O que é ser um líder, o que o distingue dos demais? “O líder assume responsabilidades enquanto todos os outros arrumam desculpas”, resume o futurista Carlos Piazza, professor da Casa Educação. “Na realidade, a liderança tem muito a ver com Sun Tzu, autor do livro A Arte da Guerra, escrito por volta do ano 500 aC. Realmente é aquele cara que organiza o exército, que demonstra a importância de avaliar e planejar”.
Piazza, embaixador do Teach the Future no Brasil em parceria com a Universidade de Houston, continua: “É quem tem a inteligência, e de que alguma maneira planifica, orienta. É o vetor do novo horizonte. Então há que ter um líder para nos levar até esse novo horizonte. O problema é que no meio do caminho tem um mundo exponencial, por isso tudo muda, porque na realidade a liderança precisa ser mais ágil do que sempre foi, justamente por causa das alterações que existem do lado de fora das organizações. Então o líder é aquele que desvenda a figura do novo horizonte, e liderança é o ato de organizar as forças que nós temos para atingir os objetivos”.
Segundo ele, com modelos novos de empresas, principalmente as holocráticas, a liderança está distribuída; existe tempo para liderar e determinados tempos para ser liderado. Na realidade, tudo pode ser aprendido, não existe nenhum dom nato. No passado, se confundia com o poder de comunicação dos líderes. Eles têm que ter um poder de comunicação para orientar, explanar claramente, para vetorizar, mas sabe-se que isso pode ser perfeitamente aprendido.
“Um bom líder cocria, entende de tecnologia porque precisa compreender esse benefício. Um bom líder fundamentalmente é polímata”. Carlos Piazza diz que não existe plataforma que ensine pessoas a serem polímatas. “Pelo contrário, a gente continua tendo escolas que formam cada vez mais especialistas. O líder tem que ter o poder de abraçar vulnerabilidades e isso é uma questão de maturidade das lideranças, que não gostam de vulnerabilidades porque se acham muito poderosas ao longo do tempo e estão preocupadas com o curto prazo, porque todas as empresas são ‘curtoprazistas’, então na realidade vulnerabilidades se traduzem em riscos a essa liderança”, acentua.
Para falar de adaptação ao novo, ele recorre a uma comparação com o plástico: “Está pronto para sofrer pressões contínuas de todos os lados e nunca mais volta a ser o que era. Gente com plasticidade entende as mudanças, trabalha para as mudanças, vai junto com elas, implementa”.
Carlos Piazza diz que há necessidade de achatamento das hierarquias, porque na realidade se fala cada vez menos de hierarquias porque vieram do formato das empresas fordistas, nascidas em 1850. Muitas continuam tendo o mesmo tipo de estrutura, de 1850. Então isso de alguma maneira traz um descompasso. “Pode-se trabalhar de um jeito muito criativo, com menos hierarquias e com foco no futuro. Isso também é uma arte a ser aprendida”.
“A liderança polímata estimula as pessoas a entenderem nexo de causa entre muitas ciências ao mesmo tempo, isso é uma coisa que raramente se vê as empresas fazerem. As lideranças são especialidades, então o líder é especialista numa área”. Isso acaba provocando problemas porque a cadeia de impacto está em todas ao mesmo tempo. A liderança polímata compreende os impactos em todas as ciências ao mesmo tempo. A polimatia é a forma de destravamento da versatilidade humana.
Piazza lembra que para navegar nesse mundo 3.0, a única certeza é que não há certeza de absolutamente nada. O mundo complexo, ambíguo, volátil, completamente anárquico só pode ser liderado por gente capaz de entender essa confusão em que vivemos. O sucesso está apenas a uma ideia de distância, gosto muito dessa frase. O líder que consegue traduzir o futuro em tempos presentes sai na frente, porque não é o poder de fazer, mas o poder de enxergar que estamos num mundo exponencial. O líder tem que ter mais afeição futurista e isso não tem nada a ver com ciências ocultas, são técnicas”, lembra.
“Liderar é preparar todo mundo para viver o novo futuro. E é incrível quando se fala sobre isso, porque as pessoas de uma maneira geral têm um medo danado do caos. Lembro que esse caos é um deus da mitologia grega. E esse grande vazio, eterno escuro que o caos traz aponta também um novo futuro, que emerge do caos. As lideranças resistem demais, porque os modelos do velho mundo, falando de neurociência, sempre lembra que temos uma predileção para o cérebro trazer tudo que o passado nos apontou. Por isso, fazer com que as lideranças mudem é um exercício quase missionário”.
Piazza, que se diz um darwinista digital, fala sobre isso em programas na Casa Educação, principalmente o Management 4.0. “O líder hoje tem que entender uma coisa fundamental. Não é o passado que orienta o futuro, porque no presente, olho meu passado e olho mais ou menos para onde a gente está caminhando. Tem que inverter isso, entender que atrair o futuro a tempos presentes muda o presente. Então não é só pensar no passado que muda o meu presente e consequentemente meu futuro. Pensar no futuro também altera o meu presente, então é essa inversão que a gente pede para os líderes fazerem”.
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