Inovação

Autonomia é a chave que destrava a inovação no RH

Com autonomia para agir e experimentar, o RH deixa de ser operacional e assume o protagonismo na construção de uma cultura de inovação

de Priscila Perez em 13 de setembro de 2024
Autonomia,RH e inovação Foto: imagem gerada por IA - DALL·E

Por muito tempo, os profissionais de RH eram conhecidos na “firma” como aquele pessoal da burocracia, que cuidava só de folha de pagamento, controle de ponto, férias e décimo terceiro. Um departamento quase mecânico, puramente operacional. Mas, hoje, esses mesmos profissionais estão cada vez mais sendo chamados para um papel muito maior: serem peças estratégicas dentro das empresas. E vamos combinar, quando RH, inovação e autonomia se encontram, é como mágica acontecendo. Eles podem pensar fora da caixa, inovar e conectar de verdade as pessoas aos propósitos e às estratégias organizacionais, sem perder de vista as necessidades de cada um. Afinal, não dá para transformar algo ou um lugar se você não tiver tempo nem espaço para fazer diferente, certo?

Não dá para desvincular inovação de um RH que tenha autonomia para pensar e agir diferente. O famoso “Think Different”, da Apple, não teria sido possível sem que a equipe pudesse superar o óbvio. Aqui, estamos falando de algo essencial: liberar o potencial criativo de profissionais que lidam diariamente com processos e programas de gestão de pessoas, como educação corporativa, mentoria e bem-estar. E é justamente nesse cenário que a combinação entre RH, autonomia e inovação se torna indispensável. Sem essa liberdade, eles ficam presos na rotina, apagando incêndios em vez de pensar em soluções.

No fim das contas, o RH não pode ser apenas aquele que resolve problemas; ele precisa ser o motor de inovação, criando formas de conectar as pessoas e atender às necessidades da empresa de forma estratégica. Parece desafiador? Com certeza, mas está longe de ser impossível. O problema é que a realidade ainda está bem distante desse ideal. De acordo com a pesquisa “Engajamento do RH em 2024″, da Great People Consulting, só 31% dos profissionais de RH se sentem realmente autônomos para tomar decisões. A maioria dos 601 entrevistados acredita ter uma autonomia relativa, enquanto 13,3% se veem com ainda menos liberdade

Liberdade, liberdade

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Daniella Gallo, da Radix

Daniella Gallo, head de Gente e Gestão na Radix, empresa global de tecnologia com foco em transformação digital, reforça essa realidade ao afirmar que muitos RHs ainda são vistos como transacionais, focados em tarefas administrativas. Segundo ela, o fato de muitos deles ainda não terem cadeira no board de muitas empresas limita sua capacidade de influenciar decisões estratégicas. Para mudar isso, é essencial que o time consiga alinhar gestão de pessoas e resultados de negócios, tornando-se um agente de transformação dentro da organização. “Os resultados só são sustentáveis se forem obtidos através de pessoas que se sentem engajadas nessa meta maior”, afirma Daniella.

Para a CHRO, a participação ativa do RH nas decisões estratégicas é o caminho mais eficaz para criar uma cultura de inovação que realmente gera resultados e motiva as pessoas. Do contrário, inovação, propósito e engajamento acabam se tornando um discurso vazio, sem conexão com a realidade da empresa. Ao alinhar os programas de gestão de pessoas aos indicadores de negócio, o RH prova seu valor de maneira natural, mostrando que o engajamento das pessoas é diretamente responsável pelos resultados alcançados. “Eu realmente acredito que as pessoas se engajam quando elas se sentem consideradas, quando elas se percebem que estão crescendo junto com a empresa”, complementa.

