Por Priscilla Cotti, head de People & Organization da Sandoz, divisão de genéricos e biossimilares da Novartis
A desigualdade nas relações de gênero é uma das mais evidentes em nossa sociedade. E, como não poderia deixar de ser, ela se reflete no mercado de trabalho. Em pleno século 21, ainda precisamos nos posicionar diante de um gap estrutural que remunera melhor e promove mais homens. A presença de mulheres na liderança de empresas, por exemplo, ainda é minoritária em diversas áreas.
No Brasil, a mudança do mindset pode ser lenta e gradual, mas está acontecendo. Um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), divulgado no ano passado, evidencia que, até 2030, a participação feminina no mercado de trabalho deve crescer mais do que a masculina. É de se supor, então, que com mais mulheres trabalhando, mais delas alcancem espaços importantes dentro das corporações. Queremos, sim, ocupá-los.
Da perspectiva de uma profissional de Recursos Humanos, vejo, incentivo e aplico esforços para que a jornada das colaboradoras seja tão satisfatória quanto a de um funcionário. Trago um exemplo pouco óbvio de iniciativa que implementamos na Sandoz, divisão da Novartis, onde lidero área de People & Organization.
É sabido que a maternidade impacta a vida das mulheres no mercado de trabalho. Em um contexto em que a divisão dos cuidados com os filhos pode ser um problema, com pouca presença dos pais nesse papel, aderimos à licença-paternidade de seis meses. Isso beneficia diretamente a mulher pois iguala uma possível concorrência entre gêneros na hora da contratação.
Não à toa, também na Sandoz, 44% das cadeiras do corpo diretivo são ocupadas por mulheres. Não inventamos a roda, nem estamos sozinhos. Lutar pela igualdade faz parte de uma tendência recente e bastante razoável no mundo corporativo, que defende a agenda da diversidade e inclusão como forma de aumentar o lucro das empresas.
As vantagens de um conselho diverso são amparadas por uma série de pesquisas acadêmicas e de mercado – uma delas, publicada em setembro de 2019, apontou que a presença de mulheres leva a decisões mais assertivas porque equilibram o excesso de confiança de diretores homens.
Ganhamos em competitividade.
Bom lembrar de que estamos muitíssimo preparadas para assumir as responsabilidades do mundo corporativo. No Brasil, profissionais do sexo feminino têm grau de instrução mais elevado que os homens.
A esse cenário, podemos acrescentar uma nova cultura, mais moderna, que entende particularidades – e não insiste em encaixotar mulheres em estereótipos atrelados ao lar e à família. Quem já está inserido no mundo corporativo precisa ajudar na redefinição dessa imagem, para inspirar mais de nós a seguir e acreditar na carreira.
A mesma pesquisa do Ipea citada mais acima também indicou que, daqui a dez anos, mais de um terço das mulheres em idade ativa estarão fora do mercado no país. Ainda que tenhamos muito a avançar, estamos vivendo um momento precioso de transformação, que nos exige atenção.
Não podemos esquecer que organizações são ambientes colaborativos, que demandam vários tipos de expertise. A diversidade de gênero na equipe é o que vai garantir soluções melhores e mais criativas.