Entrevista

Mónica Flores, presidente do ManpowerGroup Latam, comenta competências do futuro

"Precisaremos de pessoas mais criativas, com propósito, que gerem valor e que saibam utilizar a tecnologia a seu favor", entende a executiva

de Redação em 27 de outubro de 2022
competências do futuro Pchvector/ Freepik.com

Em passagem pelo Brasil neste mês de outubro, Mónica Flores Barragán, presidente do ManpowerGroup Latam, concedeu entrevista exclusiva à Plataforma Melhor RH. A empresa, de atuação global, é uma das líderes em soluções para força de trabalho nas empresas. A gestora, na companhia desde os anos 1990 e após passagem por diversos cargos no quadro mundial da companhia, comenta, a seguir, as competências profissionais desejáveis no cenário atual e em um futuro próximo, além de perspectivas para o mundo corporativo.

De acordo com o relatório do ManpowerGroup “Reboot das Competências”, indicadores de digitalização e de seus desdobramentos na pandemia aparecem mais altos para o Brasil em relação ao quadro geral. Como explicar esse movimento? Ele segue a América Latina?

A digitalização parece ter mais consequências no Brasil e na América Latina. Acredito que um pouco disso, se devem às habilidades mais difíceis de se encontrar e as mais requisitadas do século 21, principalmente no pós-pandemia. E esse impacto é observado na América Latina, porque nossos programas de estudo, em geral, são da época entre 1950 a 1970 – muito distante de nossa realidade atual do século 21, em plena era digital. Continuamos com a aprendizagem baseada na memória, com planos de estudos que não estão atualizados para a realidade de hoje. Isso acaba dificultando a aprendizagem dos jovens de hoje que, quando saem das escolas, necessitam ter habilidades adaptativas ou digitais para se integrarem rapidamente ao mundo do trabalho. 

Acredito que enquanto não modificarmos a forma de aprendizado, desde os níveis mais básicos de ensino, teremos um desafio ainda maior de integração no mundo do trabalho. E esse desafio é ainda maior em toda a América Latina. 

Além disso, outro fator característico é a crescente influência da informalidade no mercado de trabalho na América Latina, muito afetada pela pandemia e que levará mais tempo para voltar aos níveis de renda de antes, quando a tendência deveria ser totalmente inversa. 

Mónica, presidente do ManpowerGroup Latam: Muitos dos desafios da gestão de pessoas ainda envolvem engajar e motivar talentos

O pós-pandemia reserva ainda mais tecnologia para os recursos humanos e gestão empresarial? Se sim, de que tipo e em que setores? O Brasil se comportará de que forma em relação ao contexto global? E a América Latina?

Não devemos perder de vista que a tecnologia é o meio, não o fim. Precisamos de profissionais que saibam usar a tecnologia a seu favor.  Sabemos que alguns postos serão substituídos, principalmente aquelas posições operacionais, que serão substituídas por algum software, mas outras novas devem aparecer para preencher essas lacunas. Por isso, os profissionais precisam aprender outras habilidades para encontrar novas oportunidades. Hoje temos vagas não preenchidas, porque não encontramos as competências necessárias para eles.  

Por exemplo, talvez a gente não precise mais de agências bancárias, porque poucas pessoas ainda vão a esse tipo de estabelecimento, mas precisamos dos gerentes e de consultores financeiros que possam tirar dúvidas e nos ajudar em determinadas situações. Ou seja, precisamos do contato humano para essas funções.

E para onde vai o mundo além da tecnologia? A partir de agora precisaremos, mais do que nunca, de profissionais com capacidade de analisar dados e entender a maneira mais eficiente de utilizá-los nos negócios. Pessoas que saibam como otimizar os processos de vendas como experiência para os clientes. E isso só é possível por meio da interpretação de dados que podemos gerar não só em Recursos Humanos, mas em todas as áreas de uma organização. 

Que competências serão exigidas nesse cenário?

Precisaremos de pessoas mais criativas, com propósito, que gerem valor e que saibam utilizar a tecnologia a seu favor. A partir de agora, precisaremos mais do que nunca de pessoas com capacidade de analisar dados e entender a maneira mais eficiente de utilizá-los nos negócios e a quem queremos abordar. Pessoas que saibam como otimizar os processos de vendas como experiência para os clientes. E isso só é possível através da interpretação de dados que podemos gerar não só em Recursos Humanos, mas em todas as áreas de uma organização. 

Quais serão os maiores desafios da gestão de pessoas nesse contexto?

Muitos dos desafios envolvem engajar e motivar talentos. E a questão da retenção torna-se crucial, pois é cada vez mais difícil reter colaboradores, porque o mundo anda mais rápido do que as organizações. Ainda vemos empresas onde há modelos de benefícios como o seguro de vida, por exemplo. Algo que brilha os olhos de algumas gerações, mas para outras não faz muito sentido. Por isso, é necessário que empresas pensem em modelos de benefícios muito mais customizados. Uma pessoa solteira não tem os mesmos interesses de uma pessoa casada e com filhos pequenos. Agora, colaboradores buscam por empresas que complementem sua situação particular. 

As gerações mais novas também buscam por organizações inspiradoras, onde sentem que vão progredir, aprender. Sem isso, a retenção de talentos é mais difícil. Além disso, as empresas podem ter as melhores políticas de flexibilidade, modelos de remuneração variável e instalações de escritório super modernas, mas se não tiver um bom líder, as pessoas vão embora.

Hoje em dia, espera-se líderes mais sofisticados do que antes, porque agora não se espera apenas que eles saibam muito sobre algo ou que sempre tenham as respostas, mas que também tenham inteligência emocional, sejam transparentes, preparados para o digital, que deem o exemplo, que sejam humildes e, acima de tudo, humanos. O mundo mudou, assim como a liderança. 

Qual mensagem podemos deixar para que líderes corporativos se adaptem aos novos tempos?

O papel do líder sempre foi importante, mas hoje ele é fundamental. Se um líder não se adaptar ao século 21, atendendo as expectativas de seus colaboradores, eles seguirão sem ele. O líder hoje deve ser muito mais humano, mais próximo de seus colaboradores e muito mais inspirador. 

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