Gestão

Competição acirrada

de Olavo Chiaradia* em 21 de junho de 2010

Quem pensa que trabalhar nos EUA e ganhar em dólar é a melhor oportunidade de carreira que algum profissional possa ter está enganado, principalmente para nível de diretoria. E isso acontece devido a fatores econômicos, sociais e políticos que envolvem aquele país e o nosso.

Primeiramente, é inevitável dizer que os EUA são a maior potência mundial e têm a capacidade de influenciar econômica e politicamente os demais países do mundo. No entanto, eles sofreram, no segundo semestre de 2008, uma das maiores crises de sua história. E, logicamente, o mundo foi afetado por consequência disso. Esse período ainda traz preocupações e dúvidas quanto ao futuro daquele país, que hoje apresenta uma taxa de desemprego de 10% – maior que a do Brasil (projeção de 8,5% em 2009).
Não foi só o desemprego que assombrou aquele país, mas a significativa queda e falência de instituições financeiras, com influência direta na concessão do crédito aos consumidores, que, por sua vez, deixaram de consumir de forma voraz e fizeram a economia desacelerar bruscamente. Sem consumo, não há vendas e produção e, consequentemente, faltam empregos. Pessoas desempregadas, bancos quebrados, empresas com prejuízos irrecuperáveis no curto prazo e um salvador da pátria: Barack Obama. A eleição desse novo presidente americano parece ter sido uma injeção de ânimo e fé.

O Brasil, por sua vez, saiu mais cedo da crise. Os bancos não tiveram problemas com dinheiro e as cadeias varejistas tiveram um resultado positivo em 2008. Mas não fomos afetados pela crise? Fomos sim, pois o Brasil é uma economia representativa e em constante desenvolvimento. Nosso consumo externo foi amplamente afetado e as indústrias de base, como mineração e siderurgia, sofreram com a queda brusca da demanda externa. Mas nos recuperamos.

A instabilidade econômica, porém, serviu para fortalecer algumas premissas da nossa economia e nos colocou de vez no cenário mundial como um país atrativo ao investimento estrangeiro, o que refletiu diretamente na Bovespa, que acumula mais de 50% de alta apenas em 2009. Hoje, o Brasil tem mais reservas internacionais do que a dívida externa, exporta mais produtos do que importa e, com a ajuda do governo federal, mais de 20 milhões de pessoas emergiram da linha da pobreza. Não que o nosso país não tenha problemas, mas a evolução constante e estruturada dos últimos anos sinaliza para 2010 um crescimento de 4,8% do PIB e a estabilização de 4,5% de inflação.

As projeções de instituições internacionais apontam o Brasil como a 5ª maior economia global no ano de 2014, superando Inglaterra e França, assim como São Paulo, em 2025, como a 5ª cidade mais rica do mundo. E o que isso tudo tem a ver com remuneração? Muita coisa.

Ganhos a mais
Hoje, um diretor de uma grande empresa multinacional no país ganha mais que um profissional no mesmo nível nos EUA, em todos os elementos de compensação. A diferença, considerando o dólar a 1,72 real, é de 7,3% no salário-base, 16,5% no total em dinheiro target e 12,8% na remuneração total (somatório de salário-base, incentivos de curto prazo target e incentivos de longo prazo).

Ainda que os incentivos de longo prazo sejam mais agressivos naquele país, quando comparamos o pacote total de remuneração (excluindo-se os benefícios), notamos uma diferença significativa, principalmente nos incentivos de curto prazo target, que refletem  quanto os executivos ganhariam considerando uma performance de 100% dos objetivos atingidos.

A prevalência de incentivos de curto prazo, hoje, no Brasil está na faixa de 97% para o nível executivo, muito parecido com o que ocorre nos EUA (93%). Já nos incentivos de longo prazo, a prevalência é maior no mercado americano para esse nível (60%, contra 42% no Brasil) e o programa mais comum continua sendo stock options para ambos.

Contudo, o cenário não é o mesmo para vice-presidentes e presidentes que, dependendo do tamanho da posição, têm uma remuneração maior nos EUA, principalmente para as posições maiores em que a parcela de incentivos (curto e longo) representa algo como 77% da remuneração total anual.

Analisando outros cargos, o mesmo não ocorre para um operador ou para uma posição gerencial. Aliás, no nível operacional a diferença é muito alta e isso reflete a questão da distribuição de renda. No Brasil, o salário de um diretor chega a ser dez vezes maior do que o de um operador de máquina, enquanto nos EUA a diferença cai para quatro vezes. O mesmo ocorre em economias em desenvolvimento quando comparados com mercados maduros. Essas diferenças refletem dois aspectos importantes. O primeiro é o fato de que nos níveis mais altos a busca por profissionais qualificados está acima de qualquer questão econômica e do nível de desenvolvimento do país. Já no nível mais baixo da pirâmide, a relação encontrada de PIB per capita versus valores de mercado é muito evidente e as empresas buscam os recursos de acordo com o mercado local.

Ao observar as projeções de movimentação salarial para 2010, tanto no Brasil quanto nos EUA (5,5% e 2,5%, respectivamente), bem como a estabilização do dólar em 1,70 real, o mercado brasileiro continuará mais agressivo e oferecerá remuneração maior que o americano para um diretor e, definitivamente, seremos
muito mais competitivos nos cargos gerenciais.

*Olavo Chiaradia Junior é consultor e responsável pela área de serviços e informações de remuneração e benefícios do Hay Group Brasil

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