Juliana, do Laboratório Sabin: tornar o conhecimento dinâmico |
Desde 2000, o Laboratório Sabin investe em educação a distância a fim de facilitar a capacitação do corpo técnico da companhia. Os cursos e a plataforma eram da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica. Foi em 2010 que a empresa decidiu direcionar recursos a uma plataforma on-line própria, que hoje já atende 1,8 mil funcionários. “Essa modalidade de educação se justifica por ser uma excelente forma de tornar o conhecimento dinâmico, atualizado e com custos reduzidos”, avalia Juliana Alcântara, gerente de recursos humanos do Sabin. O laboratório não é o único a investir em tecnologia para treinar e desenvolver os funcionários a distância. De acordo com a pesquisa Retrato do Treinamento no Brasil 2013-2014, divulgado no início deste ano pela ABTD, as empresas investem 21% do orçamento de treinamento em recursos tecnológicos, sendo que 11,8% do orçamento anual é destinado ao e-learning. No Sabin, o investimento no treinamento on-line representa 10% do montante destinado à educação da empresa.
E a atenção ao treinamento on-line deve continuar crescendo, acompanhando o ritmo dos investimentos em desenvolvimento das companhias, afirma Alfredo Castro, coordenador da pesquisa e sócio-diretor da MOT, empresa especializada em treinamento e desenvolvimento gerencial. Segundo o estudo, o número de empresas que afirmam ter universidade corporativa cresceu 11% e 55% das companhias têm um executivo-sênior dedicado às estratégias de treinamento, gestão do conhecimento ou de capital humano. Para 2014, as empresas devem direcionar 9% a mais de recursos à área de treinamento e desenvolvimento. “São três fatores que justificam esse aumento: primeiro, esse número representa uma retomada dos investimentos, após uma retração; segundo, a necessidade de treinamento em algumas áreas que têm crescido e precisam se tornar cada vez mais competitivas, como o setor automotivo, o varejo e a área de serviços. Outro motivo é o gap educacional no Brasil, que cria a necessidade das empresas de formar dentro de casa”, explica Castro.
Comunicação virtual
E-learning permite troca de experiências Uma das vantagens do treinamento virtual é que ele cria uma rede com todos os funcionários participantes. E ainda que eles pertençam a áreas diferentes da companhia, por meio da tecnologia conseguem trocar experiências e conhecimento. E é essa troca que ajuda a criar novos processos dentro das empresas. “Um dos maiores motivos do crescimento da educação a distância é permitir que as pessoas invistam em capacitação e conhecimento em qualquer hora e de qualquer lugar, mas há outro ganho: o envolvimento e construção contínua do conhecimento”, conta Juliana Alcântara, gerente de RH do Laboratório Sabin. Na companhia, esse envolvimento tem inspirado funcionários. Segundo Juliana, colaboradores com deficiência auditiva estão construindo um curso de Libras no ambiente virtual para ser oferecido aos colegas. Por meio da plataforma de educação corporativa da Capgemini, funcionários podem sugerir cursos. “Incentivamos que nossos profissionais possam ensinar e compartilhar o conhecimento, mostrando sua expertise e assumindo também o papel de instrutores”, afirma Malena Martelli, vice-presidente de RH da companhia. Aliada a esses fatores, a própria demanda dos funcionários – cada vez mais conectados e sem tempo – justifica o crescimento do uso de ferramentas on-line para o treinamento corporativo. “Temos grande receptividade. Mais de 50% dos colaboradores são da geração Y e nosso negócio utiliza a tecnologia do atendimento até a liberação dos resultados dos pacientes”, avalia Juliana, do Sabin. A capilaridade das companhias também exige uma comunicação cada vez mais virtual. O laboratório começou a expansão nacional em 2012, alcançando mais seis estados e o Distrito Federal e os investimentos em e-learning têm ajudado a companhia a alinhar o conhecimento e a multiplicar a cultura organizacional. |
O mesmo ocorre com a Capgemini, especializada em soluções para empresas. Presente em 44 países e com 130 mil funcionários, sendo 7,8 mil apenas no Brasil, a companhia usa a tecnologia como forma de atender às necessidades do quadro de funcionários. “Esse tipo de ferramenta é atrativo, ágil e mais econômico”, avalia Malena Martelli, vice-presidente de RH da companhia. Lá, a universidade corporativa foi criada em 1989, na sede da empresa, em Paris. No Brasil, ela optou por inserir os treinamentos virtuais em 2009. Batizada de MyLearning, a plataforma permite ao funcionário acessar qualquer um dos 13 mil cursos, em vários idiomas, em qualquer localidade, sendo necessário apenas o acesso à internet e à rede da empresa. Os conteúdos vão de gestão à tecnologia.
