Gestão

Uma arte possível?

de Marcos Nascimento em 22 de junho de 2009

É interessante como nos deparamos, a cada ciclo, com temas, conceitos e nomenclaturas sobre as questões do dia a dia organizacional. Podemos citar vários, mas ficaríamos cansados e saudosistas. Confesso que, por ter passado por alguns deles e não ver muita coisa mudar, tenho um pouco de ceticismo, medo mesmo, de desperdiçar tempo, dinheiro e sonhos ao tentar implementá-los. Mas tenho esperança. E com ela aprendi a enfrentar meus medos. Em razão disso é que me atrevo a conversar sobre a chamada liderança responsável.

O fato de eu escrever este artigo, de uma cidadezinha no meio dos Alpes austríacos, é uma boa razão. Participo de um curso no qual o tema liderança é abordado de todas as formas, considerando o impacto, resultado e sentimentos por trás das decisões. Falamos de muitos ´comos´ e alguns ´ques´ e discutimos todos os ´porquês´ relacionados à arte de liderar.

Nosso grupo é formado por aproximadamente 70 pessoas tão diferentes, mas que, no fundo, têm necessidades parecidas. E todas, sem exceção, com um objetivo único: discutir o tema liderança. Analisando o contexto, isso deveria ser algo complicado, certo? Mas de alguma forma não é. A razão é simples: falamos sobre liderança responsável, e percebi que isso acabou por nos nivelar, independentemente da origem, formação, cultura ou experiência, pois nos fez todos iguais. Iguais na necessidade de endereçar o tema, na necessidade de discutir aspectos básicos das relações humanas. Isso mesmo: relações humanas, e sem nada de pieguisse nisso.

Relações humanas no sentido de sociedade, em que o homem se dá o direito e o dever de se relacionar para viver, sobreviver no âmbito familiar, social e organizacional. Liderar é relacionar-se no mais profundo dos seus conceitos. Fazer negócios (criar, construir, vender, comprar, entregar) é relacionar-se nos mais fortes dos seus sentidos (o de ganhar só ou ganhar juntos). Mas, no final do dia, o que tenho percebido é que, ao discutir esse tema, falamos de questões muito simples, como o impacto de sua decisão no futuro a médio e longo prazo, mas de forma ampla: na sua empresa, na sua comunidade, no seu país, no mundo, ou seja, na sua vida.

No final do dia, discutimos como voltar às raízes das relações que se sustentam. De fazer a coisa certa para ter resultados superiores e de longo prazo, utilizando recursos de forma eficiente e eficaz, da maneira certa, tratando pessoas de forma justa em seus sentimentos, emoções e finanças, inspirando confiança para que possamos fazer negócios mais vezes, criando relações fortes e duradouras em que ganhamos todos juntos. É ter em mente que não há jeito certo de fazer a coisa errada, e fazer disso a pedra fundamental do seu processo de liderança. É tão impactante que parece arte.

Mas onde estou, no país de Wolfgang Amadeus Mozart, comparar arte com liderança faz todo o sentido. Não fosse assim, sua liderança na arte que nos deixou não estaria presente e influenciando a rua, a cidade, o país onde nasceu, e, mais que isso, o mundo que ele ajudou a deixar mais belo. Tentemos, ao menos, deixar nossa arte para o futuro: que lideremos responsavelmente.

Marcos Nascimento é consultor educacional da McKinsey e educador

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