Depois de cinco meses de Covid-19 no Brasil, as empresas que trilharam a jornada da quarentena podem olhar para trás e se orgulhar. Chegar até aqui, com a operação em pleno funcionamento e, principalmente, guiando os colaboradores com segurança e apoio, exigiu muito dos gestores. E ainda exige.
Estratégias envolvendo milhares de pessoas precisaram ser traçadas às pressas, com a urgência que a chegada da pandemia exigiu.
A Syngenta é um desses exemplos que vale a pena ser destacado. Com uma Comunicação interna totalmente afinada, a companhia que atua no agronegócio fez suas mensagens atingirem cada um dos 3.600 colaboradores — estando eles no campo, no laboratório ou no escritório; trabalhando presencialmente ou em home office; caso de 1.300 pessoas, aproximadamente.
À frente da equipe que mais atua ao lado do RH está Carolina Dalanezi, Head de Comunicação Interna da Syngenta. “É muito gratificante poder conversar sobre nosso projeto como uma inspiração. Desde o princípio, a Comunicação interna da Syngenta prioriza a saúde e a segurança das pessoas. Isso o dá norte a tudo que fazemos e é relativo a nossos colaboradores, suas famílias e suas comunidades”.
Quando a pandemia chegou, Carolina e sua equipe desenharam uma arquitetura de comunicação, criando duas grandes frentes de atuação — a primeira, conforme ela, de informação sobre covid-19, mais tradicional. A segunda, que chamaram de Bem-estar e Produtividade, mais estratégica, para contribuir para a saúde mental das pessoas, no momento de crise.
Qual é a linha mestra que a Comunicação definiu para desenvolver seu trabalho durante as mudanças provocadas pela pandemia?
Temos um time de gerenciamento de emergências aqui no Brasil, do qual faço parte, com pessoas de diversas áreas. Esse time toma várias decisões, reforça nossas políticas e cria novas. Me lembro do primeiro webinar que fizemos, em março. Marcamos de um dia para o outro com pessoas de todo Brasil — coisa que nunca fazíamos, pois tudo era organizado com antecedência. Mas a situação estava se agravando e ainda havia pouca informação. Foi nosso recorde de participação, mais de mil pessoas. E naquele dia, o que me chamou a atenção foi termos recebido mais de 160 perguntas, todas muito simples.
Entendi que, como Comunicação interna, tínhamos o papel importante de ajudar as pessoas a entenderem toda a cobertura da doença.
Na segunda frente, de Bem-estar e Produtividade, pensamos em como criar espaço para troca de experiências positivas e reforçar a sensação de pertencimento.
Como vocês determinam o conteúdo que alimenta os programas e canais?
Nosso principal input é a discussão que fazemos dentro do time de gerenciamento de emergência. Como ali há representantes de todas as áreas, conseguimos um bom termômetro sobre o que está acontecendo no campo; quais são as dúvidas da fábrica. Esse é um primeiro momento para entendermos o que precisamos fazer em termos dos conteúdos mais quentes para os nossos canais. E o nosso médico, que grava semanalmente com muita simplicidade um programa sobre covid, é bastante conectado com tudo que está acontecendo. Nossa ideia é manter essa simplicidade. Estamos sempre com um olhar externo para o que está se falando da doença e quais são as dúvidas das nossas pessoas sobre isso.
Como trabalharam a comunicação com os colaboradores em diferentes situações?
Ainda em meados de março, quando de fato decidimos incentivar o home office para todos aqueles que pudessem fazer, nos deparamos com duas situações distintas: um grupo de profissionais menor, que estava indo para home office, do escritório central, dos administrativos das nossas unidades de produção e estações de pesquisa. Mas também existia um percentual grande das nossas pessoas que continuavam operando, dado a essencialidade da agricultura.
Tínhamos a necessidade de apoiar as pessoas nessa questão da saúde mental e bem-estar no contexto do home office. E precisávamos ajudar as pessoas que estavam indo trabalhar a entender que saúde e segurança sempre foram as nossas prioridades e que eles estavam seguros.