Mídias sociais
A adesão dos brasileiros à tecnologia também facilita o crescimento do mercado de conhecimento on-line. “O Brasil tem um alto índice de ‘internetização’ e de uso das mídias sociais. E os brasileiros têm um alto nível de aderência ao uso delas”, justifica Castro. Acompanhando a demanda, as empresas especializadas em treinamento corporativo on-line têm ganhado cada vez mais espaço. A pesquisa coordenada pelo consultor revela que 84% das organizações terceirizam as soluções utilizadas para o treinamento. O Censo EAD Brasil 2012, da Associação Brasileira de Ensino a Distância (Abed), divulgada em 2013, mostra que houve alta de 10% a 20% no número de clientes dos fornecedores de soluções e conteúdo de e-learning. Uma delas é a Crossknowledge Brasil, empresa global presente em mais de 20 países e com 14 anos de existência. Ao todo, a companhia atende 4 milhões de profissionais e cerca de 400 empresas globais, especialmente de grande porte, e viu a demanda por soluções on-line de treinamento crescer ano a ano, segundo Romain Mallard, diretor da empresa.
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Segundo o executivo, o setor de T&D on-line cresce a uma taxa de 25% ao ano. A empresa, afirma, vem superando esse desempenho, ao crescer 40% em 2013. Apesar do crescimento, ainda falta muito para que o setor no Brasil seja sustentável. “Mercados como o Brasil e a Ásia crescem muito mais rapidamente, mas ainda não são maduros”, afirma. Os EUA, diz, ainda são líderes no segmento e representam 65% do mercado mundial de treinamento on-line. Dos clientes da empresa, mais de 80% são companhias privadas em busca de treinamentos corporativos. E é nesse segmento que a Crossknowledge aposta. “Todas as empresas com gestão moderna incorporam o e-learning”, avalia Mallard. “As companhias estão cientes de que o on-line é uma tendência irreversível”, completa.
Castro, da MOT: retomada dos investimento |
Para o professor e coordenador de projetos de T&D da Corporativa Brasil, Márcio Silva, a área de treinamento on-line corporativo tem ganhado corpo nos últimos anos no Brasil, mas ainda é um mercado novo. “Houve crescimento a partir de 2011, principalmente nos cursos de aperfeiçoamento. Enxergamos avanço e o Brasil começa a se acostumar com a tecnologia até porque instituições sérias passam a oferecer cursos de graduação on-line”, avalia o professor. O avanço da educação a distância nas instituições de ensino tem alavancado a modalidade dentro das empresas, ainda que seja em forma de complemento do treinamento. “Nossos clientes têm demandado mais o curso presencial, customizado. É nesse treinamento in company que o aluno tem acesso ao ambiente virtual, com conteúdo on-line, como forma de reforçar o conteúdo presencial”, afirma Silva. De acordo com o professor, considerando o mercado, no entanto, a demanda por treinamento a distância tem crescido e deve ajudar o faturamento da Corporativa a aumentar cerca de 30% neste ano.
Silva conta que nos últimos três anos têm surgido cada vez mais fornecedores de soluções e conteúdo corporativo. Desde 2007 no mercado, a Corporativa Brasil oferece conteúdo para treinamentos in company presencial, com foco na formação de líderes e gestores, para mais de 800 empresas cadastradas. “Existe a necessidade de trazer novas tecnologias educacionais e notamos que é interessante transformar muitos cursos presenciais no formato on-line”, diz o professor. Para ele, o crescimento só não é maior por conta dos custos – ainda entrave para o aumento dos investimentos em treinamento on-line. “Um projeto básico de fornecimento de curso dessa natureza sai por volta de 25 mil a 30 mil reais somente para instalar a plataforma, fora o desenvolvimento do conteúdo”, afirma.
No fim das contas, pesa mais a necessidade do que os custos, acredita Daniel Orlean, diretor da Affero Lab. “Há maior conscientização do empresariado sobre a importância da formação contínua do profissional. Mais do que custo, a preocupação é em não perder talentos, e treinamento traz retorno comprovado”, afirma. Fruto da união das estratégias digitais de ensino da Affero e da metodologia do Lab SSJ, a Affero Lab oferece soluções de ensino para cerca de 200 clientes, dos quais 98% são empresas privadas. Com foco em soluções que oferecem experiência de aprendizado, a companhia tem crescido cerca de 40% em faturamento por ano. E a expectativa é crescer ainda mais, no pé da demanda.