E isso não é importante apenas para o colaborador, mas também para o próprio profissional de RH, que precisa de autonomia para crescer e transformar sua realidade com inovação. Como Daniella bem coloca, é fundamental que o setor tenha voz e que as empresas vejam o RH como parte essencial do negócio, e não só como uma área de suporte. Quando o RH é envolvido de maneira estratégica, ele consegue prever as necessidades futuras das pessoas, antecipar tendências de mercado e formar talentos que estejam alinhados com as demandas da empresa. “Talvez eu nem estivesse no RH se não tivesse autonomia. Sentir que consigo fazer as coisas acontecerem está diretamente ligado ao meu propósito de vida, que é conectar as pessoas e os negócios. E isso é exatamente o que temos aqui na Radix”, reflete Daniella.

Motivação e carreira

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Carolina Ferreira, da Alelo

Agora, autonomia sem uma cultura que a apoie é como uma receita sem tempero: simplesmente não funciona. Na Alelo, empresa especialista em benefícios, gestão de despesas corporativas e incentivos, eles levam essa questão bem a sério com o pilar “Arriscar, Corrigir e Surpreender”, onde os erros fazem parte do processo e o aprendizado é o foco. “A autonomia está diretamente ligada ao aumento da motivação e produtividade dos colaboradores, especialmente em ambientes que valorizam o protagonismo na carreira”, ressalta a superintendente de Gente, Carolina Ferreira.

E como isso acontece na prática? A especialista destaca exemplos de como o RH, com a devida autonomia, pode impactar positivamente o ambiente de trabalho e impulsionar a inovação. Um dos primeiros passos é o desenho de estratégias de remuneração e projeção de carreira. Quando o RH oferece “clareza” para o crescimento dos colaboradores, o engajamento aumenta de forma natural, o que só traz benefícios a longo prazo.

Outro ponto chave é a criação de programas de desenvolvimento específicos para cada tipo de profissional. Na Alelo, por exemplo, as carreiras Tech & Digital, Comercial e Corporativa recebem uma atenção personalizada. Para cada uma delas, o RH desenha uma persona específica, implementando trilhas de aprendizagem sob medida, sempre alinhadas às necessidades do negócio. Isso garante que o desenvolvimento não seja apenas teórico, mas sim, voltado para resultados práticos. E, claro, o fortalecimento da cultura não fica de fora. Promover o protagonismo e a responsabilidade da liderança é um ponto crucial.

Autonomia é cultural

Quando o RH tem liberdade para atuar, ele impacta toda a cultura organizacional. E, no final das contas, é a cultura que dá o tom. “A cultura organizacional é o que vai impulsionar ou impactar a autonomia do RH dentro da organização”, completa a porta-voz da Alelo. Com uma cultura que incentiva a liberdade para criar e aprender com os erros, o RH se transforma em um pilar essencial para o sucesso e crescimento da empresa.

Agora, imagine o contrário: sem autonomia, o RH acaba perdendo força naquilo que ele faz de melhor, que é engajar as pessoas. A falta de liberdade para testar novas ideias e experimentar novas abordagens pode travar iniciativas que realmente fazem a diferença, desde a implementação de modelos de trabalho mais flexíveis até benefícios que aumentam a satisfação dos colaboradores. “A falta de autonomia do RH pode impactar diretamente na fomentação de iniciativas que gerem novas ideias, experimentação de novas abordagens e ferramentas que impulsionem positivamente índices de engajamento”, afirma Carolina.

Autonomia,RH e inovação
Foto: imagem gerada por IA – DALL·E

Tomada de decisão

E tem mais: quando a cultura é centralizadora, com pouco alinhamento estratégico e muita resistência às mudanças, o RH também perde relevância. “Se a cultura é centralizadora na tomada de decisão, em um cenário em que o board não vê o valor estratégico do RH, pode haver uma percepção de que a autonomia é menos importante.” Isso significa que, sem essa liberdade, o RH fica limitado à sua função operacional, sem espaço para inovar.

