Segundo uma pesquisa do Promundo de 2019 sobre paternidade, os pais querem participar mais da criação dos filhos. E apenas 71% das empresas concedem cinco dias de licença paternidade para seus colaboradores, o mínimo exigido pela lei brasileira.
Atualmente, de acordo com a CLT (Consolidação das Leis do Trabalho), os pais possuem de 5 a 20 dias de licença paternidade para cuidar do filho recém nascido, enquanto as mães possuem de 4 a 6 meses – reforçando o estereótipo das mulheres como responsáveis pelo cuidados dos filhos.
No entanto, algumas empresas já entenderam a importância desse benefício, além de contemplar todos os modelos familiares. O objetivo é que os homens possam passar mais tempo dedicando-se aos primeiros cuidados da criança. Além de dividir as responsabilidades com os cônjuges.
Mudança de consciência
Na Youse, plataforma digitl de seguros, o benefício de licença-paternidade estendida prevê 30 dias com a possibilidade de emenda com o período de férias e é voltado para homens, famílias com casais homoafetivos e pais não-consanguíneos.
Com a iniciativa, a empresa tem percebido uma mudança na consciência sobre a paternidade. Tudo isso porque os pais passaram a estar mais próximos dos cuidados dos filhos.
Se dedicar aos gêmeos recém-nascidos, Gustavo e Eduardo, em tempo integral, foi um misto de privilégio e desafio para o pai de primeira viagem Alexandre Chagas, analista de sinistros na Youse.
Dedicação integral
Ele aderiu ao benefício estendido oferecido pela empresa. Cerca de 15 dias após o nascimento dos filhos, sua família toda foi infectada pelo coronavírus e ele precisou se dedicar integralmente aos bebês.
“Também tive covid-19, mas minha esposa, minha mãe e minha sogra precisaram ser internadas em diferentes semanas. Nessa situação, pude me dedicar integralmente aos cuidados dos meus filhos graças ao período de licença paternidade maior”, conta.
“Felizmente, toda minha família se recuperou e meus filhos não tiveram nada. Nesses meus 50 dias em casa, pude reconhecer o quanto este benefício é fundamental, principalmente para a relação com o filho nesse começo de vida, além de não sobrecarregar a mãe, que já possui muitas responsabilidades maternas”, complementa Chagas.
Pai mais participativo
Rodolfo Peixoto, desenvolvedor na Youse, compartilha do mesmo sentimento. “Pela nossa sociedade, a carga fica maior para mulher, entretanto este é o momento de o pai ser mais participativo porque esses primeiros dias exigem ainda mais cuidados”, pontua. Rodolfo é pai de Dalila, que possui pouco mais de um mês de vida.
“Somos uma empresa que estimula paternidade ativa e afetiva porque queremos pais que participem da rotina das crianças de maneira contínua e acompanhem de perto o crescimento das crianças, como as mães são estimuladas a fazer. Para isso, precisamos de práticas e benefícios”, pontua Jorge Branada, consultor de Recursos Humanos da Youse.
Além disso, Branada acrescenta a importância de benefícios que vão além dos primeiros meses de vida, como home office, horários flexíveis, convênio médico para dependentes de até 24 anos, auxílio-babá por até seis meses e auxílio-creche de sete meses a sete anos. Também é enviado um kit para os recém-pais com alguns produtos de cuidados com o bebê. “São benefícios elogiados por nossos colaboradores que contribuem ao longo da vida do filho também”, acrescenta.
Licença paternidade como tendência
A Novartis oferece a licença paternidade de até seis meses. O colaborador-pai pode parcelar a licença em até dois períodos, com o mínimo de 20 dias para cada e tirar de acordo com a licença da(o) companheira(o).
Já a licença-família da JTI institui 20 semanas remuneradas, independentemente de gênero, orientação sexual ou forma como os colaboradores se tornaram pais (gravidez, adoção ou barriga solidária).
