Trabalhar quatro dias e folgar três é o desejo de 81% dos profissionais brasileiros, segundo pesquisa realizada pelo portal de recrutamento Empregos.com.br. Segundo o estudo, que ouviu 2.552 pessoas, outros 13% ainda têm dúvidas em relação ao modelo de trabalho e 6% acreditam que o regime não funciona. Contudo, apenas 4,9% das empresas são a favor da jornada reduzida, enquanto 25% se posicionam contra e 71,1% ainda não têm um posicionamento definido sobre o tema, segundo outro levantamento do portal, que ouviu representantes de 251 empresas cadastradas em sua base. O modelo de redução de jornada utilizado e discutido no Brasil tem sido a redução de um dia aos finais de semana, distribuindo essas horas de folga ao longo dos outros dias úteis de trabalho.
“Experiências em todo o mundo já deixaram claro o quanto esse modelo pode ser vantajoso, tanto financeiramente para as empresas, quanto para o bem-estar e a saúde mental dos funcionários. Com isso, torna-se uma importante contribuição para diminuir a incidência de quadros como o burnout. Talvez esse seja um dos maiores ganhos da jornada reduzida para a sociedade”, defende Milene Rosenthal, psicóloga e co-fundadora da Telavita, clínica digital de saúde mental.
“É um processo de adaptação e cada corporação é capaz de analisar o modelo mais conveniente para sua realidade e que seja possível de viabilizar. Mas as iniciativas já concretizadas demonstram que há processos dentro das empresas que são desnecessários e evitam uma maior qualidade de vida para seus profissionais. Revendo isso, todos têm a ganhar. Um ambiente corporativo mais saudável é benéfico para todos”, entende Milene.
Michael Citadin, cofundador e CPO da Unicorn Factory, com longa experiência na área de pessoas e culturas, avalia que “existem casos e casos, e nem sempre aumentar as horas de trabalho diária para compensar um dia a menos da semana será benéfico, O work-life balance precisa ser considerado como um todo, inclusive precisamos avaliar questões de saúde e burnout.”
O executivo ainda recomenda: “É importante pesquisar o que faz mais sentido para o modelo de negócio, já vi equipes aumentarem seu foco e por consequência melhorar a produtividade, uma vez que a quantidade de horas reduziu, mas o volume de trabalho não”.
Redução parcial desperta interesse de empresas
A Metadados, empresa de tecnologia e serviços para a gestão de Recursos Humanos, vai iniciar em novembro o programa de redução de jornada de trabalho de seus colaboradores, sem a redução de salários. O principal objetivo é garantir maior qualidade de vida a todos os envolvidos. A redução gradual será realizada em três etapas e culminará na diminuição de quatro horas por semana e um total de 20 horas mensais a menos.
A head de Pessoas da empresa, Andréia da Silva avalia a atitude inovadora como um estímulo à satisfação profissional e uma bela oportunidade para melhor colaboração entre as equipes. Ela avalia, inclusive, que com menos tempo de trabalho por semana na empresa (e consequentemente mais tempo livre para atividades pessoais) pode aumentar a produtividade. “A tendência é que haja cada vez mais um aproveitamento melhor do tempo, com estímulo à criação de modelos para otimizar a produtividade da empresa” -– reforça Andréia.
Além da redução de jornada, que começará com 18 minutos em novembro de 2022 e seguirá com a diminuição de mais meia hora em 2023 – somando 48 minutos a menos por dia – a empresa também está implantando uma nova prática: a desobrigatoriedade de “bater o ponto”. O que, na visão dos gestores, aumenta ainda mais a percepção de confiabilidade que eles têm em seus times. Na prática, será instalado o chamado “ponto de exceção”, ou seja, o funcionário deverá registrar o ponto apenas quando houver situações diferentes como atrasos, saída antecipada, horas extras ou faltas.
“A ideia é reforçarmos as relações de confiança, transparência e honestidade com as pessoas. É uma questão de amadurecimento das relações profissionais onde cada indivíduo tem compreensão sobre o seu papel no time e sua importância para o negócio. Assim, presumimos que todos estão cumprindo o horário estabelecido e apenas as exceções serão registradas” – explica Andréia.
Além de manter a mesma produtividade, ou até mesmo conquistar um ganho neste quesito, os gestores da Metadados ainda entendem que a redução para 40 horas semanais ajudará a reter e atrair talentos importantes da cobiçada área de Tecnologia da Informação. “As pessoas buscam ambientes acolhedores, inovadores e de crescimento” – afirma.
A inovação na cultura organizacional já está despertando o interesse de empresas que vem buscando conhecer melhor o trabalho da Metadados com a possibilidade de implantarem as mesmas normas futuramente.