Tecnologia

Um caminho sem volta

de Patrícia B. Teixeira em 4 de dezembro de 2015

As mídias sociais tornaram-se uma poderosa ferramenta de comunicação de tal maneira que é difícil imaginá-la sem elas. De acordo com o último levantamento do Facebook, divulgado no segundo semestre de 2015, a rede social já soma em torno de 1,49 bilhão de usuários. Desse montante, os acessos via celulares e tablets já chegam a 1,31 bilhão. Outro comunicador que ganhou força foi o WhatsApp, que bateu a marca de 900 milhões de usuários em setembro de 2015.

Se por um lado o ser humano nunca esteve tão conectado, acompanhando as últimas informações e, ao mesmo tempo, com a sensação de estar próximo dos amigos, por outro, as organizações têm sofrido para acompanhar as mudanças do comportamento humano. Como as empresas podem negar o uso das novas mídias? Como manter a concentração diante de tanta distração e interrupção? E se optar por manter o acesso às redes, como garantir a produtividade dos funcionários?

Segundo o sociólogo polonês Zygmunt Bauman, as pessoas deixam de viver a realidade física para se comprometer com as relações digitais, não querem se expor e se envolver com o outro. Os elos tornam-se enfraquecidos para dar lugar a uma vida imaginária, na qual as relações não são vistas de forma densa e sólida.

Bauman pode ser, em alguns momentos, pessimista diante do futuro da humanidade, mas nos faz pensar para onde estão caminhando as relações interpessoais. O local de trabalho é uma comunidade na qual pessoas se encontram todos os dias para viver e caminhar por um objetivo comum. As reuniões presenciais passam a ser substituídas por calls e videoconferências. Há organizações que ainda mandam e-mail marcando o momento da chamada. A famosa call que se ouve no mundo corporativo nada mais é que uma simples ligação. Por que não convidar seu colega para um café, ou ligar direto para ele? Perguntar como vai seu dia, sua família e dar sequência ao trabalho? A videoconferência é, sim, uma das evoluções do século, principalmente quando há uma distância significativa entre os interessados.

Esse breve pensamento de Bauman nos impede de esquecer das relações humanas. Há vidas e histórias estabelecidas lá fora. Mas as tendências e o futuro não podem ser mesmo rejeitados. Querendo ou não, as mídias sociais não vão retroceder, mas sua administração com cautela e inteligência precisa ser repensada.

Redes sociais

Indo no âmbito da história, as redes sociais existem há muito tempo, porém, o termo ficou consagrado com a internet. Há estudiosos que falam somente “redes sociais na internet”. A Igreja é um tipo de rede social, por exemplo. Sua definição contempla pessoas reunidas com um objetivo para estabelecer um relacionamento e debater um assunto de interesse comum, mesmo que tal tema não tenha tanta relevância. Sendo assim, elas ainda encontram tempo para marcar presença nos clubes, sindicatos, reuniões de pais etc.

Para Bauman (foto), as pessoas deixam de viver a realidade física para se
comprometer com as relações digitais, sem  se  envolverem com o outro

Dentro do conceito de redes sociais, você verá termos que fazem parte da sua essência como laços fortes, laços fracos e capital social. Para você entender melhor, laços fortes são determinados pela intensidade da relação estabelecida com os atores envolvidos, conquistada com confiança, tempo de relação e com nível de interação, sem considerar atributos como sexo, idade, classe social, religião etc. Os laços fracos são manifestados pelas pessoas que estão presentes naquela rede, porém, não possuem um relacionamento estreito, profundo e com interações contínuas. Isso não depende da afinidade que uma pessoa tem ou não com a outra, mas sim do nível de relação.

O termo rede social ficou mais bem difundido com a internet, pois permitiu uma maior interação entre as pessoas do mundo, independentemente do idioma, localização e suas preferências; então, posso dizer que a tecnologia permitiu que as pessoas assumissem um caráter participativo. Elas presenciam um fato positivo ou negativo, registram e transmitem para outros, que dão seu posicionamento sobre aquela situação e aos poucos se tornam multiplicadores daquele conteúdo.

