O painel “O corpo fala: quem escuta? – É hora de lidar com as doenças do trabalho contemporâneo”, teve a participação de Ana Cristina Campos, gerente de Saúde na Accenture; Rochelli Kaminski, diretora de Recursos Humanos; e Sergio Amad, CEO da Fiter.
Rochelli abriu a discussão com uma pergunta-provocação: “Por que estamos aqui? Nosso corpo fala e estamos aqui para falar sobre isso”.
Ana Cristina concordou com Rochelli e disse que realmente o corpo fala e esta é uma forma de ele se comunicar conosco. Médica do trabalho, há 20 anos na organização, ela percebeu um crescimento no transtorno mental na sociedade. E depois da pandemia foi agravado. Mais casos, mais frequência e gravidade maior. “E o mundo corporativo não é diferente. Vivemos no ambiente corporativo um espelho, um pedaço do que está na sociedade. As doenças de transtorno mental estão no espaço corporativo. Além disso, estamos num processo de trabalho caracterizado por exigências e mudanças, dificuldades econômicas, de pressão por entregas, inadequação de pessoas a determinadas funções, e isso gera o que chamamos de risco psicossocial. O trabalho é uma parte da vida. Não trabalhamos apenas para pagar boletos”.
Amad complementou trazendo números: no Brasil, com 220 milhões de habitantes, 100 milhões são trabalhadores ativos e somente ano passado, foram 470 mil afastamentos por saúde mental, um crescimento de 68% comparado ao ano anterior — com destaque para casos de ansiedade, depressão e burnout. Isso gera, nos cálculos de Amad, um impacto de 15% no PIB. “Fora o impacto na vida das famílias. Essa norma de saúde mental dentro da NR-1 é nova e começou a valer este ano. Hoje é uma pauta de saúde pública, de segurança pública, de PIB”.
Rochelli lembrou que a norma legal passou a reconhecer o burnout como doença do trabalho em 2022, ou seja, uma doença bem contemporânea. E é evidente que a pandemia mudou as relações do trabalho. “Pressões de alta performance geram sentimento de culpa nas pessoas. Sem contar a vergonha de admitir que tem depressão ou outra doença mental, porque essa lógica de alta performance nos cobra muito. Esse culto da produtividade, de estar sempre disponível. A mulher ainda é multitarefa, continua a trabalhar ao chegar em casa. Trabalhar exige um sentimento de pertencimento e segurança que nos ajudaria a nos sentirmos seguros psicologicamente para trabalhar melhor. Ambientes tóxicos, assédio moral, ambientes negligentes. Isso faz com que o corpo fale e sinta todas essas doenças somatizando tudo o que está sendo tratado aqui”.
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