Tecnologia

Enrolado na web

de Elke Mendonça em 18 de dezembro de 2009

Interação é uma das palavras mais citadas quando o assunto é rede social – seja entre mídias, seja entre pessoas. O ato de compartilhar informações está mudando, também, dentro da internet. E é por esse motivo que a participação das empresas em redes como Twitter, Facebook, Orkut e Linkedin, já deixou de ser facultativa e virou uma obrigação. Trata-se de mais uma maneira de entrar em contato direto com os colaboradores e criar um ambiente de colaboração. Isso porque essas mídias, que foram criadas com o objetivo inicial de entretenimento, quando usadas com criatividade podem ajudar na troca de informação, no recrutamento de profissionais e na formação e sustentação do networking.

Porém, para que as redes sociais tragam todos esses benefícios, deve-se ter muito cuidado com o que se divulga e com o tempo que essas novas ferramentas podem consumir. No Seminário Twitter, Orkut e Flickr – O impacto da nova geração de redes sociais no mundo dos negócios, realizado recentemente em São Paulo, o diretor-geral do Google Brasil, Alex Dias, afirmou que 16% do tempo online no mundo hoje é gasto em redes sociais. “Isso só nos leva a pensar que não podemos subestimar as chamadas mídias emergentes”, ressalta. Mas como utilizá-las de forma criativa e inteligente?
Os especialistas são unânimes: só com o tempo poderemos avaliar o retorno dado, pois estamos todos testando e aprendendo juntos.

E na tentativa de descobrir novas possibilidades, algumas empresas já usam essas mídias para divulgar vagas e recrutar novos colaboradores, por exemplo. Porém, alguns cuidados devem ser tomados antes de divulgar uma vaga no Twitter ou criar uma comunidade no Orkut. É essencial estar preparado para essa nova demanda e para o retorno que essas ferramentas podem trazer. Por isso, deve-se contratar pessoal capacitado para selecionar as informações com rapidez e saber filtrar o que importa no meio de tantas demandas.

A Across, consultoria de desenvolvimento organizacional com foco em gestão de pessoas, aderiu ao Twitter há alguns meses e já conta com mais de mil seguidores. A gerente de negócios da consultoria, Rosana Tavares, acredita que o microblog é uma forma de comunicação sem fronteiras, rápida e de baixo custo. “O retorno é muito rápido, mas nem todo retorno está alinhado à oportunidade de trabalho divulgada”, afirma. Por isso, segundo ela, é preciso aprender a qualificar melhor essas respostas. “Mas, nessa experiência inicial, o que mais nos surpreende é a rapidez do processo”, completa Rosana.

Por enquanto, a empresa ainda não contratou ninguém pelo Twitter. Porém, está realizando uma seleção de trainees, com previsão de término para este mês. Entre os finalistas há candidatos que se inscreveram após a divulgação da vaga pela rede de microblogs. A consultoria também contratou uma assessoria de imprensa para  gerenciar as mensagens no Twitter. Para as redes sociais usadas, especificamente, em processos seletivos, cada gerente do processo é responsável pela troca de informação e atualização da rede. Por exemplo: a Across promove uma parte do processo online e o responsável pela comunidade no Facebook ou no Orkut é o mesmo responsável pelo processo de seleção.

Quantidade ou qualidade?
Quem entrar no mundo dos pássaros azuis do Twitter poderá perceber, em alguns perfis, uma briga acirrada para ver quem possui o maior número de seguidores. Algumas personalidades até criam campanhas que culminam com brindes ao se atingir alguns números de followers. Mas será que mais vale quantidade do que qualidade?

O sociólogo francês e coautor do livro a Árvore do conhecimento (Editora Escuta, 190 páginas), Michel Authier, diretor-presidente da Trivium, empresa responsável pela difusão dos softwares das árvores de conhecimentos, chama a atenção para o segundo item: a qualidade dos relacionamentos criados. “Trabalhar a qualidade das relações pode ser mais importante do que a quantidade de seguidores que se tem no Twitter, por exemplo”, diz Authier. Segundo ele, os canais digitais de comunicação devem ser utlizados com mais critério e cuidado. “Porém, infelizmente, poucas empresas estão cientes disso. Ainda estamos em um estágio muito preliminar do potencial uso da internet e das redes sociais”, completa.

Na visão do jornalista e apresentador do programa Custe o que Custar (CQC), da TV Bandeirantes e um dos debatedores do evento promovido em São Paulo, Marcelo Tas, a principal qualidade de uma ferramenta como o Twitter é a possibilidade de ouvir. “Além de ouvir o que têm a dizer os seus colaboradores, as empresas devem lembrar que a troca de informações de forma objetiva e verdadeira é obrigatória”, explica. Ou seja, para ter sucesso nas redes sociais é necessário saber ouvir e ser sincero em suas colocações para ter credibilidade.

Porém, a intensificação da troca de conhecimentos não significa, necessariamente, uma evolução na qualidade do que é trocado. Para os especialistas, essa é a diferença básica entre redes específicas como a Linkedin (dedicada exclusivamente aos executivos) e os microblogs como o Twitter. “Organizar uma rede significa criar formas de mapeamento e mediação dos conhecimentos que são veiculados pelos participantes”, alerta Authier.