Ainda em relação ao conceito de redes sociais, elas podem funcionar dentro das redes de relacionamento, redes profissionais, redes comunitárias (do bairro) e redes políticas, desde que cada uma esteja dentro das suas características. Facebook, Twitter e LinkedIn são redes sociais de relacionamento e cada uma possui suas peculiaridades.

E no ambiente corporativo?

Para a maioria das organizações, o assunto redes sociais é ainda um tabu, um mistério difícil de desvendar e encontrar o melhor caminho. Proibir ou não? Como controlar o acesso por meio do celular? Será que cabe à organização esse tipo de controle ou do funcionário que requer uma consciência que ali é um espaço de produção? Será que devemos vetar os funcionários para o que está acontecendo lá fora durante sua jornada de oito horas de trabalho? Será que limitar as relações pode comprometer o desenvolvimento do colaborador?

São tantas perguntas que movem a cabeça dos gestores que fica difícil a tomada de decisão e o consenso entre todos. Para algumas empresas, depende da cultura da organização, ou seja, como a empresa pensa, se comporta e age diante dos públicos interno e externo. Há outras que se direcionam pela missão e valores. Estas podem ser diretrizes para seguir a melhor rota, mas não existe certo ou errado nessa trajetória.

As redes sociais existem há muito tempo. Sua definição contempla pessoas reunidas
para estabelecer um relacionamento e debater um assunto de interesse comum

Para quebrar os embates em torno do assunto, a empresa Gocil Segurança e Serviços montou um comitê de ética e conduta para unificar os pensamentos da organização e o que espera dos seus 23 mil funcionários. Gestores de diferentes áreas foram envolvidos num processo de aproximadamente um ano para debater e encontrar as melhores soluções de como a empresa deve se posicionar. Um dos temas abordados foi o uso das redes sociais. Após o processo de debate e definição das diretrizes, tudo foi reunido num livreto para o funcionário entender o que se espera.

A partir do momento em que a empresa encara tal situação e promove um debate para encontrar das melhores soluções, as dúvidas são esclarecidas. Nesse caso, o presidente não determinou o que deveria ser feito, como algo impositivo. O interessante da iniciativa foi um grupo pensante trazendo soluções. Conforme o código de ética e conduta, a organização entende que “faz parte da realidade e do cotidiano dos funcionários e pode ser benéfico, pois conecta pessoas. Possibilita a troca de informações e o acesso a conteúdos importantes para o desenvolvimento pessoal e profissional. No entanto, navegar nesses sites durante o horário de trabalho provoca desatenção no colaborador e prejudica suas atividades profissionais”. Interessante notar o papel de educação que a empresa faz para trazer a consciência. Funções que requerem o uso das mídias para o desenvolvimento da função está liberado.

Redes corporativas

Outra abordagem que algumas empresas têm trazido é o desenvolvimento das redes sociais próprias, com o objetivo de tentar unir a equipe interna e fazer com que o usuário tire um pouco da frente o Facebook. Tal ação requer cuidados. Uma coisa não substitui a outra.

A rede social corporativa é uma iniciativa de integrar o público interno, mas, por ser um ambiente profissional, as pessoas tendem a não mostrar quem de fato são. Não expõem o que pensam, se comportam e o que fazem. As informações pessoais ficam superficiais com receio de a empresa vetar. É a famosa frase: “O que vão achar de mim?”.

A empresa precisa estar preparada para o desenvolvimento da rede social, uma vez que necessita estar aberta para um espaço livre de pensamento, sem discriminação e preconceito. Por outro lado, as redes sociais corporativas são ricas para o debate na busca de soluções e inovações. Conforme dito, rede social tem o objetivo de promover o debate de interesse em comum. Seguindo a teoria, é um espaço no qual posso trazer ideias de melhorias de processos, produtos, serviços etc.

Se a organização está disposta e sabe ouvir, ter uma rede social pode ser um espaço rico de ideias, sugestões e críticas construtivas para o crescimento da organização. Está preparado?


Patrícia B. Teixeira é jornalista, professora de comunicação da Business School, autora do livro Caiu na Rede. E agora? Gestão e Gerenciamento de Crise nas Redes Sociais e colunista da CBN Ribeirão

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