Foi então que fizemos duas ações. A primeira foi um vídeo inspirando a questão da agricultura, e trazendo exemplos práticos nos adesivos nas fábricas para ajudar no distanciamento; mostrando fotos dos dispensários de álcool gel, como estávamos trabalhando o transporte. Um segundo momento foi um webinar muito humano. Levamos o nosso médico para dar segurança para as pessoas, e também o nosso operacional para dar dicas práticas para gestores e profissionais de como enfrentar os desafios que viriam com o home office. Recebemos por volta de 100 perguntas e comentários das pessoas se sentindo acolhidas e abraçadas pela Syngenta.
A partir dessa experiência, quais canais foram determinados para levar as mensagens?
Tínhamos muitas incertezas sobre a doença e como seria o home office. Havia todas as questões econômicas também, e como tudo isso afetaria as pessoas.
Demos uma resposta rápida em termos de ação de comunicação interna. Adequamos nossos canais para entregar tanto o bloco de informação quanto o de bem-estar.
Temos uma newsletter semanal que se chama Cultura — por conta das nossas culturas de soja e milho, mas também “cultura” pelo aspecto cultural interno — que é o nosso carro-chefe. Esse veículo existe há oito anos e é um sucesso. Então, criamos a editoria Covid-19.
Por causa do feedback positivo do nosso médico no webinar, o tornamos porta-voz oficial internamente fazendo balanços sobre a doença, respondendo perguntas como “Quantas pessoas estão com a doença na empresa?”. Ele passou a abrir o vídeo dizendo “A visão de hoje é de X pessoas doentes no país”, dando a principal mensagem da semana. Também levamos a fala dos nossos líderes sobre as medidas segurança, histórias de contribuição da Syngenta nas comunidades em que ela atua. Além da segurança e da saúde, transparência é o princípio que nos rege. Isso trouxe uma robustez ainda maior para o canal que já era querido. Os milhares de acessos atestam que é uma estratégia que funcionou.
Paralelamente, criamos o Em Tempo. Ele nasceu para trabalhar especialmente os serviços de recursos humanos, por exemplo, as informações de reembolso médico ou dos novos equipamentos de TI. O Em Tempo costuma também ter muitos acessos, porque está diretamente ligado a ambiente de trabalho e orgulho de pertencimento. A newsletter canaliza todas as ações que estamos tomando como Syngenta para entregar o bem-estar, apoiar as pessoas na saúde. Já o Eu Me Cuido é um programa liderado pelo RH, mas multifuncional e aberto para quem tiver interesse em participar.
Toda semana, o grupo se reúne e as pessoas dão ideias de sessões para fazer, como mindfulness, ioga, alongamento, sempre com espaço para perguntas e respostas. Divulgamos as ações que vão acontecer na semana seguintes, as pessoas se candidatam e implementamos uma sessão. Essa iniciativa gerou uma reação muito positiva, porque as pessoas começaram a ver que era de colaborador para colaborador — apesar de termos parcerias também.
E para o pessoal em home office?
O Em Tempo também trabalha outras questões como as dificuldades de quem está em casa. Por exemplo, dá dicas de TI para usar melhor a tecnologia nesse momento e aborda segurança, a questão de phishing e outras dúvidas. As pessoas estão procurando o Em Tempo para se informar. Para reforçar, recorremos aos webinares, em que nossos líderes falam de resultados. Traçaram um panorama do primeiro trimestre, o que isso diz em relação a Covid-19 e quais são os desafios. Criamos uma narrativa para ajudar as pessoas a entenderem como tudo impacta na Syngenta.
Os webinares sempre têm esse pano de fundo da quarentena e da Covid-19?
Sim. A Covid trouxe uma série de ansiedades para as pessoas. Algumas são mais fáceis de correlacionar, como as sessões de mindfulness e de ioga, que atendem a pessoas que desabafam: “estou em casa, o que eu faço?”. Outras questões são mais complexas, por exemplo, “como é o desenvolvimento de carreira nesse contexto?”. Para atendê-las, organizamos um webinar sobre a questão do desenvolvimento de carreira, mas com a preocupação de como falar sobre isso em plena pandemia. Não é simples. Imagine um Plano de Desenvolvimento Individual e a pergunta: “Como posso turbinar o meu PDI, uma vez que estou sendo menos visto e o contato com meu gestor é diferente?”. Priorizamos os temas para ajudar as pessoas a superar esse momento.
