Seja para empreender ou para seguir carreira corporativa, nos últimos anos o fluxo de brasileiros buscando oportunidades de trabalho no exterior tem aumentado, segundo a IE Business School. Sediada em Madri, na Espanha, e com escritórios em 28 países, a escola afirma que metade dos entrevistados citaram o objetivo de trabalhar fora como motivo para realizar um de seus MBAs.
Formado em 2015 no MBA Executivo da IE, o brasileiro Ernesto Tejo é assumiu em março desse ano a gerência de Programas de Fidelidade da TCC Global, posição que ocupa paralelamente a um projeto empreendedor desenvolvido com três colegas do MBA. Até o final do ano ele espera levar para a Espanha a esposa e o filho de cinco anos que moram no Brasil.”Eu já não via oportunidades de crescimento no curto e médio prazo onde eu estava, então fiz o MBA da IE buscando novos contatos e oportunidades de trabalho na Europa”.
Já Adriano Savelli procurou a escola espanhola para internacionalizar-se e para migrar da consultoria de negócios para a área de Recursos Humanos. Em 2009, ainda na metade do curso, foi selecionado para um programa de estágio na Philips, em Amsterdã, e meses depois foi contratado para substituir o próprio chefe na área de projetos de RH da empresa.
“A IE vai além do pensamento tradicional. O foco social, priorizando a construção de uma rede de contatos sólida, o trabalho em equipe e alunos com alta veia empreendedora chamaram a minha atenção”, conta Savelli, que coordena na matriz indiana projetos especiais de RH em mais de 70 países para a alta cúpula da BP, produtora de poliéster.
Confira as entrevistas a seguir com Adriana Gattermayr, head coach da Gattermayr Consulting, e Daniela Mendez, country manager da IE Business School no Brasil.
1. Na hora de ir para outro país, quais os cuidados o executivo deve tomar? E a empresa?
Adriana: Em primeiro lugar, ter certeza de que esta é a melhor escolha para ele no momento atual da carreira. Para isso é necessário que se tenha muito claros os objetivos de vida, em sentido mais amplo mesmo. Atualmente existe uma pressa muito grande em se fazer um MBA, um mestrado, cursos que são caros e longos, sem antes ter certeza do rumo que se quer dar à carreira. Com isso, às vezes o executivo não aproveita o curso em todo o seu potencial por falta de experiência na área, que permite a troca profunda com os demais colegas. Além disso, ocorre bastante de após alguns anos, ele descobrir uma nova área de interesse e aí sim, sentir a necessidade de estudar sobre ela para avançar na carreira. Com isso tem que ter novo gasto, nova investimento de tempo e dedicação. Estudar sempre soma, nunca é algo perdido, mas num mercado em que há escassez de recursos financeiros e de tempo, é necessário pensar estrategicamente também nessa questão. Com relação à saída do país, convém analisar diferentes fatores, tais como tipo de curso que alavancará a atual carreira ou a nova carreira que se pretende abraçar; instituições de ensino que a empresa empregadora e o mercado como um todo valoriza; que tipo de ajuda o empregador oferece financeiramente; situação atual do departamento em que está inserido e questões pessoais como família, maturidade para encarar um cotidiano completamente diferente, nível de proficiência no idioma e uma grande dedicação aos estudos. A empresa tem muito a ganhar com atualização dos seus profissionais, principalmente em experiências fora de seu país de origem. Por isso ela deve se precaver oferecendo um bom ganho de carreira para o profissional que passar pela experiência, mais do que um contrato de permanência. É claro que estando obrigado a ficar no empregador por um ou dois anos após o curso, o colaborador ficará, mas o que o mantém contribuindo com a empresa depois de desenvolvido são as oportunidades que ela oferece a ele no longo prazo.
