A palestra de Rafael Souto, fundador e CEO da Produtive – Carreira e Conexões, trouxe um novo olhar sobre a dinâmica do emprego em tempos de economias de ruptura, supremacia da gestão de dados e ciclos cada vez mais curtos dentro das empresas: a trabalhabilidade. Para isso, fez uma rápida retrospectiva das principais “ondas” sobre a carreira nos últimos cinquenta anos.
Se, nos anos 60, a perspectiva era de estabilidade, entrar em uma empresa como estagiário e chegar à presidência, com chegada da reengenharia, três décadas depois, o mundo do trabalho sofreu um grande baque. A palavra-chave passou a ser empregabilidade. Um profissional valia pelo seu valor no mercado, na procura, por parte das empresas, pela sua expertise. Para Souto, hoje vivemos um momento em que o profissional é múltiplo: ele pode dar aulas, ser consultor e ter, ou não, um emprego formal.
“Hoje, um profissional é reconhecido pela sua capacidade de gerar receita para uma empresa, pelo seu ativo intelectual, seja contratado formalmente, como consultor, seja contratado para um projeto, um período, em diferentes formatos. A isso, chamamos trabalhabilidade”, explica.
Souto também acredita que diante da complexidade do mundo atual, as empresas vão precisar cada vez mais de profundidade, em outras palavras, de especialistas sobre determinados assuntos. “É a pessoa com um core muito definido, mas também com uma visão global das várias áreas da organização. E além: conectado com as tendências de sua própria área. Em nossa consultoria, percebemos que esses são os que se recolocam mais rapidamente no mercado.”
Entre os exemplos de profissionais com esse perfil, Souto destacou os contadores, que se transformaram em controladores e, hoje, caso tenham inglês fluente, são, talvez, os profissionais mais procurados no mercado. “Um profissional de RH que esteja sintonizado com HR analytics, entenda de gestão de dados, uma ferramenta cada vez mais essencial na área, também terá muito mais trabalhabilidade”, destaca.
A carreira como uma ascendência hierárquica linear também é outro modelo em extinção, segundo o CEO da Produtive. Entra em cena a “carreira em nuvem”. Uma flexibilidade por parte dos profissionais, e das empresas, de se trabalhar em áreas diversas, a depender da demanda de determinados projetos. E sem promoção de cargos, como seria a remuneração? “Esse é um ponto importante de reflexão para o RH. Mas pode ser variável, de acordo com o projeto realizado, por exemplo”, sugeriu Souto.
Segundo pesquisa realizada na Produtive, depois dos 50 anos de idade a recolocação profissional em uma empresa é muito mais difícil. Por isso, é fundamental fazer o planejamento da carreira com pelo menos cinco anos de antecedência. “Hoje, nos grandes centros, a expectativa de vida chega aos 85 anos de idade. Ou seja, depois de sair da uma empresa, são mais 20 ou 30 anos. O que fazer durante esse período? É preciso criar novas formas de trabalho”, pontuou o consultor.