Assim como em muitas outras categorias, profissionais de TI querem dar o melhor de si mesmos e, em geral, seus esforços tendem a ser recompensados com proventos competitivos, considerando a falta de pessoas capacitadas para atuar neste mercado. Embora isso possa ter benefícios a curto prazo para a carreira e para os negócios de empregadores, os “workaholics” são os principais candidatos ao burnout. Membros de equipe altamente motivados e assíduos podem se tornar rapidamente esgotados e desmotivados.
Em um cenário de falta de mão-de-obra qualificada, alta rotatividade e competitividade, a tendência é que a demanda de trabalho sobre os profissionais disponíveis, que já é considerada elevada no setor de tecnologia, se torne ainda mais intensa. Segundo a pesquisa The State of Burnout (O estado do Burnout) da Blind, plataforma de fóruns e comunidades profissionais anônimos, realizada em fevereiro de 2020, quase 61% dos profissionais de TI estão esgotados. As mesmas perguntas foram feitas novamente para 6.789 usuários da Blind, entre 30 de abril e 5 de maio do ano passado, para ver como a saúde mental no local de trabalho está evoluindo ao longo da pandemia e, dessa vez, 73% dos profissionais alegaram estar exaustos.
Destes, um em cada cinco profissionais disse estar esgotado pelo medo referente à segurança no emprego (19%); 20,5% sentem que têm uma carga de trabalho incontrolável; e mais de 10% dos profissionais sentem que não têm controle sobre seu trabalho. Entre os profissionais de tecnologia, o aumento foi um dos mais expressivos, passando de 59,5% dos entrevistados se considerando exaustos em fevereiro a 73% com o mesmo sentimento a partir do final de abril.
Como a saúde mental dos funcionários afeta a organização?
Funcionários felizes são a base de qualquer organização bem sucedida. Por isso, a taxa de retenção é importante – quando os funcionários estão estressados, procuram oportunidades mais desejáveis. Um estudo do American Institute of Stress revelou que 19% (quase um em cada cinco) dos funcionários abandonaram seus empregos devido ao estresse. Enquanto isso, o Brasil possui um dos maiores índices no mundo: de acordo com a Associação Internacional de Gerenciamento de Estresse Brasil (ISMA-BR), 70% da população ativa já apresentou ou possui sintomas de estresse.
Alguns recortes são necessários para mitigar problemas causados pelo estresse e promover uma cultura realmente inclusiva e acolhedora. Em um levantamento realizado pela Eurekka, maior rede de saúde mental do Brasil, foi identificado que as mulheres sofrem mais de estresse do que os homens. Elas obtiveram uma média de pontuação de estresse de 25,22 (o que é considerado alto), enquanto o público masculino contou com média de 22,30 (considerado moderado).
De acordo com o 15º Índice de Confiança da Robert Half, que entrevistou 1.161 profissionais no Brasil, 26% dos respondentes consideram que a sensação de equilíbrio entre qualidade de vida e trabalho piorou com o crescimento do home office no Brasil.
Se você está com falta de pessoal, isso coloca uma pressão tremenda sobre a força de trabalho e, por mais qualificados que sejam, sobrecarregá-los não é eficaz. Forçar os funcionários a se apressarem para concluir suas tarefas diárias resulta em mau julgamento, decisões erradas e falhas que também podem afetar os clientes.
O que está sendo feito para ajudar os funcionários e o que mais se pode fazer para ajudá-los?
Não existe um caminho específico ou uma solução definitiva para lidar com uma questão tão delicada como a saúde mental e, por isso, cabe aos gestores, como agentes de mudanças, descobrir o que não está funcionando e fornecer uma solução sustentável de longo prazo.
1. Ajude a si mesmo para ajudar os outros
Para ajudar os outros, primeiro é preciso ajudar a si mesmo. Certifique-se de que está no headspace correto. Nenhum trabalho é 100% livre de estresse, mas, ao se sentir sobrecarregado, talvez caiba reavaliar a carga de trabalho e delegar parte dela.
Em seguida, ajude os outros. É necessário estabelecer um canal aberto de comunicação com a equipe para identificar quem precisa de suporte.
Dica: caixas de sugestões e pesquisas anônimas, permitem que colaboradores expressem suas preocupações sem medo de retaliação, recebendo feedbacks honestos.
2. Preste atenção na cultura do espaço de trabalho
Em artigo publicado na Forbes norte-americana, Ashley Stahl, coach de carreira, palestrante e escritora, diz que, embora não apareça na lista do Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM, em inglês), o chamado “Sunday Scaries”, ou Síndrome de Domingo, está afligindo mais pessoas agora do que antes da pandemia e, por isso, é necessário criar um ambiente que ajude os funcionários a não temer a segunda-feira.
