Acordar, se arrumar, ir ao escritório, almoçar, voltar para o trabalho, pegar trânsito e, finalmente, chegar em casa não será mais uma rotina para a maioria dos colaboradores. Com a pandemia, a dinâmica da jornada de trabalho se modificou e uma boa parcela da população encontra-se em home office. E as empresas ao observar as mudanças na cultura organizacional e já começam a criar novos modelos de jornada, movimento conhecido como  “News Ways of Working” (NWOW).  

Um dos modelos que vem ganhando espaço é o trabalho híbrido, em o colaborador tem mais autonomia na sua rotina de trabalho. André Henker, Gerente de Pessoas & Cultura da JTI, tem grandes expectativas para as novas mudanças na flexibilidade. 

“Havia me mudado para a capital paulista em janeiro de 2020 e, com a pandemia, acabei retornando para o Rio Grande do Sul, em março. Com o retorno ao presencial, pretendo poder me dividir 50% em cada cidade, pois assim posso aproveitar as oportunidades que um grande centro oferece de negócios e networking, ao mesmo tempo que eu e minha família desfrutamos uma maior qualidade de vida em uma cidade menor”, acrescenta. 

Pensado para a pós-pandemia, o trabalho híbrido traz benefícios tanto para a empresa e colaboradores. Pilati explica os benefícios e como implementar dentro das empresas em entrevista à Plataforma Melhor RH. Confira.

Melhor RH: Como funcionará o trabalho híbrido na empresa?

Leandro Pilati: Na JTI a política do trabalho híbrido permite que o colaborador realize até 50% de sua jornada mensal de maneira remota. Essa política entrou em vigor em 1º de abril de 2021, porém, será realmente efetivada quando for possível e seguro o retorno ao trabalho presencial, já que no momento os trabalhadores administrativos da JTI estão em home office devido às restrições impostas pela pandemia de COVID-19.

Cerca de 35% dos colaboradores da JTI estão elegíveis a essa modalidade de trabalho já que integram times que desempenham funções que não necessitam ser realizadas presencialmente na organização. A decisão sobre a forma de trabalho será decidida diretamente entre colaboradores e seus gestores, sem limitação de número de dias sequenciais para o trabalho remoto ou presencial e nem a obrigatoriedade da adesão.

M.: Qual a importância de implementar esta nova dinâmica de trabalho?

Pilati: A empresa vem implementando gradualmente o modelo de “News Ways of Working” (NWOW), novas formas de trabalho que estão em ascensão no mercado de trabalho e que diminuem a rigidez e dão mais autonomia aos colaboradores. Porém, mais do que uma adesão a uma tendência, esse movimento da empresa está ligado a um dos nossos princípios centrais: a liberdade.

Nós sempre reforçamos a importância da liberdade de escolha dos consumidores, a liberdade de se viver a vida como se quer, a liberdade de ser você mesmo, a liberdade de buscar aquilo que te faz feliz. Nesse sentido, a adesão ao trabalho híbrido é mais um passo em direção a esse propósito: proporcionar aos colaboradores a liberdade de trabalhar onde quiserem. Dessa forma, acreditamos que eles poderão atingir o seu potencial máximo tendo a liberdade de fazer escolhas que tenham a ver com seus gostos, estilos e momentos de vida.

M.: Quais serão os benefícios do trabalho híbrido para a empresa e colaboradores?

Pilati: A JTI já estudava a adoção do trabalho híbrido mesmo antes da pandemia, porém, ainda estávamos analisando quais eram as melhores possibilidades para nossos colaboradores. Afinal, era necessário levar em conta os recursos necessários para que cada pessoa pudesse executar suas atividades de casa e tudo mais que possibilitasse a sensação de pertencimento e o apoio ideais para esse modelo de trabalho.

Com a pandemia, esse processo se acelerou, já que precisamos colocar boa parte de nossos colaboradores em home office. Mais de um ano depois do início dessa forma de trabalho vimos que conseguimos manter ou elevar nossos níveis de produtividade.

Nesse sentido, acreditamos que dar mais liberdade aos colaboradores e, assim, fazer com que eles possam se sentir mais livres e felizes será muito importante, principalmente em um momento pós-pandemia, no qual poderemos retornar gradualmente à normalidade e fazer diversas atividades que hoje não são recomendadas. Assim, os colaboradores poderão estar em qualquer lugar para aproveitar esse momento e continuar trabalhando.

