BlogaRH

A mudança é uma constante, cada vez mais impulsionada pelos avanços tecnológicos 

E quanto mais tecnológicas forem as tendências, mais relevantes serão os profissionais que compreendem as múltiplas camadas dos fatores humanos nas organizações

de Fabiano Rangel em 15 de abril de 2024
Rawpixel.com, via Freepik

O mundo está em constante evolução e com mudanças ocorrendo em ritmo acelerado. Além das diversas categorizações geracionais, como Baby Boomers, X, Y, Z ou Alpha, estamos vivenciando uma geração comum: a geração T de Transição. Seguimos imersos em um contexto de transformações em diferentes aspectos ao mesmo tempo, como as mudanças climáticas, culturais, sociais, tecnológicas, econômicas, políticas e até mesmo fisiológicas, considerando o aumento significativo da expectativa de vida, impulsionadas pelos avanços da medicina e biotecnologia.

Contudo, a tecnologia é um fator comum, que se faz cada vez mais presente na transformação e adaptação de todos estes contextos, tanto na sociedade quanto nas organizações. Assim, seja você um empreendedor, líder ou não dentro de uma organização, é provável que, em algum momento já tenha ouvido falar do Festival SXSW (South by Southwest) e isso, independe de sua área de atuação, seja Tecnologia, Inovação, Recursos Humanos ou qualquer outra área de negócio ou transacional, se não, logo mais vai se deparar com alguma informação a respeito.

O SXSW é um evento anual que acontece desde 1987, no mês de março, em Austin, Texas. Inicialmente centrado na indústria musical e evoluiu ao longo dos anos, incorporando as indústrias do audiovisual, tecnológica e de mídias interativas e nos últimos anos, ampliou ainda mais seu escopo e ganhou notoriedade global. Atualmente, o SXSW é conhecido como o Festival da Inovação, onde as tecnológicas emergentes e as mudanças em diversas camadas da sociedade, empresas e ecossistemas de negócios são apresentadas e mais, o festival hoje tem uma capacidade ímpar de antecipar as tendências de um “futuro” próximo e tangível.

Neste ano, um dos pontos altos foi o painel da futurista e CEO do Future Today Institute (FTI), Amy Webb, que apresentou o relatório “Emerging Tech Trend Report 2024” (acessível em www.futuretodayinstitute.com/trends). O documento de quase 1.000 páginas descreve cerca de 700 tendências tecnológicas, agrupadas em 16 grandes categorias, abrangendo boa parte das atividades econômicas e sociais. Amy destaca que estamos diante de um super ciclo tecnológico, impulsionado por três grandes áreas: 1) inteligência artificial; 2) ecossistemas conectados às coisas; e 3) biotecnologia.

Um super ciclo, é um conceito emprestado da economia e define um período prolongado no tempo, com potencial disruptivo sobre os níveis de demanda, preços e oferta, podendo acarretar mudanças substanciais nos fluxos econômicos. Essa convergência das áreas primárias da tecnologia, pode ser aplicada de forma combinada ou isolada, ampliando significativamente o seu potencial de disrupção aos padrões conhecidos.

Isso muda tudo, em especial a escala e a velocidade. Anteriormente, já testemunhamos outros ciclos de evolução tecnológica, mas impulsionados por tecnologias únicas e também de propósitos gerais, como o motor a vapor, os computadores e a internet. No entanto, agora estamos vivenciando uma convergência de três áreas primárias sustentadas pelas tecnologias computacionais, escaláveis e com alto potencial de desenvolvimento e adaptação, incluindo programações por linguagem natural e também, com todo o potencial de aplicação em propósitos gerais.

Esse contexto, altera de forma significativa nossas percepções sobre o presente e o futuro. As mudanças não são mais vistas como algo distante ou possíveis; elas estão acontecendo a todo momento, unificando-nos na chamada geração da Transição. O principal desafio não é mais o “quando”, mas sim em que estágio as mudanças já ocorrem e como seguirão evoluindo. Se anteriormente falávamos em um mundo VUCA (Volatility, Uncertainty, Complexity, Ambiguity) ou BANI (Brittle, Anxious, Non-Linear), agora nos deparamos coma evolução deste contexto, que Amy Webb, com base em suas interações globais com CEOs e líderes empresariais, denominou de FUD (Fear, Uncertainty, Doubt).

Assim, o principal desafio, especialmente para os profissionais de RH que buscam atuar dentro de um escopo mais estratégico, é compreender o atual contexto de negócios e a influência das mudanças presentes e futuras. Em um cenário marcado por medo, incertezas e dúvidas intensas, precisamos estabelecer uma conexão direta com as lideranças e as pessoas, apoiando-as em seus processos de desenvolvimento, e adaptação às mudanças. Diante da complexidade atual, os desafios organizacionais serão inúmeros e possivelmente, afetarão mais os processos decisórios. O que por sua vez, tendem a afetar a capacidade de gestão da mudança, resiliência e adaptação organizacional. 

Ainda sobre os processos decisórios, a insegurança decorrente da falta de compreensão do todo, pode nos levar a três extremos prejudiciais: inação; repetição do passado – por  falta de referências e desconhecimento do futuro nos levando a buscar a zona de “segurança” -; ou uma mentalidade de “paranoia” da sobrevivência – resultando em decisões conflituosas de curto prazo, que podem corroer valor do negócio e minar o clima organizacional. Qualquer destas situações tem o potencial de comprometer “silenciosamente” o futuro das organizações, por restringir sua capacidade de adaptação e resiliência.

Não surpreende que o tema da governança tenha se intensificado com a agenda ESG. Essa demanda vai além do cumprimento de diretrizes ambientais e sociais; ela também se destina a proteção das organizações contra as fragilidades humanas e a promoção de um desenvolvimento amplo e intenso das pessoas, envolvidas na gestão mais estratégica do negócio, onde as empresas, no seu contexto institucional, certamente, têm perspectivas duradouras de geração de valor e propósitos maiores, superando as pessoas que as dirigem.

Da mesma forma, ao considerarmos o potencial tecnológico emergente, podemos concluir que o maior desafio já não é mais o tecnológico, mas sim humano. Os seres humanos devem definir as diretrizes para os rumos desejados do desenvolvimento tecnológico e determinar a ética que guiará esse caminho, em suas diversas dimensões e aplicações.

Por fim, quanto mais tecnológicas forem as tendências, mais relevantes serão os profissionais que compreendem as múltiplas camadas dos fatores humanos nas organizações, para entender, orquestrar e apoiar todas as adaptações e evoluções necessárias, diante do atual momento de transição que estamos vivenciando neste super ciclo tecnológico.

Compartilhe nas redes sociais!

Enviar por e-mail


Fabiano Rangel

Profissional com larga experiência em consultoria e vida executiva contribuindo em organizações multinacionais e nacionais como: Fundação BankBoston; Banco ABN AMRO Real; CPFL Energia e Leão Alimentos e Bebidas (joint venture do Sistema Coca-Cola Brasil), em áreas de RH, D&I, ESG, Governança, Relações Institucionais e Governamentais, Ética & Compliance, Direitos Humanos, Gestão de mudanças e transformação organizacional; Jurídico; Ética & Compliance e Tecnologia e informação, incluindo os processos de transformação digital; Gestão de Riscos Corporativos, Q+EHS (Qualidade, Saúde e Segurança Ocupacional e Meio Ambiente). Formado em direito, pós-graduado em Meio Ambiente e Sociedade, Especialista em Gestão de Mudanças e Transformação Digital e com MBA em Marketing e Inovação.