A fim de assegurar um processo de implementação tranquilo e a utilização adequada dos benefícios, ela está sendo realizada em fases. Neste primeiro momento a licença-paternidade é de quatro semanas (28 dias) e para as mães de 120 dias. Nos casos de casais LGBTs, é definido o cuidador primário, que tem direito à licença de 20 semanas, e o cuidador secundário usufrui da licença de quatro semanas.
“Foi muito benéfico”
Renan Vianna, técnico de segurança na Japan Tobacco International (JTI), comemorou a oportunidade de acompanhar a esposa e a filha no primeiro mês de vida, sem se preocupar com o trabalho. “Eu senti a necessidade de ter a licença estendida (28 dias) na pele, uma vez que minha esposa, nos primeiros dias de vida de nossa filha, teve um problema de saúde. Consegui ajudar muito nesse momento. Foi muito benéfico”, conta Renan.
O técnico em segurança foi um dos primeiros a ser contemplado com a nova política de licença-família da JTI, em vigor desde janeiro de 2021, contando com um período estendido remunerado. “Para mim, é muito gratificante trabalhar em uma empresa que propõe esse benefício a seus colaboradores”, conta Renan.
“Poder estar próximo de minha família, poder dar carinho e atenção à minha filha nesse início da vida foi muito bom. Tenho certeza de que muitos pais irão usufruir e muito desse momento”, destaca Renan.
Sem obstáculo para a carreira
A partir de 2023, o período de licença de paternidade passará a ser de 20 semanas (140 dias) a todos os colaboradores. Desta forma, a empresa espera reforçar que se tornar pai ou mãe não representa um obstáculo para a carreira, e que ambos têm responsabilidades nos cuidados com os filhos.
“Com a nova política de licença-família esperamos mudar os estigmas que existem sobre os homens e mulheres que se afastam do trabalho para se dedicar às suas famílias. Além disso, a JTI reforça seu apoio e acolhimento a todos os pais, bem como suas escolhas e estilos de vida. Assim, reafirmamos nosso compromisso autêntico em nossa filosofia progressiva de diversidade e inclusão”, afirma Thiago Dotto, diretor de Pessoas & Cultura da JTI.
Vínculo afetivo
E os benefícios da licença paternidade ampliada não se reduzem somente aos pais. “Percebemos um maior engajamento e proatividade dos colaboradores na busca por melhores resultados, pois ao cuidarmos do bem-estar de nossas pessoas, contribuímos para equipes mais motivadas, com vontade de fazer acontecer e ainda contribuímos para a retenção de nossos talentos”, explica o executivo da JTI.
De acordo com especialistas, a participação direta dos pais na vida dos recém-nascidos nos primeiros dias de vida tem importância significativa na criação de vínculo emocional com a criança e aprendizado.
Apoio em todas as fases da vida
A Neoenergia também aderiu à licença de paternidade estendida. Os pais colaboradores podem usufruir de 20 dias ausentes no trabalho, a contar a partir do nascimento ou chegada da criança. E esse benefício também pode ser requisitado por casais homoafetivos e pais adotivos, em um período que pode chegar a 120 dias.
“Temos a preocupação de apoiar nossos funcionários em todas as fases da vida e a licença estendida reforça esse cuidado. Nossa ideia é promover o bem-estar nesse momento único, em que a presença dos pais é tão importante e pode fazer toda a diferença seja qual for o formato da família”, conta Régia Barbosa, superintendente de Desenvolvimento Organizacional da Neoenergia.
O colaborador Cassio Cardoso, que atua na área de TI, solicitou a licença paternidade para o seu terceiro filho, nascido recentemente, em julho. “A licença foi muito importante para mim. Mesmo em casa, minha esposa ainda precisava de apoio e fiquei integralmente com nosso outro filho para não sobrecarregá-la”, conta o pai que também tem um filho de 33 anos.