Depois do jogo do Brasil contra o Chile, fiquei incomodado com a reação negativa de alguns setores da imprensa e da sociedade, ao questionarem o choro de alguns jogadores do Brasil na hora do Hino Nacional.
Paulo M. Sucrmont Mello, o Cari, que atua como Coaching Integral e é Diretor do Núcleo Pluri |
Foi um caça as bruxas, uma inquisição tão aquecida que incendiou seus protagonistas, e me leva a uma pergunta. O ser humano que joga profissionalmente não pode se emocionar ao sentir um estádio com milhares de pessoas cantar o Hino de seu país? Na minha visão vimos um time que já vinha sem convencer, desmoronar de vez, pois a única coisa que os unia era a emoção. Será que a critica não foi equivocada? Será não deveríamos chorar pela falta de estratégia, planejamento e maturidade do nosso futebol e do nosso pais?
O que vimos com a campanha da Alemanha culminando na conquista da copa, foi um povo antes considerado insensível, duro e sem sentimentos, se mostrar humano e eficiente. No campo ou nos lugares onde passaram se mostraram humanamente simpáticos, alegres, interativos, com emoção, e nem por isso deixaram de ser eficientes, disciplinados e competitivos.
O que nos faz diferentes de animais é a razão aliada à emoção. Razão sem emoção nos torna insensíveis, e emoção sem razão nos torna passionais. Então a solução é unir a duas para deixarmos fluir nossa humanidade como fez a Alemanha.
A atual crise mundial é resultado de líderes apenas racionais que ao longo de séculos vem ditando um modelo de gerir famílias, empresas e países apenas com a razão, sem emoção, sem sensibilidade, sem humanidade. Sem emoção não somos completamente humanos, somos máquinas implacáveis que não tem a capacidade de envolver, empolgar, engajar, e sem isso não existe equipe. Numa equipe temos colaboração, coletividade e produtividade, e forças para superar dificuldades e inseguranças. O time do Brasil não foi uma equipe, mas a culpa não foi dos jogadores, mas sim das lideranças nada inspiradoras que temos no comando do futebol brasileiro, que seguem o mesmo estilo de liderança também nada inspiradora do país, com uma visão de curto prazo predatória, gananciosa e individualista.
Precisamos valorizar o “soft power” que o povo brasileiro mostrou ao recepcionar os visitantes que vieram ao nosso pais. “Soft power” é emanar poder através da sedução, ao contrário do “hard power” que se estabelece através da coerção. Essa é nossa essência, não precisamos ser “hard” para sermos eficientes, seja na convivência ou em transações comerciais. Ser alegre, simpático e solidário, vende mais, fideliza mais, é sustentável e duradouro.
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Precisamos ser leves e competentes no futebol, nas instituições e no país. Chega de planos “hard” de curto prazo, que visam apenas os resultados objetivos como ganhar uma copa, e olharmos para resultados com propósitos mais elevados como o da Alemanha. O responsável pelo projeto de futebol alemão ao ser perguntados no esporte espetacular sobre a possibilidade de perderem a copa respondeu: “É importante ganharmos a copa, porém o mais importante é cuidarmos do futebol do nosso país”. Nos falta esse propósito maior de fazer pelo prazer de ver bem feito. Dinheiro é fundamental, mas sem um objetivo maior é ganancia, que é individualista, insensível e insustentável.
Nenhuma ação mais complexa de curto prazo tem tempo de evoluir, e por isso é insustentável, enquanto as de longo prazo vão se transformando ao longo do tempo, e permanecem como um legado para seus idealizadores, mantenedores e usuários. Ganhar dinheiro desta forma faz sentido, e nos faz humanos e não seres predatórios, como animais brigando desesperadamente pela carniça.
O hemisfério norte se inspirou em nossa forma “soft” de ser e ver o mundo, e a complementou com a racionalidade e, como resultado, obteve um modelo colaborativo e inspirador. Isso é sustentável. Sustentabilidade é manter a produção e lucratividade de forma equilibrada e saudável no longo prazo, através de gestões “soft power”, e não “hard power” que nos faz adversários de tudo e todos, numa competição tensa, alienante, desmotivada e nada saudável.
No mundo corporativo também não é permitido chorar. Mas isso precisa mudar, sob pena de continuarmos a ter empresas desumanas, apesar de composta por humanos. Estamos lidando com pessoas que têm fragilidades, medos e desequilíbrios. Profissionais que adoecem ou que têm familiares doentes, filhos com problemas, dívidas e mais dívidas. Mostrar estas fragilidades coloca em cheque a confiança dos seus pares. Mostrando suas dores a pessoa queda perante as intempéries da vida. Ao quedar, chora. Mas não é permitido chorar nas empresas. Sinal de fraqueza. É humano demais. O mundo corporativo também é cruel, nesse sentido. Mas é preciso repensar esse tipo de postura. Compreender o humano e as questões do humano tornará a vida nas empresas mais saudável. Aqui também é permitido chorar para ganhar o jogo. Emocionar a equipe. Contar com a ajuda do outro para vencer e alcançar os objetivos.
É hora de sentir e chorar, mas também de aprender a planejar o longo prazo, educar nossa população e instituições, tornar eficiente a aplicação de nossas leis, e reciclar de forma profunda os legisladores de nosso país, das prefeituras ao governo federal passando por confederações esportivas e empresas.
Chorar e ser eficiente para ganhar o jogo da vida de forma alegre, duradoura, humana e planejada, isso é possível! A Alemanha nos mostrou isso. A Alemanha chorou.