Gestão

Sobre a prancha do saber

de Robson Garcia em 5 de outubro de 2015

Para uma análise do conhecimento por meio de um formato mais sistêmico enquanto fator-chave para manutenção do poder na(s) sociedade(s) no decorrer dos tempos, podemos começar contextualizando as sociedades conhecidas, como por exemplo, as sociedades egípcia, grega e romana. Todas, sem exceção, dominaram suas épocas devido à condição intelectual do seu povo em relação a outros e mesmo dentro de sua sociedade. Como isso pode acontecer na empresa ou no mercado em que atua?

Trazendo a reflexão para os dois últimos séculos, com a chamada “segunda onda” (Era Industrial) e, agora, a “terceira onda” (Era da Informação), percebe-se que muito provavelmente ainda estamos em aprendizado e muitas organizações ainda não conseguiram situar-se nesse contexto. Percebemos mais claramente que as injeções de conhecimento em grande volume e as nações e empresas que dominam esse conhecimento fazem a diferença e conseguem se situar na chamada “Era da Informação”, estando, assim, preparadas para a “quarta onda”.

O desafio que vivemos agora certamente é transformar essa possibilidade e disponibilidade de informação em conhecimento aplicável, tangível – e, finalmente, transformar o conhecimento tácito em explícito, que é o que realmente nos torna competitivos e sobreviventes na sociedade atual.

Conhecimento, pessoas e organizações

A divisão e a disponibilização do conhecimento de forma igualitária, para todas as pessoas nas organizações, ainda encontra forte barreira cultural? Podemos obter essa resposta de uma maneira simples quando observamos o quadro “Pressupostos dos paradigmas industrial e do conhecimento” (na página seguinte).

O fato de, eventualmente, não nos sentirmos na era da informação, ou não estarmos prontos para ela, pode ser percebido por atitudes individualistas, de manutenção do poder e status, diante da forte concorrência enfrentada na disputa de poder, seja dentro da organização ou no mercado em que interagimos.

Quando nos deparamos com algo que abre mil possibilidades, como o fenômeno econômico da globalização, também trazemos de brinde algo amedrontador, que passa a ser a acirrada concorrência com empresas do mundo inteiro. Então quer dizer que entramos na era do conhecimento em todo o globo terrestre, pois todas as empresas estarão concorrendo de igual para igual entre si em qualquer lugar do mundo porque têm disponibilidade de informação? Infelizmente, não.

Só quem cria e detém o conhecimento continuará a ter sucesso, logo, quando inseridos num contexto ainda de segunda para terceira onda (da Industrial para Informação), teremos de passar por algumas gerações antes de transpor as barreiras e paradigmas impostos por nós mesmos.

Para que tenhamos condições de competir de igual para igual com organizações modernas que detêm o conhecimento das ciências que importam para manutenção do seu negócio, é preciso investir fortemente no ativo intangível (conhecimento) que é a base para o acesso à quarta onda, a Sociedade do Conhecimento.

Dados, informações e conhecimento

Torna-se evidente que, cada dia mais, as organizações criam uma quantidade de dados muito grande. Basta olharmos para a chamada geração Y e a dificuldade de retenção de conhecimento, déficit de atenção e outras consequências diretas do excesso de informação para percebermos que o desafio de gerir conhecimento não é tarefa fácil. Por outro lado, com um pouco de esforço, percebe-se que já existem informações sobre cada um dos processos executados pelas organizações além daquelas que estão em fase de desenvolvimento que necessitam ainda de uma metodologia clara para que sejam criados e de fato disseminados na cultura organizacional.

Com a velocidade empreendida para conhecimento, vários dados ficam rapidamente defasados, mas o mais crítico para a organização é  a informação que se perde, que demandou investimento e tempo para sua construção e, quando novamente solicitada, necessita ser utilizada por um novo profissional, gerando assim novo investimento produtivo por parte da empresa.

Segundo O’Dell e Grayson (2000), existem dois tipos de conhecimento: o explícito e o tácito. O explícito é o conhecimento que, de alguma forma, já foi articulado, descrito em padrões aceitos como a linguagem escrita, por exemplo, podendo estar codificado em banco de dados. O conhecimento tácito é aquele que o indivíduo ainda não articulou e que muitas vezes nem ele mesmo “sabe que sabe” (abaixo).

Uma vez que transformamos dados em informações e informações em conhecimento, faz-se necessário tratar o desafio que é a transformação de conhecimento tácito em explícito e quanto esse novo “ativo” está escondido e deixado de lado na empresa. Mas como a organização poderá apoderar-se das informações que estão “ilhadas”, contidas por alguns profissionais que retêm esta experiência/conhecimento? Como podem ser encontrados conhecimentos já criados e que necessitam ser utilizados em dado momento?

Ganha importância aqui, mais uma vez, a necessidade de socializar conhecimento tácito por meio de fatores que podem envolver os diversos públicos da empresa – interno, externo e até concorrentes – por meio da socialização das pessoas e também das equipes e a organização do conhecimento.

A externalização do conhecimento tácito em explícito deve ser uma cultura a ser criada. Para tanto, há necessidade de patrocínio. Tudo começa no topo, com reflexos um tanto quanto fortes na geração e retenção de capital intelectual, no aprendizado, formação das trilhas de sucessão internas e também no atendimento aos clientes internos e principalmente externos.

Tecnologias, ferramentas e conhecimento

Para a realização da organização do conhecimento e do ativo poderão ser necessárias ferramentas e tecnologias que agregam valor e disponibilizam a informação nos diversos níveis organizacionais ou no momento mais adequado do processo. Atualmente, há diversas ferramentas e metodologias que exploram a difusão do conhecimento dentro das organizações. O Business Process Management (BPM), por exemplo, busca tornar o conhecimento dos colaboradores acessível a todos, de uma maneira ágil, acelerando a performance da equipe como um todo.

O cenário atual das empresas está em mudança e fortalece a disseminação do conhecimento. A maior barreira, porém, continua sendo a nossa cultura. Enquanto continuarmos presos a melhorias apenas individuais em vez de coletivas, estaremos fadados a perder o novo jogo que está iniciando. Estar preparado para a quarta onda é navegar no topo do mercado, sobre a prancha do conhecimento.

 


Robson Garcia é executivo de negócios da Lecom

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