engajamento a distância é possível?
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Engajamento a distância: é possível?

Cada profissional tem seu contexto de família, estrutura, apoio. As empresas precisam ser receptivas e inclusivas a essas diferenças

Já completamos mais de três meses de pandemia. São mais de 100 dias de home office. Mas esse home office que estamos vendo e vivenciando em nosso dia a dia não é aquele tradicional, de uma ou duas vezes por semana, planejado para atividades que requerem mais silêncio e tranquilidade. Estamos vivenciando uma inversão de práticas, pois, de repente, nos vimos 100% em casa. Junto com a família, tendo filhos inaugurando o homeschooling, por vezes desprovidos da infraestrutura de apoio que costumávamos ter em nossas casas. Ou seja, vivendo na real um “office from home”.

Passado o “susto”, os profissionais estão aprendendo a viver essa nova normalidade. Mas, sem dúvida alguma, o home office “versão pandemia” traz, ainda, desafios. E quando a empresa consegue apoiar seus colaboradores a se sentirem seguros e confiantes, o desempenho naturalmente aumenta. Para um maior engajamento a distância neste momento, é preciso levar em consideração quatro pilares: humanidade; tecnologia; gestor; e colaborador.

Senso de humanidade é fundamental. Entendimento, sobretudo da gestão, de que as pessoas têm maior ou menor dificuldade de trabalhar de casa. Trazer para a pauta a saúde mental e aceitar que a produtividade não será a mesma todos os dias. Também compreender e demonstrar que não existe problema quando no meio de uma reunião aparece uma criança, o cachorro late ou toca o interfone. É um momento de adversidade, que está colocando em xeque protocolos tradicionais do home office. É essencial oferecer um espaço de confiança para que estes temas sejam falados explicitamente. 

O segundo pilar é a tecnologia em si. Para trabalhar bem de casa, é necessário ter um computador, talvez um celular corporativo, uma boa conexão com a internet, um espaço reservado – se for possível –, acesso remoto aos sistemas e ferramentas da empresa, recursos que propiciem conversar com colegas e interagir bem a distância. A tecnologia pode facilitar o engajamento entre pares e níveis hierárquicos diferentes, e deve ser usada com esse intuito.

O papel do gestor é o terceiro pilar. Esse profissional tem responsabilidade muito grande relacionada ao clima organizacional e ao engajamento, pois representa a empresa.

Quando as pessoas dizem que estão satisfeitas ou não com a organização em que trabalham, muitas vezes estão se referindo ao gestor direto.

Mas este momento de trabalho totalmente a distância também pegou os gestores de surpresa. A liderança compartilha os desafios falados anteriormente, e ainda está com novos desafios de negócios, situações imprevistas, e com uma responsabilidade diferenciada na gestão de suas equipes.

É hora de escutar e entender o contexto de cada um. Aprender como administrar as expectativas das pessoas neste novo contexto para que o engajamento e o compromisso mútuo fluam. É necessário haver regularidade no contato, por exemplo. As pessoas não estão no escritório, onde o gestor senta próximo à sua equipe, interagindo com ela de uma maneira totalmente diferente. Remotamente, reuniões periódicas devem colaborar para informar e também para estreitar o relacionamento, compensar a falta de interação presencial, além de promover alinhamento de atividades, entregas e expectativas.

Por fim, não menos importante, há o papel de cada um de nós como colaborador. Segundo o IBGE, 43% da população brasileira tem menos de 30 anos de idade. Vamos combinar que essa população está naturalmente mais acostumada a interagir pela internet. Mais desafiados estão aqueles com mais de 30. Muitos estão tendo de aprender rapidamente a usar ferramentas que não estavam acostumados ou nem conheciam. Cabe a cada um de nós compreender essas diferenças de momento.

Nesse trabalho de casa, precisamos agir profissionalmente, estando disponível, respondendo às consultas, avisando sobre ausências temporárias, provendo respostas, abertos a discutir com seu gestor sobre trabalho ou outras questões. Se temos problemas pessoais que podem impactar as entregas, devemos posicionar que nossa performance ou disponibilidade será afetada. A confidencialidade de questões pessoais pode ser preservada conforme orientação de cada um, mas o aviso da indisponibilidade deve ser claro, e evitar pegar a organização de surpresa. 

A situação atual é transitória. Traz desafios, mas também aprendizados. Vai acelerar algumas práticas que ainda não haviam sido implementadas no mercado, como administração da flexibilidade de horário, flexibilização de dress code, maior entendimento das personalidades e dos perfis dos colaboradores. Diversidade pressupõe o entendimento de que as pessoas são diferentes. Cada profissional tem seu contexto de família, estrutura, apoio. As empresas precisam ser receptivas e inclusivas a essas diferenças. Quando cada uma dessas pessoas se sentir segura de ser quem é, isso gerará engajamento.

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Daniela Cardim

Daniela Cardim é líder de talent acquisition para a América do Sul da Schneider Electric