O 4º Fórum Empresas que Melhor se Comunicam com Colaboradores – Ecos do Caos (FEMCC) iniciou sua edição híbrida com um dia de painéis presenciais nesta terça-feira (27), em São Paulo. Realizado pelas plataformas Melhor RH e Negócios da Comunicação e pelo CECOM – Centro de Estudos da Comunicação, o evento propôs uma imersão prática nos desafios da comunicação interna em contextos de ruptura, estresse organizacional e reconfiguração cultural.
A jornada presencial marcou a abertura do fórum, que segue com sua programação online nos dias 2 e 3 de junho, de forma gratuita. No centro das discussões está a escuta como prática transformadora: da gestão de mudanças ao uso estratégico da comunicação para fomentar segurança psicológica, engajamento e lideranças comunicadoras.

Márcio Cardial, diretor da Plataforma Negócios da Comunicação, destacou o alcance nacional do evento e sua vocação para inclusão e troca:
“A gente consegue atingir quem não pode estar presencialmente, e isso é muito legal. Eu gosto de dizer que chegamos até Rio Branco, no Acre, porque é importante lembrar que a comunicação interna tem que funcionar em todas as localidades, com todos os públicos”, disse, observando o quórum numeroso no auditório e ressaltando os resultados obtidos com os fóruns online.
“A gente faz essa conversa virtual há quatro anos, com gente do Brasil inteiro.”
Comunicação interna pós-trauma: e agora, RH?
O primeiro painel, intitulado “Comunicação Interna pós-trauma: e agora, RH?”, trouxe ao palco Rodolfo Araújo (VP América Latina da United Minds), Bruno Borges (gerente de Campanhas e Programas de Relacionamento Internos da Petrobras), Filipe Xavier (diretor de Branding, Comunicação e ESG da GE HealthCare) e Kelly Cufone (diretora de Projetos da United Minds).
Rodolfo abriu os trabalhos com uma dinâmica e uma análise contundente sobre os efeitos da incerteza nos ambientes organizacionais:
“Em cenários de mudança, a gente vive uma sobrecarga cognitiva muito intensa. Em contextos de incerteza, o que predomina é o medo – entramos em ruminação mental, paralisia emocional, e isso drena energia, engajamento e capacidade de decisão.”

Ao abordar o impacto de traumas organizacionais, Rodolfo foi enfático:
“Não estamos falando apenas de demissões em massa. Muitas vezes, o trauma está no conta-gotas crônico de pressão, nas reestruturações mal comunicadas, na ausência de escuta. E o mais grave: quando o medo vem da própria organização, o dano é muito mais profundo.”
Citando o estudo “Em Bodies Rising”, realizado em 14 países, ele destacou que 40% dos brasileiros trocariam de emprego amanhã, e o principal motivo é a má gestão direta – especialmente apontada por pessoas de grupos minorizados.
“A comunicação interna não é acessório. É ela que pode transformar esse cenário ou perpetuar o caos.”
Bruno Borges, da Petrobras, reforçou a ideia de que a comunicação eficaz começa com a escuta real:
“Nós estamos nos comunicando com gente. São rostos, são histórias. As pessoas carregam traumas, diagnósticos, perdas – e a empresa muitas vezes ignora ou tem medo de ouvir.”
Ele enfatizou que segurança psicológica precisa deixar de ser um jargão e se tornar prática cotidiana:
“As lideranças precisam estar preparadas para comunicar mudanças com clareza, empatia e consistência. Porque, sem isso, o vácuo é preenchido pelo medo, pela fofoca, pelo boato.”
Filipe Xavier compartilhou a experiência do spin-off da GE HealthCare, momento marcado por incertezas profundas entre os colaboradores.
“Enquanto criávamos uma nova empresa, víamos o colaborador com medo: será que ele seria forte o suficiente para seguir em frente sem o legado da General Electric?”
Ele explicou como a comunicação transparente foi decisiva para atravessar o processo:
“Nosso papel foi mostrar que ele não estaria sozinho. Que a cultura permaneceria, mesmo em meio à transformação. Fizemos questão de conversar, escutar, preparar líderes para acolher essa ansiedade.”
Kelly Cufone completou o painel enfatizando que a comunicação interna é parte ativa da gestão de mudanças, e não apenas uma consequência dela:
“Comunicação é método, é estratégia. É o que sustenta a confiança quando tudo está em movimento.”
Tecnologia e humanos: o fim da comunicação de massa interna
O segundo painel reuniu Alessandro Pereira, gerente executivo de Comunicação Interna, Relacionamento com a Imprensa e Reputação no Banco do Brasil; Daniel Sena, gerente sênior de Cultura no Mercado Livre; Cibele Pereira, Consultora de Comunicação Corporativa na Bayer Brasil; e Clau Duarte, diretora de Comunicação no Banco Santander, para discutir os desafios da personalização da comunicação em ambientes corporativos complexos, com o apoio da inteligência artificial e da escuta baseada em dados.

