Gestão

Gente precisa de gente, e tudo é muito melhor quando estamos próximos

Na rede Maple Bear, a tecnologia é uma ferramenta estratégica para o RH, mas nada substitui o contato presencial, o olho no olho

de Redação em 14 de setembro de 2020
A festa junina da Maple Bear chegou na casa dos colaboradores com os quitutes típicos da época A festa junina da Maple Bear chegou na casa dos colaboradores com os quitutes típicos da época

A pandemia colocou um desafio duplo à Maple Bear, rede canadense de ensino bilíngue com cerca de 30 mil alunos no Brasil: digitalizar suas aulas para alunos de 1,5 ano até 17 anos e, ao mesmo tempo, colocar em home office 85 colaboradores da franqueadora em três semanas. Atuando em um mercado muito associado a atividades presenciais, a rede teve, para o segundo desafio, de contar com uma grande ajuda do time de RH e, ainda, de colocar em prática uma série de adaptações da estratégia de gestão de pessoas.

A área de recursos humanos compôs um mix de ações, passando a reconhecer e a celebrar os esforços dos colaboradores, a ajudar no equilíbrio mental, a dar atenção à saúde e, até, a cuidar da integração de novos talentos por meios virtuais ou por iniciativas físicas na casa das pessoas. Uma das primeiras ações foi a #gratidão, na qual a empresa enviou uma lembrança com foto e uma mensagem personalizada para a casa dos colaboradores. A ideia era demonstrar a gratidão pela dedicação, pelo esforço e pela entrega neste período de pandemia. Já na ação #celebrar, realizada durante a reunião digital trimestral de resultados, foi enviada uma refeição via delivery para substituir o tradicional foodtruck presente na versão presencial do evento. Até a festa junina da Maple Bear chegou na casa dos colaboradores com os quitutes típicos da época.

“Acreditamos muito nas conexões humanas de qualidade. A tecnologia, sem dúvida, é um meio que utilizamos para tentar ficar perto de cada um neste momento, para reconhecer, cuidar, celebrar, acolher. Porém, não abriremos mão de momentos presenciais quando tudo isso passar”, afirma Roberto Publio, head de gente, gestão e inovação da Maple Bear.

Para ele, o trabalho flexível será uma nova realidade e a franqueadora pretende manter e usar o ambiente presencial de forma mais inteligente e quando realmente fizer sentido. “Hoje, aprendemos que, para a maior parte das reuniões de trabalho, o rendimento é muito alto no modelo 100% online, assim como em outras atividades do dia a dia. Mas quando se trata de fomentar a cultura, o cuidado com as pessoas, o olho no olho, o acolhimento, tudo isso faz muita diferença, pois nada é melhor do que as pessoas estarem juntas fisicamente”, destaca. Ou seja, tudo é possível no modelo remoto, mas nem tudo é melhor. “Poderíamos funcionar assim a vida toda e manter um clima organizacional fantástico, desde que as pessoas não conhecessem o modelo presencial. Quando já se viveu os dois lados, a comparação é inevitável. Gente precisa de gente, e tudo é muito melhor quando estamos próximos.”

Tecnologia ajuda, mas não é tudo

Todas as ações de #gratidão e #celebrar fazem parte do conceito WOW! #maplebearsecretsauce, cujo objetivo é, como afirma Publio, surpreender com constância cada um, respeitando a personalidade e a individualidade. “Com a pandemia, esse conceito ficou ainda mais forte e foi importante para manter a motivação e integração da equipe mesmo a distância”, afirma.

O executivo conta que as empresas que valorizaram e construíram uma cultura forte e um clima organizacional positivo antes deste período colheram bons frutos. “Elas conseguiram adaptar rapidamente suas práticas de gente e gestão, e as pessoas acompanharam, pois seguiram sendo valorizadas e cuidadas de perto. Empresas que não tinham gestão de pessoas como prioridade estão sofrendo bastante”, diz. “Por mais autônomo e flexível que seja o modelo de gestão, como é o nosso, as pessoas precisam de colaboração, apoio intelectual e emocional, espaços para compartilhar ideias e se sentirem ouvidas. Tudo isso é o que forma a cultura e é algo que não se constrói em seis meses.”

Embora a tecnologia tenha sido um meio importante neste momento para minimizar os impactos do distanciamento social, ela, por si só, não resolve. “Estar mais próximo das pessoas requer muito mais do que isso, exige uma preocupação genuína com o bem-estar dos outros e a promoção de iniciativas que fazem sentido para alcançar este objetivo”, diz Publio, acrescentando que o “molho secreto” da franqueadora não é a tecnologia. “Nenhuma das ações citadas como exemplos dos nosso WOW! tem a tecnologia como ator principal; a conexão humana se dá com simplicidade, gratidão, reconhecimento, colaboração e com o simples fato de ouvir genuinamente. É reforçar o propósito dentro de cada um, despertar o potencial máximo em cada colaborador e permitir que usem todas as suas habilidades para o cumprimento de seus objetivos”, destaca.