Além disso, vimos que essa política tem um potencial grande para atração e retenção de talentos, pois os profissionais têm buscado esse benefício nas organizações. Com a adesão ao trabalho híbrido, também estamos reforçando nosso posicionamento de Employer Branding como uma das melhores empregadoras do país.

M.: Houve uma mudança cultural na empresa em pensar novas alternativas de trabalho?

Pilati: Sim, como citei anteriormente, a empresa vem implementando gradualmente o “News Ways of Working”. Em 2019, por exemplo, introduzimos o horário flexível que já permitia mais liberdade aos colabores, ao escolher o melhor horário para a sua jornada de trabalho.

E todas essas alterações exigem mudanças culturais na organização. Diretoria, gerência e colaboradores no geral precisam aprender a trabalhar nesse novo formato, resolver conflitos, criar laços e, tudo isso, sem que o trabalho fique maçante ou acabe dominando outras esferas da vida. Aos poucos, temos desenvolvido essas habilidades e conseguido realizar mudanças que têm proporcionado mais qualidade de vida e produtividade para todos.

Além disso, algumas atividades de apoio ao bem-estar dos colaboradores que antes aconteciam de forma presencial, como o Programa Você 100%, se adequaram à nova realidade de trabalho. Um exemplo são as aulas de Pilates Flex que acontecem de forma on-line em data e horário pré-estabelecidos, abertas à participação dos colaboradores interessados.

M.: Existe algum projeto/ação desenvolvido para os colaboradores para adequar ao futuro trabalho híbrido?

Pilati: Sim, temos realizado diversas ações para divulgar esse benefício entre os colaboradores, explicar como ele vai funcionar e tirar dúvidas. Um dos pontos que temos trabalhado é que essa modalidade de trabalho é opcional, o colaborador é livre para aderir ou não. Além disso, temos realizado ações para divulgar boas práticas de trabalho remoto e novas formas de trabalho. Entre elas estão a sugestão para a redução dos tempos de reunião de 60 para 50 minutos e de 30 para 25 minutos. A ideia é tornar as reuniões mais produtivas e evitar a fadiga de sair de uma reunião e já entrar em outra. Ou seja, aprendizados que servem para o momento que estamos vivendo, mas que também vão servir para quando houver a possibilidade de trabalho híbrido.

M.: Na visão dos colaboradores, quais são suas expectativas para a adesão no T. H.?

Pilati: Pelo retorno que temos tido, os colaboradores estão muito felizes com essa nova modalidade de trabalho, pois, com o home office, foi possível sentir as vantagens de trabalhar em outro formato que não o tradicional, como, por exemplo, evitando deslocamentos ou tendo a oportunidade de morar em cidades menores. Assim, quando houver o retorno ao trabalho presencial, poderão também desfrutar de até 50% de sua jornada onde quiserem.

M.: Com a pandemia, os colaboradores passaram a trabalhar em home office. Qual foi os desafios para a empresa na gestão dos colaboradores? Foi utilizado alguma ferramenta para a gestão de melhor performance no trabalho?

Pilati: O modelo de home office foi acelerado pela pandemia e demonstrou que o ritmo das entregas e os resultados da companhia melhoraram ou se mantiveram estáveis no último ano. Sua implementação foi repleta de desafios, principalmente pela velocidade que a mudança ocorreu. Precisamos disponibilizar os notebooks e monitores para as pessoas trabalharem, equipamentos para melhor ergonomia.

Tudo isso foi feito por equipes muito competentes que conseguiram responder rápido a esses desafios. Além disso, ampliamos o uso do Microsoft Teams que tem nos auxiliado a organizar o trabalho, realizar reuniões e garantir que todos estejam conectados e se comunicando constantemente.

No meio disso, fomos adaptando nossa cultura organizacional para o ambiente virtual e criando mecanismos para facilitar o dia a dia dos colaboradores. Temos trabalhado bem nesse modelo, mas compreendemos que a volta ao trabalho presencial também vai ser importante, pois a convivência e o olho no olho, ainda mais em um cenário pós-pandemia, serão essenciais para manter a coesão e o bem-estar das equipes, além de manter a cultura da organização.