Nos últimos anos, o conceito de parentalidade tem ganhado destaque nas discussões corporativas. A participação ativa dos pais na criação dos filhos é considerada um fator essencial não apenas para a harmonia familiar, mas também para a construção de um espaço de trabalho mais inclusivo e diversificado. Para que essa realidade se amplie, a percepção é a de que é fundamental que os executivos compreendam a relevância de seu papel tanto em casa quanto no mundo corporativo. E entendam, através dos diversos exemplos existentes, que carreira e parentalidade são uma combinação positiva.
Em uma primeira esfera, a normativa, discute-se como essa relação pode se intensificar: apesar de a licença-paternidade ser um direito consagrado pela Constituição Federal desde 1988, sua aplicação e extensão ainda são limitadas, refletindo uma desigualdade nas responsabilidades parentais e afastando pais da possibilidade da harmonia familiar e dos benefícios de vida e profissão trazidos pela parentalidade. Recentemente, um projeto de lei que visa expandir a licença-paternidade está em tramitação na Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa.
Na esfera familiar, um dado alarmante talvez possa convencer pais da importância de seu papel: a escuta de jovens entre 13 e 17 anos do projeto “Meninos: Sonhando os homens do futuro”, do Instituto PDH, revelou que 60% dos meninos no Brasil não têm referências masculinas positivas, o que torna ainda mais urgente a presença de pais ativos.
Essa realidade tem impacto direto no universo corporativo – durante evento recente sobre o tema, Leonardo Piemonte, especialista em parentalidade, alerta que a falta de modelos de paternidade positiva e a ausência de pais preparados para tratar questões emocionais dos filhos têm relação direta com a lentidão nas mudanças efetivas nas culturas organizacionais sobre o tema.
Ainda na esfera organizacional, refletindo a importância de exemplos e Pedro Pittella, diretor de Pessoas e Cultura da Sanofi, destaca a importância da compreensão masculina sobre seu papel na promoção da diversidade. Na posição de líderes, esses pais conscientes podem transformar a relação entre empresa e a parentalidade, entre pais e suas famílias e carreiras, contribuindo para agregar singularidades e humanidade à cultura corporativa.
“Ao entender a importância de seu papel, os homens podem liderar pelo exemplo, promovendo políticas inclusivas, como a licença parental estendida que implementamos na Sanofi, que permite até seis meses de afastamento, independentemente do gênero ou modelo familiar”, ressalta Pittella. A Sanofi, oferece até seis meses de licença parental, independentemente do gênero.
Cris Kerr, CEO da CKZ Diversidade, acrescenta, por sua vez, que líderes que se comprometem com a diversidade podem engajar suas equipes de maneira genuína e positiva. “A transformação da cultura social e organizacional começa pelo exemplo das altas lideranças, eles têm o poder de gerar engajamento para a diversidade e inclusão nas organizações, seja para melhorar e colocar em prática as políticas de licença paternidade ou para envolver suas equipes nos tópicos de DIEP – Diversidade, Inclusão, Equidade e Pertencimento”, reforça a executiva.
Paternidade ativa e profissão
A “paternidade ativa” traz desafios, especialmente para pais que frequentemente precisam conciliar longas jornadas de trabalho com as demandas familiares. Não é necessário romantizar o cenário, no entanto, para colher percepções positivas dessa parentalidade. Uma relação equilibrada entre filhos e trabalho é o que torna a carreira e a paternidade prazerosas e bem-sucedidas, na opinião de executivos C-level.
Para Rafael Favaro, sócio da Intelligenza IT, a atenção de qualidade é o que importa, “Minha vida é bastante intensa, trabalhando praticamente 24 horas por dia. Mas, quando temos alguém que amamos e que depende de nós, é fundamental nos dedicarmos a essa pessoa”, entende.
Já para Rafael Teixeira, CEO da Clínica da Cidade, o equilíbrio entre vida pessoal e profissional é essencial para uma liderança inspiradora. “Encontrar tempo para ambos os papéis [pai e executivo] é fundamental, pois a minha família é a minha maior fonte de motivação e felicidade, e cada momento com eles enriquece a minha vida pessoal e profissional”, acredita Teixeira.
Reforçando o coro do equilíbrio, Marcelo Assunção, CEO da WohPag, ressalta que a distância forçada do filho pode até mesmo prejudicar a saúde emocional do pai. “Momentos de muita alegria são alterados com a autopunição pela ausência forçada [por razões de trabalho], comprometendo muitas vezes a saúde e a relação com outros aspectos da vida”, comenta.
Diego Todres, CRO da BrandMonitor, menciona os impactos do trabalho híbrido em sua rotina de pai, ressaltando que essa modalidade pode facilitar uma paternidade mais presente. “Sendo pai de primeira viagem com um filho de 1 ano e meio cheio de energia, conciliar trabalho em home office com a paternidade ativa tem sido um grande desafio. Muitas vezes, durante reuniões com clientes, meu filho bate na porta do escritório até que eu o deixe entrar, o que pode ser especialmente complicado em reuniões mais formais. No entanto, percebo que, na maioria das vezes, as pessoas na reunião entendem a situação e até brincam com isso, o que demonstra a empatia de quem também enfrenta desafios semelhantes.”