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Você já ouviu falar do Abril Verde? Mês chega ao fim, mas sua mensagem, não

Quando se trata de saúde e segurança no trabalho, a prioridade deveria ser sempre absoluta. Infelizmente, nossa história acumula páginas indesejáveis, mas também oferece lições valiosas que continuam evoluindo

de Fabiano Rangel em 30 de abril de 2024
Freepik.com

O mês de abril é especial e nos convida a reflexões profundas para além de datas, formalidades, normas e protocolos de saúde e segurança no trabalho. Cuidar das pessoas em seu ambiente laboral, independentemente do tipo de trabalho que desempenham, deveria ser um princípio ético fundamental, priorizado tanto pelos empregadores quanto pelos empregados.

Arrisco afirmar que a ‘fotografia de sucesso’ se dá pelo cumprimento de alguns requisitos básicos: o tema é invariavelmente verbalizado e tratado pelas lideranças e principais executivos da organização? Existem indicadores de ocorrências e estes são apurados e, preferencialmente, baixos ou inexistentes? Existe um reconhecimento legítimo por todos os níveis de funcionários, fornecedores e clientes da organização sobre seus compromissos e práticas com a saúde, integração e segurança das pessoas? Se a resposta for sim para as três questões, ótimo! Estamos no melhor caminho.

Há anos, os protocolos para garantir condições laborais seguras e saudáveis vêm se desenvolvendo e, em 2003, a OIT (Organização Internacional do Trabalho) instituiu o dia 28 de abril como o Dia Mundial em Memória das Vítimas de Acidentes de Trabalho. A data homenageia os quase 100 trabalhadores que perderam a vida em uma explosão na mina de carvão de Farmington, na Virgínia (EUA), em 1968. Desde então, esse evento, que infelizmente não foi o primeiro na mina, vem impulsionando revisões nas normas de segurança em diversos setores.

Em 2024, a OIT destacou o impacto das mudanças climáticas na saúde e segurança no trabalho como mote de reforço para o Abril Verde, considerando os desafios das mudanças climáticas e seus efeitos adversos nas condições de trabalho. Vale conhecer a campanha: [link]. Dado que a nova realidade, sobre efeito das mudanças climáticas, aumenta o estresse térmico, a exposição intensa à radiação UV (ultravioleta), a poluição atmosférica mais intensa e a proliferação desequilibrada de vetores biológicos. Além disso, ainda intensifica outros riscos industriais associados à deterioração de materiais e uso inadequado de produtos químicos. Tudo isso, visando a evolução das atividades econômicas, em meio aos desafios de adaptação e transições dessa ‘nova’ realidade climática, impondo novos riscos e desafios para a gestão do trabalho.

Isso explica, em certa medida, o maior interesse sobre a agenda ESG, que tem no ‘E’ a saúde e qualidade de vida e no ‘S’, entre outros temas, uma atenção específica sobre os direitos humanos fundamentais e dentro deste, temos parte das diretrizes universais da saúde, segurança ocupacional, estabelecidas pela OIT, de vínculos direto ou indireto sobre os demais elos da cadeia de custódia de uma organização. Essa dinâmica compõe a perspectiva do chamado bem-estar social e coletivo, materializado em critérios objetivos.

No Brasil, observamos avanços nessa agenda, conforme dados do Observatório de Segurança do Trabalho, iniciativa do Ministério Público do Trabalho, que registrou uma redução de 25% na relação de notificações de acidentes no trabalho entre os anos de 2012 (cerca de 720 mil) e 2022 (cerca de 540 mil). No entanto, ainda enfrentamos grandes desafios, como evidenciado pelo elevado número de acidentes e óbitos no período.

Pela base de dados, também é possível concluir que temos grandes desafios e preocupações sobre a efetividade dos nossos avanços nos ambientes organizacionais. Dado que, de 2012 até abril de 2024, o Brasil registra 7.5 milhões de acidentes, cerca de 55 mil por mês neste período e destes, quase 29 mil resultaram em óbitos. Portanto, perdemos cerca de 2.5 mil vidas por ano potencialmente evitáveis, por motivos laborais. Com esses números, nossa taxa de fatalidade é de 7 casos por cada 100 vínculos trabalhistas, considerada alta.

Só pela possibilidade de evitarmos estes números, o tema sempre deveria ser uma prioridade zero nas empresas. Agora, vamos somar os impactos financeiros diretos e indiretos. Em nível macro e em tempo real, o Observatório demonstra que de 2012 a 2024, perdemos mais de 515 milhões de dias de trabalho e o INSS precisou ‘gastar’ aproximadamente R$153 milhões em pagamentos, por afastamentos, indenizações e pensões por motivos de saúde e segurança laboral.

Contudo, esses números representam apenas uma fração macro dos custos, mas que no nível micro, podem ser mensurados de acordo com a realidade de cada negócio. Em uma abordagem geral, podemos: avaliar variações da alíquota do RAT (Risco Acidentário do Trabalho) no cálculo da folha de pagamento e correlacionar estes, com as ocorrências internas; apurar elevações na taxa de sinistralidade da assistência médica com os afastamentos e acidentes; avaliar a produtividade por dias perdidos, redundâncias para cobrir ausências ou mesmo deterioração do clima, já que um ambiente insalubre e inseguro afeta diretamente a eficiência laboral; avaliar qualitativamente os passivos trabalhistas majorados por questões de saúde e segurança; entre outros fatores.

Essas correlações nos permitem identificar a contribuição estratégica que os profissionais de RH podem ter sobre essa agenda. Partindo do básico, como programas de educação em segurança para todos os níveis, uma vez que não aprendemos sobre isso nas escolas e universidades, quanto na revisão dos processos de “talent” seja no desenvolvimento das lideranças, para a construção de ambientes de confiança, conforme preconiza as novas visões de segurança, ou mesmo nos processos de recrutamento, promoção e movimentações. Afinal, investigar o nível de compromisso das pessoas com a segurança à partir da sua rota de desenvolvimento é um ótimo primeiro passo.

Logo, resultados construídos a qualquer custo, expondo pessoas a riscos e fadigas evitáveis, podem até aparecer de forma positiva no curto prazo no “botton line”, mas serão cada vez mais questionados se estes são mesmo sustentáveis ou se estão construídos, deixando um legado de corrosão sobre valores humanos e financeiros no médio e longo prazo. Aqui, sempre é válido reforçar, empresas e seus resultados são feitos por pessoas e para o “bem-estar” das pessoas e não pela ‘exploração e exposição’ das pessoas. Portanto, sugiro a todos os profissionais de RH a participarem ativamente na ampliação da percepção e relevância do tema, integrando-o de forma transversal nos processos de RH. O Abril Verde é uma oportunidade para revisão, atenção e ampliação desse importante tema. Concorda?”

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Fabiano Rangel

Profissional com larga experiência em consultoria e vida executiva contribuindo em organizações multinacionais e nacionais como: Fundação BankBoston; Banco ABN AMRO Real; CPFL Energia e Leão Alimentos e Bebidas (joint venture do Sistema Coca-Cola Brasil), em áreas de RH, D&I, ESG, Governança, Relações Institucionais e Governamentais, Ética & Compliance, Direitos Humanos, Gestão de mudanças e transformação organizacional; Jurídico; Ética & Compliance e Tecnologia e informação, incluindo os processos de transformação digital; Gestão de Riscos Corporativos, Q+EHS (Qualidade, Saúde e Segurança Ocupacional e Meio Ambiente). Formado em direito, pós-graduado em Meio Ambiente e Sociedade, Especialista em Gestão de Mudanças e Transformação Digital e com MBA em Marketing e Inovação.