O que vocês pretendem manter depois que a pandemia passar?
Para mim, tudo permanece. O que vai mudar é a intensidade. Pensando que devemos conviver com a Covid, no mínimo, até o final do ano — e que pode virar algo endêmico, conforme alguns órgãos de saúde —, sempre teremos questões de saúde e segurança para tratar.
Editorias que criamos nos nossos canais vão permanecer; o que vamos avaliar é a frequência com que isso vai acontecer, a mensagem e o tom que daremos.
Quando esses temas não forem mais necessários, o canal permanecerá. O programa Eu Me Cuido vai existir em um contexto pós-pandemia, porque traz temas ligados ao nosso bem-estar. Mas vamos rever a frequência, talvez menor. Acho que muitas coisas que estão aparecendo agora fazem parte desse novo olhar, desse novo normal que está se criando com a pandemia. Hoje, nada precisa deixar de existir, apenas se transformar para que haja melhoria de tudo o que estamos fazendo com os nossos profissionais.
Como é o trabalho com o RH? Há uma proximidade entre as áreas?
Trabalhamos muito próximos e temos uma relação excelente. As decisões são tomadas em conjunto. O time de RH recorre bastante a nós para saber qual é a visão da Comunicação em determinado assunto. Igualmente, toda nossa política, nossa questão de engajamento, passam pelo RH. A prática disso é o próprio time de gerenciamento de emergência, que reúne, entre as áreas principais, o RH e a Comunicação. É até difícil separar o que eles demandam de mim e o que eu demando deles, porque realmente é um grande trabalho de parceria.
Até um passado recente, Comunicação interna fazia parte da estrutura de RH. Isso facilita demais, porque temos uma confiança muito grande no trabalho um do outro, um alinhamento de pensamentos e muito respeito para discordar.
Seguimos em direção ao bem do colaborador, em preservar aquilo que é o bem-estar, a saúde e a segurança dele.
No caso dos colaboradores em home office, como lidam com a informação sobre o amanhã?
Esse tema tem sido o nosso foco, principalmente em São Paulo. São Paulo é um mundo à parte. Baseados em feedback, inclusive de um grupo que já retornou, temos um plano robusto totalmente desenhado. A normalidade, se é que vai ser do jeito que conhecemos, vai demorar muito tempo para voltar. Mas as pessoas têm diferentes ansiedades. Há um grupo morrendo de vontade de voltar, porque a conexão em casa não é boa. Ou, ainda, pelas questões de ergonomia que vêm à tona, e temos que lidar com isso. Outros grupos falam que estão tão acostumados com home office, que preferem não voltar nunca mais. O modelo operacional da Syngenta prevê estar nos escritórios. Seja qual for a posição — ansiedade para voltar, não querer voltar, ou medo da volta —, as pessoas têm necessidade de informação. Por isso, nosso plano prevê um guia, os webinares e muita estrutura para ajudá-las a retornarem ao escritório de uma forma segura.
O webinar é um canal muito utilizado pelos líderes das equipes?
Sempre o usamos. E, nesse momento de pandemia, muito mais. É um meio mais rápido, fácil, barato. Lançamos mão a todo o momento; usamos o zoom e as pessoas têm um espaço ali para perguntar. Isso nos abastece sobre suas dúvidas, por isso é super interessante. Para a questão específica do retorno, demos um kit com material de apresentação e orientações para que cada líder possa conversar com as pessoas. Mas sempre brinco com eles:
“Posso fazer a melhor ação de comunicação interna do mundo; porém, nenhuma vai substituir a sua conversa com a equipe, abordando cada necessidade, o que cada pessoa precisa ouvir e falar.”
Ajudamos os líderes para que essas conversas aconteçam da forma e no timing corretos. Mas também queremos ajudá-los a navegar em tudo isso, porque eles também estão sendo bombardeados por muitas informações. [Inês Pereira]