2. Quais os erros ou problemas mais comuns nessa mudança?
Adriana: Passar um longo tempo fora do país é uma experiência de autoconhecimento e auto regulação. É comum o profissional se sentir perdido ou muito demandando pelo nível de exigência das instituições de ensino lá fora. Para que a experiência não seja um sofrimento e possa trazer o prazer da descoberta e da superação, o executivo deve pesar o que está disposto a sacrificar de sua vida atual. É muito fácil admirar um colega que tem um MBA numa instituição estrelada, mas raramente pensamos sobre as dificuldades pelas quais ele passou para ter o título. Passar um tempo fora significa abrir mão de comodidades que temos por aqui como família perto, empregada doméstica, carro na garagem e, principalmente, nossa zona de conforto. Aprender algo novo, numa língua estrangeira, requer um empenho muito maior do que um curso aqui e pode acontecer do profissional não estar num momento em que esse dedicação é possível. Sair do país como fuga de problemas pessoais, com a desculpa da atualização é outro erro bastante comum. O profissional pode até concluir o curso, mas não terá aproveitado a experiência em seu máximo, muito menos resolvido seus problemas. E certamente eles estarão lá, esperando sua volta. Há também os profissionais que descobrem que querem mudar de carreira e acreditam que um MBA na área nova resolve todos os problemas. De fato, para seguir em uma nova carreira é preciso investir em cursos na área, mas a experiência é essencial e frequentemente uma nova carreira implica em queda de nível hierárquico e poder aquisitivo. Levar tudo isso em conta pode adequar as expectativas e evitar decepções.
3. O que fazer para que essa experiência no exterior traga maior retorno para a carreira e para a empresa?
Adriana: Acredito que o planejamento é sempre um ganho. Pesquisar dentro da empresa as vantagens que um investimento deste pode ter, as possibilidades de carreira que se abrem, pode ajudar o profissional a chegar com um plano de carreira mais robusto e até uma condição melhor da que deixou. Alinhar as expectativas cria motivação e evita desconfortos tanto para empresa quanto para o colaborador. É preciso também ter em mente que fazer um MBA fora apenas porque a empresa atual paga e programar-se para deixá-la assim que o contrato acabar, não é uma posição muito profissional. Sabemos que nem sempre as empresas são justas com o colaborador e nem sempre reconhecem seu trabalho, mas é dever do executivo colocar estas coisas na mesa antes de assumir um compromisso como este. A empresa que paga faz um investimento nele com vistas ao retorno e, embora um retorno esteja garantido no contrato, moralmente é um atestado de confiança neste profissional e é importante que ele corresponda ou procure outra empresa que faça este tipo de investimento e ao mesmo tempo tenha outros requisitos que ele busca. Importante também negociar com a empresa que tipo de abertura o executivo terá para propor novas ideias e novas práticas que aprender lá fora. Nada mais frustrante para um profissional que chega cheio de vontade de trabalhar, fervilhando de novos caminhos, ser constantemente podado. A empresa, nesse caso, estará fazendo um investimento caro e sem sentido, além de correr o sério risco de perder um profissional desenvolvido e valioso para o mercado, que certamente irá levar sua expertise para a concorrência.
4. Antes de procurar um curso e especialmente o da IE, o que é preciso ter em mente? Quais os passos necessários antes do passo do MBA?
Daniela: O MBA da IE é desenhado para profissionais que atingiram um nível gerencial na carreira (mais ou menos cinco anos de experiência profissional) e high potentials que querem incrementar o currículo com uma visão de negócios mais ampla e global. No nosso campus, em Madri, há professores e alunos com um perfil extremamente empreendedor. Ou seja, pessoas que buscam causar impacto de negócios em diferentes áreas de uma empresa, do RH ao setor financeiro, ou mesmo colocar sua ideia em prática.
5 – Qual a média de investimento necessário em um MBA da IE?
Daniela: O programa principal da IE Business School é o International MBA, programa full-time, com duração de um ano. O valor do International MBA da IE está disponível mediante consulta.
6 – Quais são os motivos dados pelos estudantes brasileiros para buscar oportunidades fora do País?
Daniela: É difícil não vincular o desejo que candidatos brasileiros têm de estudarem no exterior com o momento econômico do País. Se hoje cerca de 50% dessas pessoas têm esse objetivo de carreira, cinco anos atrás, por exemplo, quando o Brasil tinha uma estabilidade política e econômica maior, esse número estava entre 10 e 20%. Contudo, é preciso frisar que o Brasil ainda atrai multinacionais interessadas em profissionais com uma visão internacional de negócio, e que ser “internacional” não está simplesmente atrelado ao fato de trabalhar fora do país, mas também a um conhecimento holístico do âmbito empresarial.