Segundo levantamento da Think Work, 87% das mulheres no Brasil já passaram por uma crise emocional, sobrecarregadas com suas jornadas. Já de acordo com o IBGE, as mulheres dedicaram 9,6 horas semanais a mais, em relação aos homens, no ano passado, para a realização de trabalho não remunerado, o que contribui para essa sobrecarga. Já especificamente no mundo do trabalho, apesar de avanços, as coisas não andam fáceis para elas.
Esses dados foram enfatizados por Janine Goulart, sócia líder da área de People Services da KPMG e Vice-presidente da Associação Brasileira de Recursos Humanos Seccional São Paulo (ABRH-SP), na abertura da 8ª edição do LIFE – Liderança Feminina em Movimento, nessa quarta-feira, 13. O evento, criado em 2016 pela entidade para debater os principais assuntos corporativos do momento, teve como tema “Mulheres e a construção de um futuro sustentável – Do discurso para a prática”. Foi realizado no hotel Pulmann, na capital paulista, com uma extensa programação, que trouxe reflexões sobre o papel da mulher na construção da sociedade e de organizações comprometidas com sua sustentabilidade, na presença de inúmeras lideranças femininas e também masculinas, das principais empresas do País.
Outro dado alarmante, destacado do mesmo levantamento da Think Work por Janine, foi que mais de 1/3 das mulheres afirmam que já deixaram de ser contratadas ou promovidas por conta da parentalidade – e quase 20% foram demitidas por isso. A liderança também não é delas e entre mulheres negras a situação se agrava: segundo o Instituto Ethos (dados de julho/23), atualmente, temos apenas 4,7 % de mulheres negras em posições de liderança.
“Ainda existe um caminho muito longo para alcançarmos a equidade de gênero e infelizmente, a evolução tem sido muito lenta. Precisamos sair do discurso e partir para a prática imediatamente. Impactar positivamente outras mulheres é papel de todos nós”, pede a executiva. “Precisamos aprender e nos desenvolver com relação a diversidade, equidade e inclusão como um todo. Todos têm sempre o que aprender e com relação a DEI (diversidade, equidade e inclusão) não é diferente”, destaca, ainda, a Vice Presidente da ABRH-SP. “Não há dúvidas que um lugar a mesa já não é suficiente . É importante que as mulheres sejam realmente ouvidas, respeitadas e que a inclusão seja realmente verdadeira.”
Luiz Eduardo Drouet, fundador da Prosper Tech Talents e Presidente da ABRH-SP, ressaltou como ponto positivo do evento evoluir na discussão sobre equidade feminina ao longo de suas edições, intensificando a “capacidade de mobilização” da entidade “para atrair lideranças empresariais e representantes da comunidade de RH” para o debate. “Como o tema desta edição provoca, além de debater mulheres e a construção de um futuro sustentável, queremos sair do discurso e avançar as práticas nas organizações para ampliar o impacto na sociedade”, intenciona o executivo.
Temática de destaque
Parte da curadoria do evento, Luciana Camargo, Vice-presidente Global de RH, Liderança, Desenvolvimento e Inclusão da IBM Consulting e Diretora Consultiva da ABRH-SP, conta que a escolha foi por “temas que são da nossa realidade hoje, mas que se a gente não olha com muito carinho e profundidade, vão impactar o nosso futuro”. Segundo a executiva, os painéis se aprofundaram nos dilemas individuais, femininos, relacionados a escolhas, conflitos, desafios da saúde emocional, microagressões no ambiente de trabalho e autocuidado, entre outros.
Sobre equidade e inclusão, “a gente sabe que é um desafio para recursos humanos sem o envolvimento dos líderes, e resolveu fazer um painel dedicado às altas lideranças. Debatemos sobre os desafios das interseccionalidades e concluímos que precisávamos discutir o tema sem rodeios”, pontua Luciana, sobre a abordagem, com intuito de fazer o alto escalão avançar na discussão e na agenda sobre esses assuntos.
“Queríamos muito tratar o papel das mulheres nas comunidades e tudo o que gera impacto econômico e roda a economia e que faz com que as elas tenham um impacto enorme no mundo”, destacou a executiva, mencionando o tema debatido no evento por Daniela Cachich, responsável pela unidade de negócios Future Beverages e Beyond Beer na Ambev.
“A gente realmente queria trazer uma pauta profunda com questões que não são novas, mas que requerem um olhar mais profundo e uma reflexão sobre como as mulheres podem entender que esses desafios ainda existem, como tratar esses desafios e como se sentir forte para impactar o mundo”, finaliza Luciana, certa de que o objetivo foi cumprido.