
A mudança recente na classificação da Síndrome de Burnout, agora oficialmente considerada um problema ocupacional, torna os empregadores ainda mais responsáveis pela saúde mental dos colaboradores.
- Mais esforços para atrair e reter talentos
Para muitos, a pandemia ofereceu uma nova visão sobre as próprias prioridades e objetivos de vida, mudando-os, às vezes radicalmente, e tomando ações como desistir completamente de suas posições em busca de algo melhor. Incentivos econômicos podem não ser suficientes.
“Os trabalhadores sentem que o significado de “sucesso” mudou, e agora estão priorizando o equilíbrio entre vida pessoal e profissional, saúde mental e ter um emprego com significado ao invés de apenas um salário maior”, reflete Calbucci.
“Em 2021, houve um fenômeno nos EUA chamado de ‘Grande Resignação’. Milhões de pessoas deixaram seus empregos para buscar posições mais alinhadas com suas expectativas de vida. Aqui no Brasil, embora o cenário econômico seja diferente, as organizações devem estar atentas a essa tendência internacional para evitar que algo semelhante aconteça. Isso coloca as empresas em posição de lutar contra o aumento da rotatividade de funcionários, o que altera a dinâmica de poder no local de trabalho, sugerindo, novamente, que as organizações levem mais em consideração o feedback e as contribuições dos funcionários”, explica o executivo.
- Soft skills em destaque
As soft skills, habilidades para além das competências técnicas e mensuráveis, se tornaram essesnciais em todos os setores das companhias, especialmente em um contexto de trabalho remoto, para melhorar e manter o ambiente de trabalho. “O valor das soft skills já foi reconhecido por muitas empresas que tiveram a oportunidade de confirmar isso no contexto de trabalho remoto, mas 2022 será o ano de colocar isso em ação, com novos treinamentos para colaboradores e processos de contratação mais conscientes”, prevê Calbucci
“Outra pesquisa recente do Indeed também mostrou que para mais de dois terços dos CEOs de 130 empresas brasileiras entrevistados, a capacidade de adquirir novos conhecimentos será mais importante do que a capacitação em habilidades específicas, e para 95% dos entrevistados os novos talentos precisam cada vez mais desenvolver suas habilidades de autogestão. Isto significa que, mais do que apenas conhecer a parte técnica, os líderes estão procurando profissionais adaptáveis com soft skills como inteligência emocional, que sejam capazes de aprender e se desenvolver em novas áreas”, afirma o diretor de vendas.
O executivo se mostra otimista em relação a 2022. “É claro que a pandemia trouxe mudanças abruptas muito rapidamente, mas para este novo ano estamos caminhando para dois anos nesta situação, e não temos motivos para acreditar que não podemos nos adaptar e sair ainda mais fortes com as lições que aprendemos”.
*pesquisa realizada em formato on-line, por meio de painel divulgado em novembro de 2021.