No Dia do Professor, comemorado em 15 de outubro, o portal da Revista Melhor RH conversou com professor especialista em gestão educacional sobre educação
A educação é o caminho assertivo. É ferramenta, arma e um dos pilares mais importantes na construção de um mundo melhor. Talvez muitos ainda não reconheçam o poder que a educação tem de transformação social e cultural na vida de uma pessoa.
Em tempos onde a educação é colocada em segundo plano nos investimentos de um país e o professor cada vez menos valorizado, onde estamos errando? Quais as medidas a curto, medio e longo prazo para valorizarmos a educação no Brasil? Para responder estas e outras perguntas, o portal da Revista Melhor RH conversou com o professor Renato Casagrande, palestrante, conferencista, autor de livros, especialista em gestão educacional e uma das principais referências na formação de gestores educacionais na rede pública e privada.
MELHOR RH: Professor, no dia em que se comemora o Dia dos Professores, quais as razões para se comemorar e quais as que não devemos comemorar, isto é, refletindo como cidadãos e governantes?
Prof. Renato Casagrande: O professor pode ter a certeza de que o papel dele é fundamental para a transformação da sociedade. Nós não sairíamos de crise alguma sem a educação e nós não avançaríamos se não tivéssemos grandes professores em sala de aula. Portanto, o papel do professor é fundamental nesse processo de transformação da sociedade.
MELHOR RH: Por que a educação é tão importante para a construção de uma sociedade? Em quais pontos, nesta construção social, ela favorece?
Prof. Renato Casagrande: É a educação que transforma o mundo. Nós observamos há um tempo que nós saímos de uma crise, que o Brasil estava prosperando, mas nossos índices de educação ainda eram pífios. O que vimos é que todo crescimento não foi sustentado, porque infelizmente a educação brasileira ainda é frágil. Nosso sistema educacional é frágil, a nossa formação é uma formação deficiente e, portanto, nós não conseguimos sustentar um crescimento.
A certeza que temos é que somente por uma educação forte, por uma formação sólida é que conseguiremos ter cidadãos mais consciente, mais críticos e mais conscientes para avançar e fazer com que o Brasil saia desse estágio em que se encontra.
Os pontos que ela mais favorece é a formação crítica de um cidadão e a capacidade que eles têm de promover essas transformações a partir de um conjunto de competências técnicas e comportamentais estratégicas que só mesmo uma organização promovida por uma instituição educacional, ou seja, uma educação formal estruturada é que é possível conseguirmos isso.
MELHOR RH: Estamos no caminho certo de uma educação de qualidade no país, digo pensando sobre os atuais pensamentos e ideologia política do atual governo sobre a questão?
Prof. Renato Casagrande: Eu acho que temos muitas incertezas. Infelizmente, tivemos muitas oscilações. As políticas identificadas nos últimos governos e no atual, não são políticas de Estado. Muitas vezes, um grupo de governantes acaba por não valorizar as conquistas, os avanços alcançados por outros grupos. Com isso, acabamos andando a passos curtos. Infelizmente, temos muito a fazer para que a educação avance e é preciso realmente uma política educacional clara.
Nós não temos uma estratégia definida para a educação do país. Não sabemos para onde estamos indo e isso dificulta muito qualquer avanço que desejarmos.
MELHOR RH: Ainda desconhecemos do poder da educação na transformação de uma sociedade?
Prof. Renato Casagrande: Eu acredito que a sociedade ainda tem uma certa dúvida em relação com o papel da escola, visto que a escola está de certa maneira – um pouco – retardatária com relação às grandes mudanças que estão ocorrendo na sociedade. Então, nós observamos que muitos educadores estão no modelo tradicional de ensino, o que talvez, tenha deixado ou tenha dado uma percepção de que a escola realmente contribui, talvez, não tanto como de fato se proclama. No entanto, nós também observamos que sem educação e sem escola não conseguimos avançar. O que precisamos é de uma transformação na escola. Os professores precisam passar por um processo de transformação, assim como todos os métodos trabalhados na escola da atualidade.
MELHOR RH: Para você, o que precisa mudar? Quais os pontos principais para atingirmos uma educação de qualidade no Brasil? Se possível, sua opinião sobre políticas públicas e como cidadão também.
Prof. Renato Casagrande: Para atingirmos uma educação de qualidade, o primeiro passo é “tocarmos” no professor. É necessário revermos a formação, tanto a inicial quanto a continuada. A formação do professor é uma formação inadequada para a realidade de hoje, e, portanto, as universidades precisam repensar essa formação, assim como os sistemas educacionais precisam repensar essa formação continuada. Associado a isso, precisamos rever a carreira do professor que está cada vez mais desvalorizada e desejada.
Observamos que uma grande maioria de alunos que estão ingressando nos cursos de pedagogia ou nos cursos de licenciatura são alunos que têm uma formação básica bastante precária e isso tem comprometido a sua formação e, consequentemente, o exercício desses profissionais nas escolas em geral.
Acredito que a formação do professor é o principal caminho, é o primeiro passo a ser dado para que a gente possa avançar. Associado a isso, nós precisamos também de um maior engajamento das famílias, precisamos de uma gestão mais eficiente para as escolas, e precisamos, também, rever a infraestrutura desses ambientes – que também é uma infraestrutura, um modelo pedagógico do século passado, talvez, não mais condizente com a escola de hoje.
MELHOR RH: A educação pode mudar o mundo? Qual o caminho?
Prof. Renato Casagrande: A educação é a única forma de mudar o mundo, assim como disse Paulo Freire “A educação não muda o mundo, ela muda as pessoas e as pessoas mudam o mundo”.
Sem educação nós vamos para trás e indo para trás nós não vamos mudar esse mundo. Portanto, é o único caminho. Agora, como que vai fazer isso: primeiro é ter uma real valorização, indo além dos discursos e das homenagens aos professores, mas uma mudança de projeto.
Nós precisamos de uma mudança de projeto educacional estratégico que passe pela valorização da carreira do magistério, que passe por uma revisão dos espaços de aprendizagem, que passe na verdade por uma formação dos gestores educacionais, no engajamento da família e em uma conscientização da sociedade, de que, principalmente, se nós não revisitarmos a escola pública, se não investirmos em que estão aproximadamente 80% das nossas crianças, nós não vamos ter avanços no Brasil e daqui 20, 30, 40 anos vamos continuar nos queixando da violência, da miséria e estaremos sempre envoltos em uma bolha tentando nos proteger do que nós mesmos estamos formando, ou seja, ou se investe na escola pública brasileira ou nós não temos saída para crise que enfrentamos.
A transformação da sociedade, do mundo, passa por uma educação mais igualitária, mais justa e de maior qualidade.