Invenção e reinvenção. A lâmpada elétrica de Thomas Edison foi apenas o começo para a General Electric (GE), um dos ícones mais longevos da revolução industrial norte-americana. Em 131 anos de existência, a gigante marcou presença no mercado global com soluções inovadoras nos mais diversos segmentos, fabricando desde turbinas de aviões até equipamentos médicos de ponta, como máquinas de ultrassom, imagem e ressonância magnética, isso sem falar em seus eletrodomésticos. De olho nesse “futuro” que sempre a engajou, a multinacional vive agora seu momento de reinvenção com a cisão do conglomerado em três empresas independentes, vislumbrando um crescimento mais sustentável para o trio. Uma delas é a recém-fundada GE HealthCare, a primeira das três a se tornar realidade. Há apenas cinco meses em operação, o spin-off da General Electric já nasceu protagonista em seu segmento, com mais de 51 mil funcionários espalhados pelo globo, sendo 1,5 mil só no Brasil.
Contudo, transformações como essa, além de alvoroçar o mercado financeiro, têm implicações diretas no clima organizacional, já que os principais envolvidos nessa restruturação são os próprios colaboradores. Para ampará-los nessa nova jornada, a GE HealthCare fez da comunicação interna um potente canal de troca de informações confiáveis, ampliando de forma orgânica o diálogo entre empresa e colaboradores. Afinal, uma reinvenção dessa amplitude precisaria ser bem alicerçada para dar certo. Filipe Xavier, diretor de Comunicação e Marketing da companhia na América Latina, conta que um dos principais desafios nesse período foi trabalhar o sentimento de pertencimento em um cenário de divisão e surgimento de uma nova empresa. “É um sentimento invisível, mas que nessas horas fica muito latente: o orgulho em pertencer. Você trabalha numa empresa que é uma das maiores do mundo. Tem prestígio, é reconhecida como uma fábrica de líderes e também como uma das mais éticas. Então, como fazer com que os colaboradores se sintam parte dessa nova empresa e mantenham a mesma motivação de antes? Como manter a relevância desse sentimento? Foram essas as perguntas que fizemos há mais de um ano”, revela o diretor, citando o orgulho que os funcionários sentiam por fazer parte da história da General Electric. Apesar de ser novidade no mercado, a GEHC tem em seu DNA a mesma inovação e credibilidade que a GE cultivou ao longo desse século, duas características que seguem pujantes nos valores da nova empresa.
A comunicação como fundamento
Assim que o plano de divisão foi anunciado, os times globais de comunicação e RH entraram em ação para identificar as ações prioritárias para a transição, assim como os atributos que seriam trabalhados de forma mais intensiva para que os colaboradores participassem efetivamente daquela grande novidade que estava por vir. “Trabalhamos o ano de 2022 inteiro olhando para o colaborador. Era preciso entender o que estava acontecendo, que esse movimento iria resultar na maior medictech do mundo”, resume Filipe. Segundo ele, tudo foi pensado para engajar seus milhares de funcionários em torno dessa empreitada que estava sendo concebida em conjunto com eles. “Esse envolvimento de todo mundo ao redor do que estava por vir foi uma fortaleza para nós. Estávamos criando juntos essa nova empresa.” Essa segurança citada pelo diretor de Comunicação e Marketing teve como fundamento a transparência. Para abordar a mudança de forma esclarecedora e evitar ruídos, a comunicação interna lançou mão de materiais explicativos que foram divulgados no mundo todo em pelo menos 20 línguas diferentes, além de disponibilizar um portal com conteúdo voltado à transição. Foi uma resposta necessária para os possíveis rumores que poderiam surgir nos corredores da empresa. “É um que fala daqui; outro que ouve uma notícia dali. A especulação ficou muito forte, e as pessoas falavam ‘nossa, mas eu vou deixar de fazer parte da GE’ e questionavam o que iria acontecer com a felicidade corporativa”, relata.
Ao mesmo tempo, por mais que o momento exigisse cautela, a comunicação conseguiu construir uma narrativa poderosa voltada ao colaborador, que evoluiu enquanto a separação se concretizava. Filipe Xavier conta que primeiro foram divulgadas as informações dos períodos em que iriam acontecer a separação dentro de cada área, como um roadmap do processo. Os próximos passos foram compartilhar entre os funcionários os atributos que seriam mantidos na nova empresa, como o DNA de inovação, e apresentar seus próximos investimentos como forma de enfatizar o comprometimento com o futuro. Antes mesmo da separação, foi anunciado um investimento de US$ 1 bilhão em novos produtos para 2023, sinalizando aos funcionários as oportunidades que estavam por vir. Por conta disso e também pelo bom momento que a GE HealthCare experimentava enquanto negócio nos últimos anos, o diretor de Comunicação e Marketing da companhia revela que a cisão não representou um grande risco à motivação de seus funcionários. Mesmo assim, aponta Filipe, houve a preocupação de ressaltar os benefícios inerentes a essa nova empreitada por meio da comunicação.