Roberto Publio, da Maple Bear: “não abriremos mão de momentos presenciais quando tudo isso passar”

Agenda bloqueada para o almoço

A partir da transição do modelo de trabalho e dos dilemas internos que isso pode gerar em cada um, a Maple Bear desenvolveu a ação #equilíbrio, que contou com duas etapas: a primeira, com o envio do livro Atenção plena para a casa dos colaboradores; e, depois, com a realização de um workshop surpresa com o Centro de Promoção de Mindfulness, 100% online, em uma vivência de meditação com mais de 90 pessoas. “Foi bem legal e energizou a turma para um novo ciclo, além de contribuir com a manutenção da saúde mental da equipe. A maioria segue com a prática, executando a vivência de oito semanas proposta pelo livro”, diz Publio.

Ainda na área de saúde, foram disponibilizados equipamentos para home office (principalmente cadeiras ergonômicas) e o CEO da empresa bloqueou a agenda na hora do almoço, reforçando a importância de fazer as pausas durante o dia, para manter a alimentação e a saúde física em dia. “Apoiamos, também, os colaboradores com problemas de saúde, falando com a família, mandando vídeos e prestando o suporte necessário. Creio que isso tenha contribuído para o processo de recuperação e para a coesão da equipe”, ressalta o head de gente, gestão e inovação.

Outra experiência neste período foi a integração de novos colaboradores. Às vésperas da pandemia, 15 pessoas foram contratadas, tendo feito o onboarding presencial de 10 dias e no D+1 todas foram para o trabalho em casa. A Maple Bear realizou um acompanhamento diário dessas integrações e da relação com os demais colaboradores e, após 100 dias, promoveu uma conversa online especial com o CEO. “Temos um feedback positivo dos colaboradores em relação a essa integração a distância. Nossas dinâmicas de gestão propiciaram o fomento ao trabalho colaborativo, autonomia, inovação, flexibilidade e bem-estar. Inclusive, tivemos uma contratação durante a pandemia cuja integração totalmente digital correu muito bem também”, afirma Publio.

Ajustes no onboarding digital

Nada contra a versão digital do onboarding, mas, na avaliação do executivo, não há nada como uma imersão presencial! “Nosso onboarding é muito intenso, dura de 10 a 15 dias e quem chega tem contato com todas as squads da empresa, conversa com os donos das escolas, professores, alunos, enfim… uma imersão na cultura de ponta a ponta”, diz.

No modelo online, Publio conta que foram feitas alguns ajustes. “Tivemos de adaptar o tempo, pois 15 dias no online é muito cansativo; então, ajustamos para seis ou sete dias. Não foi possível visitar escolas; então, promovemos o contato com os clientes de maneira remota. Foi muito bom, o time integrado a distância hoje está atuando nas squads com a mesma intensidade e conexão dos demais. Porém, quando retornarmos, iremos suprir os pontos de contato que mais fizeram falta, principalmente respirar o ambiente escolar e falar com os alunos. Isso reforça o propósito e nos faz relembrar o porquê estamos aqui”, diz.

Publio conta que o modelo de gente e gestão da Maple Bear sempre foi de muita liberdade com responsabilidade. “As pessoas têm autonomia e liberdade para criar e executar, sempre deixando claro o propósito, os objetivos e as metas. Os alunos e as escolas estão sempre no centro de tudo que fazemos. As pessoas poderão optar em uma escala de 0 a 100% em relação ao modelo presencial/remoto. Isso depende da personalidade de cada um, do tipo de desafio, da mobilidade urbana; ou seja, cada um atuará da maneira que despertar seu máximo potencial e bem-estar”, diz.

“E haverá momentos em que traremos todos no presencial com objetivos mais bem definidos, principalmente em algumas ações de gestão de gente que têm muito mais eficácia quando estamos próximos”, acrescenta.

Recrutamento e seleção, por exemplo, são processos que funcionam bem a distância, avalia o executivo. “Se o candidato morar em São Paulo, por exemplo, convidamos para fazer o bate-papo presencial, mas não é uma condição essencial. Utilizamos, hoje, algoritmos e Inteligência Artificial para mapear no mercado os talentos que tenham fit com nossa cultura e os skills da vaga, o que também acontece durante todo o processo seletivo. Tudo isso 100% remoto. Temos times alocados no Brasil todo e no Canadá, então, é essencial que tenhamos esse processo com mais alcance”, diz.

O fim do RH como área

E como ele vê o RH neste novo mundo? “São pessoas que cuidam de pessoas, que permeiam o negócio, o cliente e todas as relações humanas. A tecnologia irá substituir gradativamente as atividades repetitivas, mas é uma escolha humana se irá substituir o trabalho”, diz Publio, reforçando que gente, gestão e inovação devem caminhar juntos. “Isso porque precisamos preparar as pessoas que estão na empresa para a nova economia, mostrar os caminhos do futuro do trabalho, para que elas possam criar novos modelos de gestão e, principalmente, para serem estimuladas e incentivadas a inovar.” Ele acredita que o RH como área não existirá mais. “Teremos, sim, pessoas com habilidades humanas dentro das áreas de negócio, acompanhando de perto a cultura, o time, os líderes, o cliente, mantendo a cultura forte, o clima saudável, fomentando cada vez mais ambientes propícios ao aprendizado contínuo, à colaboração, à geração de ideias e à potencialização da diversidade”, finaliza. (edição de Gumae Carvalho)

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