Dorival Donadão é consultor em gestão e desenvolvimento humano |
É bastante comum as consultorias receberem solicitações de empresas que estão buscando abordagens inovadoras para seus problemas de formação e motivação de equipes. Quase sempre os sintomas comumente apontados são:
As pessoas perderam o sentido coletivo do trabalho e estão cada vez mais atuando em “ilhas”, subgrupos e áreas isoladas;
Com o tempo, esse isolacionismo acaba prejudicando a correta visão do negócio e da empresa, prevalecendo a percepção enviesada de um setor ou de uma unidade específica de negócios;
Também como uma decorrência desse estado de coisas, as pessoas têm baixo espírito cooperativo, podendo desenvolver até tendências competitivas;
Quando essas questões não são devidamente abordadas, o círculo vicioso “baixa sinergia/pouco comprometimento compartilhado” toma conta das relações interpessoais. A partir daí, prevalece o “cada um na sua”, com prejuízos para a qualidade de vida no trabalho e para o clima organizacional.
O uso do esporte como uma dinâmica de tratamento das questões de sinergia e coesão de equipes tem demonstrado ser uma experiência interessante e divertida. Até mesmo o fato de um determinado esporte ser pouco conhecido torna a dinâmica mais efetiva. É o caso do rúgbi, popular esporte inglês cuja prática é ainda incipiente no Brasil. Quais poderiam ser os benefícios da utilização dessa modalidade? Ao colocar um conjunto de profissionais de uma mesma empresa para jogar rúgbi, acontecem fenômenos curiosos e sempre muito ricos para análise posterior da experiência:
Em primeiro lugar, não há a costumeira “zona de conforto”, que ocorre quando a atividade esportiva é dominada por parte da equipe, como no futebol. No rúgbi, todos partem do mesmo ponto: o quase completo desconhecimento da prática;
Essa igualdade de condições permite que surjam lideranças inéditas, gente que, em outros contextos, não teria segurança e impulsos suficientes para comandar o jogo;
Outro aspecto marcante é que, no rúgbi, a bola só pode ser passada para trás. Essa regra quebra todos os clichês habituais porque, na maioria dos jogos, a equipe tem de avançar. O que se exige, ao contrário, é a habilidade de conjunto e de cada jogador recuar para ficar em melhor posição para receber a bola.
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As conclusões da dinâmica serão conhecidas somente durante o chamado “terceiro tempo”. É o período após o jogo e quando todos os competidores se reúnem para a confraternização. É o momento de descontração, regado a muito bom humor, já que o rúgbi não é exatamente um jogo “light”. Pelo contrário, muitas vezes a partida envolve esbarrões e encontrões nada delicados.
Equilibrados os ânimos, é a hora de fazer as pontes e conexões do jogo com a vida real nas empresas. A riqueza de possibilidades de aprendizagem é enorme e todos os participantes acabam extraindo lições e insights importantes para aplicação tanto na dinâmica das interações coletivas como na reflexão e mudança individual de atitudes.