Daniel Sena destacou que, em empresas com milhares de colaboradores, a personalização é fundamental:
“O nosso ecossistema digital foi redesenhado para considerar turnos, idiomas, formatos e preferências. Comunicamos quando e como o colaborador prefere receber.”
Ele também enfatizou que o papel do comunicador mudou:
“Não adianta informar por informar. A comunicação precisa impulsionar cultura, propósito e o prazer de fazer parte da organização.”
Cibele Pereira, da Bayer, trouxe a perspectiva de um ambiente diverso:
“Temos pessoas na rua, na produção, no administrativo. A IA nos ajuda a evitar comunicação tóxica e a oferecer o conteúdo certo para o momento certo.”
Ela compartilhou uma prática concreta:
“Hoje usamos plataformas que medem sentimento, engajamento, volume de leitura e trazem sugestões de melhoria com base em dados reais. Isso evita desperdício de atenção e aumenta a relevância.”
Alessandro Pereira reforçou a importância de escutar com profundidade e retroalimentar os processos comunicacionais:
“Usamos IA para medir sentimentos em tempo real e para ajustar o tom e o formato das mensagens. A escuta virou parte do processo de produção e planejamento.”
Ele também destacou o papel da comunicação como extensão da experiência do consumidor:
“O colaborador espera da comunicação interna o mesmo nível de fluidez que tem como consumidor. Isso exige mais canais, mais formatos e mais respeito ao tempo e contexto de cada um.”
Clau Duarte sintetizou o espírito do painel:
“A inteligência artificial não substitui o comunicador. Ela potencializa nossa capacidade de entregar uma comunicação mais humana, mais sensível, mais conectada à realidade das pessoas.”
Na reta final, os painelistas concordaram que o papel do comunicador está se transformando rapidamente: de produtor de conteúdo para curador, educador e facilitador de uma cultura viva. A IA, ao invés de ameaça, aparece como aliada.
A era das microculturas: coerência sem perder a diversidade
O terceiro painel teve como tema central o desafio de manter a identidade corporativa em um ambiente onde cada equipe desenvolve sua própria linguagem, valores e formas de se comunicar. Participaram da conversa Célia Pietta, corporate affairs manager na Kellanova – speaker; Cleide Cavalcante, gerente executiva de Comunicação Corporativa na Progic; Renata Nascimento, gerente de Comunicação na Volkswagen; e Stella Huertas, Coordenadora de Comunicação Interna na Syngenta.

Renata abriu o painel destacando que entender profundamente o público é essencial para equilibrar personalização e coerência organizacional. Ela defendeu que dados e empatia são ferramentas-chave para apoiar microculturas e, ao mesmo tempo, preservar um norte estratégico comum:
“Propósito e estratégia são a base. A partir daí, posso apoiar as microculturas com linguagem e canais próprios, sem perder o alinhamento geral.”
Cleide foi direta ao apontar os riscos de ignorar as microculturas:
“O principal risco é o desengajamento. Comunicação que não faz sentido afasta, desmotiva e enfraquece a cultura. Perdemos talentos, alimentamos silos e afastamos a comunicação do dia a dia das pessoas.”
Ela reforçou que microculturas não são departamentos, mas grupos com hábitos e expectativas próprias, que precisam ser mapeadas e integradas com sensibilidade e dados:
“Você pode ter uma planta industrial com práticas e linguagens que não dialogam com o administrativo. Se não houver mediação, isso vira ruído e fragmentação.”
Célia detalhou práticas de personalização e reforçou o papel da liderança como ponte entre estratégia e operação:
“Trabalhamos com múltiplos canais adaptados a diferentes públicos. O líder é fundamental para traduzir mensagens estratégicas em ações locais. E os próprios colaboradores também se tornam porta-vozes da cultura.”
As painelistas destacaram ainda a importância de dados e tecnologia para mapear preferências, identificar influenciadores internos e tornar a comunicação mais personalizada e participativa.
Renata destacou o uso de influenciadores internos como estratégia eficaz para conectar realidades distintas:
“As microculturas precisam de referências próximas. O colaborador confia em quem se parece com ele. Isso vale para ações de engajamento, segurança, inovação e até gestão de crises.”
O painel concluiu com o consenso de que a comunicação interna precisa evoluir para um modelo multidirecional, empático, colaborativo e orientado a dados – onde as microculturas não são vistas como ruído, mas como expressões legítimas da diversidade organizacional.
Para inscrever-se na versão on-line, que acontece em 2 e 3 de junho, clique aqui.
Galeria do evento:
Fotos do evento e na reportagem: Casa da Photo
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