A covid-19 desferiu o que alguns consideram o golpe final para os proprietários de imóveis comerciais ao acelerar a transição para o e-commerce, avalia Paulo Bichucher, cofundador da Yuca, startup do mercado imobiliário. “Agora, os escritórios estão no centro das atenções”, diz. Será que esta pandemia vai acelerar a velocidade com que as pessoas estão trocando o escritório pelo trabalho remoto, eliminando a necessidade de manter um espaço físico?

“Temos sido bombardeados com notícias de empresas que consideram mudar de vez para o trabalho a distância. Mark Zuckerberg fez uma transmissão ao vivo de 45 minutos sobre o que o trabalho remoto significaria para o Facebook. Algumas empresas, como Nubank, Twitter, Google e XP Investimentos adotaram o home office em larga escala durante a quarentena, para não dizer pra sempre”, observa Bichucher. “Será que essa mudança alteraria não apenas onde trabalhamos, mas também onde e como vivemos?”

A interação do dia a dia tende a ser a melhor maneira para resolver problemas difíceis e desenvolver uma cultura de equipe

Trabalhar em casa não é para todo mundo

Bichucher acredita e concorda que o home office pode aumentar a produtividade. “No entanto, nem todas as tarefas precisam ser feitas de maneira eficiente e nem todo trabalho tem que ser produtivo”comenta. “Pesquisas mostraram que o trabalho em casa aumentou a produtividade e a felicidade de funcionários cuja produção pode ser facilmente mensurada, como representantes de call center, vendas e desenvolvedores. Também aumentaram para gerentes seniores, que tendem a ter estilos de vida mais estabelecidos – ou seja, casados, com filhos etc. – e são guiados pela automotivação, embora muitos pais gostem de manter uma distância razoável entre suas vidas profissional e pessoal”, diz.

Veja mais: como fica a cultura organizacional no home office

No entanto, quem trabalha com criatividade, pesquisa e conhecimento tende a resistir ao home office, assim como a geração mais jovem. O cofundador da Yuca explica que estar perto dos outros e ouvir suas ideias permite que a criatividade flua. “Já se sabe que a interação do dia a dia tende a ser a melhor maneira para resolver problemas difíceis e desenvolver uma cultura de equipe”, conta.

Os gerentes devem criar novas políticas para permitir que grupos de funcionários adaptem sua presença no escritório de acordo com seus próprios cronogramas

Flexibilizar horários

Já os jovens trabalhadores tendem a dar muito valor à interação social e ainda precisam de supervisão em seus primeiros anos no mercado. “Mesmo na live de Mark Zuckerberg, em que ele compartilhou a pesquisa realizada com funcionários do Facebook sobre o trabalho remoto, os funcionários mais jovens não estavam entusiasmados com a perspectiva de fazer home office em tempo integral. Ele concordou, considerando que os recém-graduados ainda são necessários no escritório.”

Aliás, a mesma pesquisa mostrou que 40% dos funcionários estavam muito ou parcialmente interessados em permanecer totalmente remotos. “Mas nem todo mundo poderia ou estaria disposto a fazer isso, por circunstâncias que vão além da covid-19.

O que os profissionais realmente querem é a flexibilidade, como tudo mais na economia compartilhada, e não políticas definitivas”, destaca.

Em função disso, para Bichucher, a flexibilização de horários se tornará uma tendência, reduzindo as futuras demandas por espaços de trabalho. Ou seja, a pandemia forçou a maioria dos gestores a usar o trabalho remoto pela primeira vez, mesmo que antes eles estivessem céticos quanto à produtividade de suas equipes. “No entanto, após reunir vivências e evidências reais sobre como o trabalho remoto pode ser benéfico – e quando não é –, os gerentes devem criar novas políticas para permitir que grupos de funcionários adaptem sua presença no escritório de acordo com seus próprios cronogramas”, diz.