Além disso, a autonomia é crucial para a evolução tecnológica na gestão de pessoas. Sem ela, o RH corre o risco de ficar preso a processos ultrapassados e repetitivos, jogando seus profissionais no “automático”. “Pode representar uma baixa evolução tecnológica nos processos e práticas de RH, gerando desmotivação e possível perda de talentos no time”, complementa a superintendente de Gente da Alelo. Autonomia, portanto, não é só um detalhe na organização, mas o que mantém o RH sempre à frente.

Influência se conquista

Mas, assim como a confiança, a influência também se conquista, não se impõe. No ambiente corporativo, não adianta bater na porta da liderança exigindo espaço estratégico. É preciso apresentar resultados, ter visão de futuro e, claro, construir relacionamentos. E no RH, isso é ainda mais verdade. Como Daniella Gallo, da Radix, observa, muitas empresas ainda têm uma visão arcaica acerca da área, o que acaba a deixando RH de fora do que realmente importa. Porém, o problema é que, muitas vezes, o próprio profissional de RH também não consegue conquistar essa influência, não estando preparado para os desafios que vêm a seguir.

Foto: imagem gerada por IA – DALL·E

Para virar o jogo, o RH precisa estar munido de dados e indicadores que mostrem, por “A” mais “B”, que uma gestão de pessoas estratégica gera valor para a organização. Na Radix, isso é levado muito a sério, já que Daniella participa ativamente das decisões da empresa. “Toda semana a gente tem reunião e eu, como diretora de Gente e Gestão, participo das decisões de negócio e definição das estratégias.” Ela destaca que o grande diferencial de um RH estratégico é justamente saber conectar gente e gestão, provando que programas de pessoas são determinantes para o sucesso e crescimento de qualquer empresa.

Motor de transformação

Entretanto, para o RH ser um verdadeiro motor de inovação, ele precisa de alguns elementos fundamentais: autonomia para fazer mudanças e, principalmente, uma cultura que incentive a experimentação, onde o aprendizado seja contínuo. Sem um ambiente que permita testar ideias, esses profissionais acabam presos aos mesmos processos de sempre. E convenhamos, não dá para transformar nada assim. A liberdade para errar e ajustar é o que realmente move o RH a encontrar soluções criativas.

Daniella Gallo, da Radix, explica bem como funciona essa autonomia: “a grande questão dessa transformação é você ter consciência de que tudo pode mudar. Não tem problema em mudar, desde que você esteja o tempo todo avaliando o cenário e tomando as decisões”. Ou seja, se errar, você corrige e segue adiante, uma liberdade que não é apenas parte do processo, mas fundamental para construir uma cultura de inovação.

Metodologias ágeis

Mas, convenhamos, essa liberdade para ajustar rapidamente só funciona quando o RH está disposto a ser flexível, ágil e, sobretudo, inovador. Nada de processos engessados e intermináveis. Na Alelo, essa agilidade também faz parte do dia a dia, transformando o RH em uma área muito mais eficiente e adaptável. Carolina Ferreira explica que modelos mais ágeis criam um ambiente muito mais colaborativo, que fomenta a inovação e a criatividade. Mas por que isso acontece? Ela responde: “metodologias ágeis promovem ciclos de desenvolvimento com feedbacks contínuos e uma comunicação mais transparente e fluida”. Assim, com o mindset certo, o RH ganha a flexibilidade necessária para testar, corrigir e inovar.

E o melhor é que, ao aplicar metodologias ágeis, o RH não só acelera os processos, mas também aumenta a precisão nas soluções. A implementação rápida de novas tecnologias, somada à eliminação de barreiras burocráticas, permite que o RH foque no que realmente importa: as pessoas e o impacto positivo dessas mudanças na cultura organizacional. “Ao reduzir barreiras burocráticas desnecessárias com a implementação de novas tecnologias, o RH pode agilizar processos que afetam diretamente os colaboradores”, completa Carolina. É essa combinação de agilidade, inovação e autonomia que transforma o RH em um verdadeiro motor de transformação.


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