Reinvenção com transparência
Como forma de envolvê-los ainda mais na concepção da GEHC, a partir de 4 de janeiro, quando a companhia entrou oficialmente em operação, os seus 51 mil funcionários passaram a ser chamados de “fundadores” como forma de estreitar os laços com a nova empresa que acabava de surgir. Cada um deles, inclusive, recebeu no day one um kit de fundador contendo uma mensagem do CEO global e uma moeda especial, como símbolo da sua contribuição nessa nova jornada. Para Filipe, essa sensibilidade forjada pelas altas lideranças e propagada pelos setores de RH e comunicação interna teve um efeito imediato nas pessoas. Ao conduzir a reestruturação com transparência, as lideranças da GE HealthCare ampliaram o diálogo com o colaborador, imprimindo credibilidade em cada informação que era divulgada internamente. A General Electric, desde o princípio, sempre teve em sua liderança um dos pilares da comunicação com o colaborador. O líder, exemplifica Filipe, é uma figura atuante, comunicativa, que celebra os resultados e trabalha para que as necessidades da empresa se concretizem. “Esse papel é muito intenso aqui, e os funcionários esperam da liderança essa postura. Não tinha como ser diferente aqui”, conclui.
A atuação dos gestores como multiplicadores dessas informações foi igualmente importante para assegurar a veracidade do que era comunicado na empresa e pela empresa, atuando como verdadeiros influenciadores internos. Na palavras de Filipe Xavier, os People Leaders, como são chamados, foram fundamentais para reforçar, esclarecer e dar consistência à comunicação. “Nesse período de spin-off, amplificamos esse canal porque sabíamos que no final do dia não teria como estarmos em todos os lugares. Sempre que alguma informação era divulgada, indicávamos que, em caso de dúvida, o funcionário procurasse seu people leader.” Não à toa, os gestores são devidamente preparados com material específico e a antecedência necessária para que possam esclarecer dúvidas com propriedade.
“Criar um mundo onde o cuidado com a saúde não tenha limites”
Para se ter ideia, antes mesmo da cisão, um estudo interno indicou que a GE HealthCare não deveria mudar seu nome por conta dessa afinidade do funcionário. Mas, ao mesmo tempo, algumas mudanças foram implementadas na logomarca justamente para colocar em evidência o seu novo propósito, agora focado em soluções em saúde e não somente em equipamentos médicos.
“Ele tem um senso de pertencer muito forte, é um propósito pelo qual você quer trabalhar”, reflete Felipe. Até o azul da logomarca antiga deu lugar ao roxo, uma cor mais quente e humanizada que também proporciona mais conexão entre marca, empresa e pessoas. “Quero que todos os funcionários da América Latina saibam desse propósito e se conectem.” Apresentar a nova marca aos colaboradores foi um desafio desde o início e nos próximos meses não será diferente, uma vez que é fundamental perpetuá-la dentro da empresa.
Na prática, a GE HealthCare segue atuando em seu segmento nativo, mas de forma mais especializada e independente. Entretanto, segundo Filipe Xavier, mudar a mentalidade de uma empresa que se relacionava com outros públicos como a General Electric é uma transformação significativa, considerando que também houve uma mudança de capacidade. “Há pouco tempo, a GE Healthcare fornecia equipamentos. Com a mudança, passamos a perceber o nosso valor, as nossas capacidades e a riqueza do nosso portfólio. Agora, essa nova empresa fornece soluções que contribuem para o crescimento sustentável da saúde. É um mindset diferente.”
Realizações em pauta na comunicação
Além do material complementar a respeito da divisão, os colaboradores acompanham tudo o que acontece dentro da corporação por meio de duas newsletters semanais. São dois canais constantes de informação: o primeiro é focado em conteúdos relevantes aos funcionários, como carreira, desenvolvimento, negócios, diversidade e inclusão; e o segundo celebra as realizações da empresa e dos colaboradores. O “celebrate together”, conta Filipe, funciona como uma ferramenta de engajamento e reforço dos atributos que precisam ser fortalecidos dentro da nova empresa. “Usamos nossos próprios canais que já são sólidos de uma maneira inteligente para servir como reforço e trazer relevância para a cultura da nova empresa”, conta.
Ao celebrar as conquistas, a GE HealthCare promove bem-estar entre seus colaboradores, e isso, como bem diz o diretor de Comunicação e Marketing, tem tudo a ver com o propósito da companhia. Sendo uma empresa da área da saúde, faz parte dos seus valores cuidar igualmente da saúde de quem faz parte dessa jornada. “Não faria sentido ser diferente disso. O colaborador trabalha aqui e eu quero que ele seja o melhor que puder. Esse é o olhar que a gente tem. O foco são as pessoas”, finaliza.