Essas novas formas de comunicação também demandam mais pessoas qualificadas no processo de seleção e isso não garante a melhoria na qualidade do processo de recrutamento, por exemplo, como lembra o sociólogo. “Pode ser algo contraproducente, afinal, mais pessoas envolvidas impacta na alta de custos e tempos dos processos, o que não pode ser bom para nenhum dos envolvidos”, completa Authier. Talvez por esse motivo, nem todas as companhias brasileiras usem essas ferramentas para recrutar novos colaboradores.

Acesso livre
Outro ponto que merece atenção, de acordo com os estudiosos e especialistas, é a liberação das redes nas empresas. Para Rosana, da Across, liberar é inevitável, pois a geração de conhecimento coletivo na organização deve ser estimulada e, para isso, a área de tecnologia da informação da empresa tem de estar preparada para manter a segurança online. Quem compartilha da mesma opinião é o consultor sênior da TGT Consult, Waldir Arevolo. “Os funcionários são os reais colaboradores da empresa e fazem parte do ecossistema dos negócios. Por isso, devem ser motivados a se aproximar e entender melhor o mercado”. Porém, apesar de muitas empresas colocarem essa ideia no discurso, a maioria se contradiz na prática, com a proibição do acesso a canais de comunicação como o YouTube, Twitter, MSN, Skype, entre outros. “É uma verdadeira contradição, mesmo. Mas devemos considerar que estamos em fase de aprendizado e que as empresas são compostas por pessoas, também ainda sem muito conhecimento e experiência sobre o tema. Certamente, num futuro próximo, essa realidade será outra e haverá muito mais integração”, argumenta Authier.

Vantagem competitiva
A liberação e o uso dessas redes por todos os colaboradores de uma companhia levantam outro questionamento para os gestores: criar ou não um código de conduta? Na visão de Authier, a empresa deve alinhar os seus princípios e suas atitudes para que tenham credibilidade e possam atrair pessoas que se identifiquem com o ambiente de trabalho. “Isso é o mais importante a ser feito”, completa.

Para ele, o caminho natural da gestão de pessoas é considerar a inteligência coletiva como um produto que pode gerar vantagem competitiva. E, para isso, as empresas não têm alternativas a não ser integrar novas tecnologias que facilitam o relacionamento entre as pessoas. “A árvore de conhecimentos é uma técnica que nos auxilia a fazer isso de forma muito prática. Na realidade, são essas formas de mapeamento e medição que fazem os diferenciais das redes sociais de hoje”, explica Authier.

Além de toda essa troca de conhecimento e experiências, as redes sociais caminham para uma integração entre mídias. O que se publica hoje no Twitter já pode ser publicado simultaneamente no Facebook por meio de ativação de um aplicativo, por exemplo. Trata-se de uma nova forma de agregar pessoas que têm os mesmos interesses e perfis necessários para os seus negócios, ou seja, um amigo virtual de hoje pode preencher uma vaga real na sua empresa amanhã.

Rede é ponto

– Uma recente pesquisa feita pelo Instituto Digital (iDig) revela que a presença oficial das empresas no Twitter estimula um volume maior de informações sobre a marca. No levantamento realizado junto a 50 marcas brasileiras, 42% delas mantinham presença oficial na rede de microblogs.

– O estudo contou com a análise de aproximadamente 92 mil mensagens e mostrou que, a cada 600 mensagens no Brasil, uma menciona uma das 50 marcas analisadas – o que dá ideia da importância dessa ferramenta para a empresa conversar com seus públicos.

 

Para usar bem

– Esteja preparado para ouvir.
– Seja sincero com os colaboradores.
– Acompanhe perfis compatíveis com as atividades da empresa e que agreguem conhecimentos relevantes.
– Lembre-se de que a conta é uma ferramenta de trabalho.
– Compartilhe a sua experiência.
– Não se esqueça de que as redes sociais não são salas de bate-papo.

 

Dar voz aos jovens

Empresa mineira aposta em modelo de gestão para atrair profissionais da geração Y

Marineide, da Algar Telecom: os jovens talentos querem ser ouvidos

O que fazer para atrair esses talentos da geração Y? Algumas organizações, como a Algar Telecom, apostam numa gestão mais participativa. A partir do modelo empresa-rede de gestão, a empresa do Grupo Algar, de Uberlândia (MG), espera chamar a atenção desses jovens profissionais com menos de 30 anos de idade.

Como explica Marineide da Silva Peres, diretora de talentos humanos da companhia de telecomunicação, nessa arquitetura de administração, que promove a participação direta dos associados nas decisões corporativas, os resultados são mais importantes do que as horas trabalhadas, pois é fundamentado na diretriz de autonomia com responsabilidade.

“Hoje, não há mais a hierarquia forte estabelecida em poder, idade e cargo. Os nossos jovens trabalhadores querem ser ouvidos, eles têm consciência do valor das suas opiniões, e é exatamente isso que fazemos: damos voz e ouvidos a eles”, explica Marineide, acrescentando que ao cumprirem as metas propostas os associados recebem remunerações variáveis e prêmios diferenciados. O modelo de empresa-rede é aplicado em todas as empresas da Algar, que totalizam mais de 16 mil associados em diversos estados brasileiros.

A carreira em Y é outra estratégia da Algar Telecom, pois atende à necessidade de crescimento profissional até mesmo daqueles que não pretendem assumir cargos executivos. “Essa estrutura visa proporcionar, para esse perfil de associados, promoções contínuas em uma carreira paralela dentro do mesmo nível técnico”, conclui Marineide. Dessa forma, muitos profissionais alcançam remuneração e cargos similares aos de um executivo.

Compartilhe nas redes sociais!

Enviar por e-mail