Carreira e Educação

Dom, talento e vocação

de Redação em 30 de maio de 2018

Por Eugenio Mussak

Conhecer essa trinca – dom, talento e vocação – é tão importante para a realização, para o sucesso e para a felicidade, que me faz primeiramente lembrar da obra do c

Eugênio Mussak, professor, palestrante e empresário / Foto: Divulgaçãoão

ineasta polonês Krzysztof Kieslowski, com o qual podemos fazer uma analogia: o dom é branco, o talento é vermelho e a vocação é azul, e essa trilogia de cores forma o pequeno arco-íris de nosso destino. O dom é branco, espiritual, porque é um presente de Deus (ou, se soar melhor para você, da natureza, que é onde sentimos a presença divina com mais intensidade). O talento é vermelho porque depende da força, do suor, do músculo, da determinação para ser desenvolvido e a

primorado.

A vocação é azul porque representa um chamado, algo que vem do horizonte, da imensidão da linha onde o mar se transforma em céu – da vida, enfim.

O dom é inato: obra do acaso genético ou presente de Deus, quem sabe a verdade? A questão é que algumas pessoas nascem com algo especial que lhes permite realizar bem uma atividade, com extrema facilidade. E não estou falando somente dos gênios. Mozart compunha uma sinfonia inteira em instantes; Niemeyer desenhava uma catedral em um guardanapo, e Ronaldinho Gaúcho faz misérias com a bola desde a infância.

Mas há também a Ivonete, a piauiense que cozinha lá em casa; ela pega uma receita velha e dá o seu toque pessoal. Tem o professor Haroldo, que conseguiu me ensinar matemática no ginásio. E tantos outros anônimos que têm um dom.

Dom vem latim donu: presente, dádiva. Para os romanos da Antiguidade, dom é uma capacidade especial dada de presente pelos deuses. Mas por que apenas a alguns? Eis o mistério, mas os romanos deram uma pista: donu também significa mérito, virtude, merecimento. Logo, o presente divino é merecido. No entanto, a razão para que alguém mereça o dom divino permanece como o mistério que nos faz invejar a imagem de Deus tocando com o dedo a testa de um Mozart recém-nascido, dando-lhe o poder de continuar Sua obra de criação.

Talento é outra coisa – parecida na essência, mas diferente na origem. Ao contrário do dom, o talento pode ser desenvolvido pelo treino, pela prática, com persistência, disciplina e obstinação. Ok, há um componente natural, incrustado na DNA de quem o possui, mas lembremo-nos de Einstein: “talento é 1% inspiração e 99% transpiração”. Há quem tenha dom, mas não tenha talento. São os potenciais desperdiçados, gente que nos leva a dizer: “Deus dá asas a quem não sabe voar”. Não adianta ter inspiração sem a transpiração: é necessário ter disciplina para desenvolver seu potencial, às vezes com sofrimento, muito sofrimento.

A Daiane dos Santos foi descoberta em Porto Alegre dando saltos em um parque infantil. O que ela fazia chamou a atenção de um olheiro (e aqui entra o componente do acaso, a sorte), que identificou na gauchinha um imenso potencial para a ginástica olímpica. Daiane tinha o dom, mas faltava o treino para desenvolver o talento. Ela teve sorte? Sim. Principalmente aquela à qual se referiu Thomas Jefferson, quando disse: “Eu acredito demais na sorte. E tenho constatado que, quanto mais duro eu trabalho, mais sorte tenho”.

Quanto à vocação, trata-se de um substantivo feminino de origem latina que significa “o ato de chamar”. Quem segue a vocação obedece a um chamado. Ouve uma voz e responde com a atitude. E como perceber esse chamado? Para mim essa voz tem um timbre e uma intensidade: o timbre é o prazer e a intensidade é a facilidade. Ao fazer algo que me dá prazer com relativa facilidade, especialmente após algum treino, estou atendendo à minha vocação. E, então, as coisas começam a dar certo.

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