Encontrar-se no estado de esgotamento nervoso é um passo para o motor pifar no meio da estrada. O estrago pode ser tanto temporário quanto duradouro, a depender do tempo e dos níveis de estresse experimentados e à capacidade biológica e emocional de enfrentamento. Desistir do emprego ou adoecer é algo com frequência observado nas empresas. No âmbito emocional, a despersonalização é um dos sintomas mais preponderantes do esgotamento nervoso. O profissional passa a ignorar chefes, colegas e clientes, agindo, geralmente, com cinismo e indiferença, provocando conflitos e desarmonia. Outros sintomas emocionais e cognitivos são: reações emocionais desproporcionais, hipersensibilidade ao ambiente, apatia, ironias, agressividade, irritabilidade e baixa tolerância, baixa autoestima, desmotivaçao, baixa energia, insônia, visão pessimista e de fracasso, pensamentos paranoicos, entre outros.
Em relação à saúde, podem-se observar doenças da tireoide, depressões, crises de ansiedade, insônia, obesidade, abuso de álcool, café e remédios e ansiolíticos, problemas gastrointestinais, cardíacos, enxaquecas, entre outros. Como agir diante desse problema? Algumas ações são recomendáveis:
> Buscar o autoconhecimento por meio de programas de coaching ou de psicoterapia e atuar sobre os sintomas já existentes. Fazer uso de medicação, caso indicada por profissional.
> Aceitar somente desafios factíveis, diminuir horas extras, pedir feedback de colegas e chefe, usar colegas como meio de distração melhorando o vínculo, além da prática de exercícios, gastar mais tempo em atividades de lazer e em família.
> O RH poderá designar atividades que o colaborador tenha prazer em executar, auxiliando-o a recuperar a percepção de valor, estima e satisfação, além de auxiliá-lo a melhorar e expandir seus relacionamentos interpessoais. Além disso, pode indicar profissionais especializados na área, algo fundamental quando há comprometimento funcional evidente.
Cenários desencadeadores
A exigência de resultados rápidos, horas extras, ambientes competitivos, o crescimento da indústria aliado à ausência de mão de obra qualificada estão entre os fatores relacionados ao desencadeamento da Síndrome do Esgotamento Nervoso ou Burnout.
Segundo a Portaria n.º1339/99, que inclui o esgotamento nervoso na lista de doenças e comportamentos relacionados ao trabalho, esse problema pode gerar maiores índices de Comunicação de Acidentes de Trabalho (CAT) e, pelas novas regras do Fator Acidentário de Prevenção (FAP), o aumento nas alíquotas recolhidas, impactando a folha de pagamento. Portanto, conhecer mais sobre a síndrome, as formas de prevenção e as intervenções existentes é investir em economia. Dados da União Europeia indicam gastos na ordem de 300 bilhões de dólares por ano nos sistemas de saúde e estima-se que nos EUA mais de 10% dos gestores e executivos sofram dessa condição.
Implementar algum tipo de gerenciamento de estresse empresarial é atuar de forma estratégica. Prevenir é otimizar o capital humano, auxiliando não somente na produtividade, no clima organizacional, na retenção de talentos, mas representa também economia para a empresa. Para tal, conhecer tanto os desencadeadores de estresse, como sua expressão nos indivíduos e nas relações de trabalho, além do impacto econômico, é fundamental. O conhecimento otimiza a área de gestão de pessoas. Ao detectar e intervir nos estágios iniciais de um problema, previne-se a cronicidade, a “contaminação” e a deterioração das relações do grupo.
Dentre os resultados, podemos citar colaboradores saudáveis e emocionalmente equilibrados que se sentem mais satisfeitos, produzem mais, faltam menos, têm menor turnover, promovem positivamente o clima organizacional, têm maior capacidade de aprendizado, retenção e reprodução de novos comportamentos, com concentração e criatividade otimizadas. E, por apresentarem menos comportamentos de risco, têm maior adesão às normas de segurança no trabalho. É o típico cenário do ganha-ganha.
*Maria Cláudia Bravo é consultora da Franquality nas áreas de gestão de pessoas, assessment e coaching.