A pandemia da COVID-19 e as mudanças a que fomos impostos no dia a
dia estão inspirando reflexões e questionamentos sobre diversos
assuntos relacionados ao mercado de trabalho, principalmente, sobre
os modelos de liderança e produtividade excessiva. A linha tênue
entre o escritório e nossas casas não existe mais. Ao mesmo tempo que estar seguro é um alívio, liderar remotamente e conciliar tarefas domésticas com as atividades profissionais pode ser uma
jornada exaustiva.
Josh Bersin, referência na indústria global de RH e conhecido por
ditar tendências nas áreas de recrutamento, gestão de pessoas,
liderança e tecnologia, lançou o site www.covidhrpulse.com
para criar um diálogo interativo entre profissionais de RH, com
insights sobre os maiores desafios da área de pessoas nesse momento
de incertezas que estamos vivendo.
Produtividade e equilíbrio entre vida pessoal e profissional foram os temas mais abordados. Sim, o modelo de home office é efetivo. É quase unânime entre gestores e liderados.
Todos concordam que com o home office há aumento de comunicação e produtividade; porém, evidenciou-se uma fragilidade emocional em todas as pessoas.
De acordo com um estudo recente da MetLife que definiu as pessoas
como “exaustas”, o momento que vivemos causou uma “sobrecarga
cognitiva de trabalhar em casa”. Para tentar explicar esse efeito,
a pesquisa cita fatores como local de trabalho inadequado, família
presente, animais de estimação e tantas outras responsabilidades e
distrações as quais fomos obrigados a administrar atualmente.
Sem dúvida, além da confiança, nossa saúde mental também está sendo posta à prova diariamente. E está falhando miseravelmente! Antes considerados um tabu corporativo, hoje, o burnout e o estresse estão perigosamente presentes na rotina de todos nós.
Você já se sentiu mal por estar focado no trabalho e não conseguir dar
atenção para seus filhos? Acontece comigo várias vezes,
inclusive, enquanto escrevo este artigo e meu pequeno pede para
brincar. Acredito que na medida em que as atividades, como escola,
creche, ajuda doméstica, etc., forem retornando ao “novo
normal”, talvez essa carga, essa culpa, diminuam.
Em tempo, voltando às rotinas exclusivas de trabalho, julgo
essencial o feedback constante e a comunicação direta e aberta. O
cenário atual reforçou a importância de mantermos as pessoas
informadas e em um estado de segurança psicológica.
Sejam boas ou más notícias, o CEO deve estar à frente das comunicações e tratar as questões mais críticas de forma ágil, presente e
sincera. Neste aspecto, as empresas precisam contar com tecnologias
e ferramentas que se fazem necessárias.
De acordo com o artigo “Returning to work in the Future of
Work”, da Deloitte, as empresas devem alavancar a oportunidade de
retornar ao trabalho definindo o seu futuro do trabalho, aplicando
as lições aprendidas, as práticas e a força que conquistaram
durante esse período como resposta à crise.
É hora de conscientemente refletir e se apropriar daquilo que de melhor
aconteceu nestes últimos meses e semanas, incluindo os aprendizados
em seu modelo de gestão e atuação.
Algo que percebi neste período de pandemia foi que as pessoas e as
empresas se tornaram mais humanas. Vimos iniciativas como o
#NãoDemita se organizar e contar com a aderência de diversas
companhias em detrimento de um lucro maior. Além disso, percebi uma
atmosfera maior de colaboração acontecendo, movimentos de bairros
angariando recursos para ajudar quem mais necessitava do básico
ganhando força e uma preocupação genuína com o próximo.
Algo que estou vivendo e que tem rompido de vez alguns paradigmas é
que nossa empresa está conseguindo operar 100% em home office.
Entendo que isso não se aplica para todas as empresas, mas, em
nosso caso, era uma prática comum entre algumas equipes e em outras
não. Acreditávamos que não era possível esse modelo de trabalho
para 100% da companhia, o que se provou totalmente equivocado.
Umas das lições aprendidas e que já mudou completamente a nossa
mentalidade é que sim, podemos praticar o modelo de trabalho remoto
em todas as áreas. Podemos e vamos.
Mas, para que o trabalho remoto funcione e as empresas prosperem, é necessário um modelo de gestão específico. Um modelo que exige gestores preparados.
Uma pesquisa do Global Place Analytics destaca que devemos reduzir o receio de trabalhar remotamente entre gerentes e executivos. Um dos principais obstáculos do trabalho remoto é a confiança.
Gerentes simplesmente não confiam em suas pessoas trabalhando longe. Eles estão acostumados a gerenciar contando suas bundas nas cadeiras, ao invés de analisar o resultado que elas entregam. Isso não é gerenciar. É comando e controle, palavras que, definitivamente, não se encaixam mais quando estamos falando de futuro do trabalho. Afinal, olhar para a nuca de alguém não diz se aquela pessoa está realmente trabalhando.
Ter uma visão definida, com diretrizes para o ano, metas e planos de
ação para chegar ao resultado esperado é essencial, assim como
saber o que fazer, como fazer e acompanhar os indicadores com
rituais de gestão.
Tudo isso desdobrado para todos os níveis da companhia fará com que os gestores tenham as condições necessárias de acompanhar as entregas e os resultados, independentemente de onde o colaborador estiver.
Em tempos de crise, crescemos, buscamos força uns nos outros e a
liderança assume um papel essencial: adaptação ao inevitável,
além de sagacidade nas ações dos times e pensamento coletivo,
olhar para o outro.