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Mudanças e tecnologia
Liderança ainda é tema mais presente em treinamento |
Hoje, as empresas têm buscado oferecer experiência aos funcionários como forma de engajar o quadro ou mesmo reter talentos. Mas nem sempre foi assim. Não faz muito tempo que o treinamento, ainda mais on-line, era relegado a segundo (ou mesmo terceiro) plano no direcionamento do budget do RH. “Em mercados mais maduros, não se questiona o e-learning como estratégia. No Brasil, ainda há problemas de aceitação, apesar de as empresas concordarem que é um caminho inevitável, e há dúvidas de como e quando começar a investir”, avalia Mallard. Assim como o ensino a distância, o treinamento on-line passou por problemas de aceitação devido à descrença no ensino virtual, acrescenta o professor Silva. “Essa resistência é fundada na falta de conhecimento de como o sistema funciona”, avalia. O especialista ressalta que é difícil substituir o contato humano, mas a tecnologia torna as conexões cada vez mais reais, com interação via vídeos, chats e fóruns. “Há um volume cada vez maior de pessoas que aceitam a internet como ferramenta de relacionamento – isso contribui para a aceitação do treinamento on-line”, afirma.
Hoje, médias e até pequenas empresas se rendem às vantagens do treinamento a distância, ainda que de maneira livre, sem plataforma própria ou fornecedor externo. “Elas estão atentas a esse tema, mas o investimento ainda é proporcional ao tamanho da organização”, considera Castro, da MOT. A migração de executivos de grandes empresas para as pequenas e médias justifica o aumento da importância que essas companhias têm dado ao treinamento virtual. “Esses executivos que vêm de empresas maiores sabem a importância do treinamento para a formação de líderes”, explica Castro. Fazer o conhecimento produzido circular dentro dessas pequenas ilhas de negócios também justifica a importância dada ao T&D on-line pelas pequenas companhias. Mas, no caso das companhias de pequeno e médio porte, o custo pesa. “São realidades diferentes ainda, porque a pequena empresa ainda se preocupa em fechar a conta do final do mês”, afirma Orlean.
Malena, da Capgemini: ferramenta mais econômica |
Outra mudança, que faz crescer o segmento, é a imagem desse treinamento. Há tempos, a educação on-line deixou de ser atrelada à imagem do curso no qual é preciso ler capítulos e, ao final, responder perguntas. “Temos uma indústria de soluções de treinamento que é poderosa e oferece alternativas. O treinamento dos capítulos 1, 2 e 3 é coisa do passado”, avalia. É a tecnologia que mudou a cara da educação virtual e, por consequência, do treinamento on-line. “É um mercado onde há muita inovação”, diz Orlean. Da tela estagnada do computador, com textos e questionários, o treinamento virtual conta com plataformas multimídia, que agregam redes sociais, chats, vídeos e áudios. Agora, o foco é na experiência de aprendizagem.
Alinhado ao negócio
Para o professor Márcio Silva, da Corporativa Brasil, há cada vez mais demanda por conteúdo que tenha aplicação prática no negócio, alinhado com o objetivo da empresa. Além do conteúdo, as tecnologias têm tornado o treinamento on-line mais dinâmico, o que permite a customização do curso, dependendo do setor de atuação da empresa, da área e até mesmo do cargo dos profissionais. Uma tendência é unir o treinamento on-line com o off-line. “É uma necessidade tornar o curso vivo e interativo e permitir que o conhecimento seja compartilhado”, considera o professor. “A tecnologia permite que os alunos criem uma interação maior com os instrutores e com os colegas”, completa.
#L# Considerando as soluções, a tendência é que os treinamentos fiquem mais móveis, afirma Castro, do MOT. “Vamos ver a migração do conteúdo do computador tradicional para os aplicativos, que poderão ser acessados via smartphone ou tablets”, afirma. O único impeditivo para o avanço dessa modalidade de treinamento virtual é técnico: a rede 4G não está consolidada no país e ainda há problemas de conexão nos grandes centros urbanos – que dirá em cidades menores. “Caminhamos em ritmo lento nessas questões, mas temos aderência”, afirma.
Fóruns e comunidades on-line devem crescer ainda mais, afirma Orlean, da Affero. E a mobilidade deve ajudar a tornar a comunicação ainda mais compartilhada. “A aprendizagem informal deve ganhar espaço, por meio de games e dispositivos móveis”, afirma. “Vamos usar o celular no processo de treinamento, e criar uma comunidade de aprendizagem, com foco em prover uma experiência para o público. Contudo, é importante ressaltar que a tecnologia é apenas mais um meio para atingir o mesmo objetivo de qualquer treinamento, a capacitação”, diz.
Score |
Em 2012, foram indicados 1.856 cursos autorizados, sendo que, destes, 6% foram de caráter corporativo. |
A Região Sudeste foi a que mais apresentou concluintes em cursos corporativos. |
Os cursos livres, em 2012, contaram com 4.294.983 matrículas, sendo 17% corporativos e 83% não corporativos. |
A presença das mulheres nos cursos corporativos caiu de 48% para 44% entre 2011 e 2012 |
A presença dos homens subiu, de 52% para 56%. |
Em 2012, as instituições que desenvolvem cursos corporativos tiveram como principais obstáculos o custo de produção (15%), a resistência dos alunos à modalidade EAD (13%) e, empatadas, a resistência dos docentes à modalidade e a evasão dosalunos (11%). |