Sheila,da Marsh: os gestores ainda não compreenderam o impacto econômico das mudanças nas normas da saúde suplementar (foto: Adriano Vizoni) |
O modelo de financiamento do setor de saúde suplementar no Brasil torna inviável a manutenção dos planos pelos idosos e também para os novos entrantes. É o que acredita 43,4% dos gestores de RH de grandes companhias que participaram de uma pesquisa da Marsh sobre a sustentabilidade da saúde suplementar no país. O estudo, realizado entre agosto e setembro deste ano, ouviu 235 profissionais do mercado brasileiro, entre gestores de benefícios de empresas nacionais e multinacionais de grande e médio porte. Foi constatado que apenas 23,9% dos gestores acreditam no modelo, e 32,7% representa a soma dos indecisos ou que não sabem responder sobre a atual forma de financiamento do setor.
“Os gestores de RH das grandes companhias que operam no país estão céticos quanto ao futuro dos planos de saúde no mercado brasileiro”, afirma Sheila Clezar, diretora da Marsh Gestão de Benefícios. Grande parte das dúvidas está relacionada ao impacto da Consulta Pública nº 41 da ANS, que trata de mudanças na regulamentação de benefícios para ex-funcionários e aposentados das empresas. O governo estuda ampliar o alcance da concessão de planos de saúde para este público, mas, de acordo com a pesquisa, 26,7% dos entrevistados não sabem se as novas regas em estudo serão sustentáveis para as empresas e desconhecem o impacto nos custos. “Mesmo que o ex-funcionário ou aposentado pague os planos do próprio bolso, os sinistros são computados na conta geral da carteira dos ativos, o que traz distorções de longo prazo e problemas atuariais para as empresas”, diz a diretora. Ela ressalta que, quanto mais amplo o leque de benefícios para os desligados, maior será o problema – e isso está passando despercebido em muitas empresas.
Desde a aprovação da Lei, em 1999, muitas empresas têm em seus quadros colaboradores que já passaram do décimo ano de contribuição fixa e ganharam direito Í extensão de benefício quando inativos (aposentados) ou demitidos sem justa causa. “O crescimento da expectativa de vida da população brasileira, novos medicamentos e tecnologias são fatores que impactarão diretamente na conta das carteiras de planos de saúde”, explica Sheila, já que, segundo a lei – que deve ser regulamentada até o final do ano -, o direito ao benefício adquirido pelos funcionários é vitalício, ou seja, vão gerar mais custos para as empresas.
Mudanças, mas para melhor
Quanto Í s resoluções da ANS, nem todas são mal aceitas pelo mercado. Dos entrevistados pela Marsh, 67,2% aprovam a fixação de prazos máximos para atendimento pela ANS e acreditam que a regra melhorará o acesso e a qualidade do atendimento para os beneficiários de planos de saúde, enquanto apenas 14,9% são contrários Í resolução, embora grande parte dos participantes demonstre preocupação com relação Í qualidade dos serviços.
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Houve unanimidade entre os gestores de RH e benefícios quando o assunto foi a criação de incentivos aos programas de promoção do envelhecimento ativo e promoção da saúde. Para 76,5% dos entrevistados, a proposta da ANS representa um ponto de partida para a sustentabilidade da saúde suplementar em um país cuja população envelhece de forma acelerada. Para a diretora da Marsh, a proposta traz ganhos para todas as partes. “Ao sistema de saúde, permite que os indivíduos possam viver mais e com maior qualidade de vida, já as operadoras, poderão melhorar as práticas de gestão em saúde para oferecer assistência de maior qualidade e racionalizar custos. E, para os beneficiários, o aumento da expectativa de vida, com menos doenças e um curso de vida mais saudável”, conclui.
Judicialização da saúde Outro fator de forte impacto no equilíbrio econômico dos planos coletivos de saúde apontado na pesquisa é a judicialização da saúde. Mais de 72% dos entrevistados concordam ou concordam totalmente que o excesso de processos relacionados Í saúde prejudica o equilíbrio do sistema de saúde suplementar. Segundo levantamento parcial do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), a área da saúde tem mais de 112 mil processos – é praticamente um processo para cada duas pessoas. As ações variam de reclamações de pessoas que reivindicam acesso a medicamentos e procedimentos médicos pelo Sistema Único de Saúde (SUS), a processos de usuários de seguros e planos privados de saúde. |