Segundo o estudo do ManpowerGroup – “Work For Me – Trabalho Ao Meu Ver – Entendendo a demanda dos candidatos por flexibilidade”, 41% dos trabalhadores brasileiros valorizam as empresas que possuem uma jornada de trabalho flexível. Com a flexibilização, a tendência é o aumento na satisfação e, consequentemente, nos resultados – o equilíbrio entre a vida pessoal e profissional é essencial.
Uma estrutura de trabalho horizontal com menos níveis na hierarquia dá às pessoas mais controle sobre sua função, liberdade para se expressar, chance de experimentar e confiança para contribuir com a equipe, em vez de apenas seguir instruções pré-estabelecidas.
3. Use os recursos
Os administradores devem ter uma maneira simplificada de ajudar os funcionários. Quer seja um portal de help desk ou canal de mensagens de texto, ele precisa ser organizado. Neste sentido, a criação de um sistema uniforme como primeiro ponto de contato para os funcionários buscarem ajuda, pode ser um ótimo ponto de partida.
É fundamental a disponibilização de um canal no portal de comunicação interno da empresa para que os funcionários entrem em contato com os administradores de sistemas para resolver problemas mais simples. Sendo assim, tudo o que os funcionários precisam fazer é descrever seus problemas, e um administrador dedicado entrará em contato com eles.
É possível, por meio desse tipo de plataforma, monitorar o status de solicitações e encontrar soluções adequadas rapidamente.
4. Defina barreiras claras
Funcionários não trabalham 24 horas por dia, 7 dias por semana (e gestores também não deveriam). Eles não são obrigados a responder imediatamente, especialmente fora do horário normal de trabalho. A menos que seja urgente e não haja outra opção, o ideal é fazer tudo dentro do horário comercial.
5. Dedique tempo e espaço para não discutir o trabalho
Segundas-feiras sem reuniões: muitas organizações agora estão adotando um dia na semana sem reuniões. No caso da segunda-feira, as reuniões serão adiadas para terça-feira para dar aos funcionários tempo para colocarem o trabalho em dia e se acomodarem em seus próprios ritmos.
Atividades de união da equipe: oferecer um dia de folga todos os anos para que os funcionários façam uma curta viagem de equipe é uma ótima maneira de integração e uma chance de realmente conhecer os colegas além do ambiente de trabalho.
6. Seja flexível
Um modelo híbrido agora é a maneira mais comum de realizar o trabalho, e é o modelo do futuro. Sendo eficaz e, o mais importante, inclusivo, é um divisor de águas no aumento da produtividade e dá aos funcionários a chance de equilibrar trabalho e vida pessoal.
7. Comece pequeno
A automação não é algo para se temer. É uma ferramenta e, se utilizada corretamente, pode trazer grandes benefícios para os negócios. Muitas empresas de pequeno a médio porte a evitam porque temem que seja muito complexa, mas se uma mesma tarefa precisa ser realizada várias vezes, ela pode ser automatizada. Com isso, é possível que equipes possam se concentrar em tarefas mais essenciais, em vez de repetir tarefas simples indefinidamente. A automação ajuda a economizar tempo, reduzir custos operacionais e coletar dados de qualidade que possibilitam tomadas de decisão bem estruturadas.
8. Invista em saúde mental
Investir na saúde mental dos funcionários é tão importante quanto qualquer apólice de seguro. A OMS descobriu que para cada dólar investido em tratamento para transtornos mentais comuns, há um ROI de quatro dólares em melhoria da saúde e produtividade.
Em 2020, a ManageEngine contratou o seu primeiro psicólogo interno. Pouco depois, outro psicólogo especialista foi adicionado à equipe para focar nos funcionários que trabalham em horários longos e irregulares, e os colaboradores podem buscar ajuda a qualquer momento por meio de consulta online ou presencial.
Os benefícios do exercício físico para a saúde mental também foram considerados – no escritório de Tenkasi (Índia), os funcionários podem participar de sessões de ioga com um instrutor interno e, na sede de Austin (Estados Unidos), é comum encontrar funcionários engajados em um jogo de vôlei.
O desempenho de uma equipe é um reflexo do sucesso de seus líderes. Algum tempo, em todas as semanas, deve ser reservado para fazer o
check-in com o time. Um simples e sincero “como vai você?” é mais poderoso do que se imagina.