Inovação

Equipes diversas, ideias surpreendentes: o RH no centro da inovação

Com diversidade, diálogo e gestão estratégica, o RH potencializa equipes e impulsiona a inovação nas organizações

de Priscila Perez em 25 de outubro de 2024
Equipes, RH e Inovação Foto: imagem gerada por IA - DALL·E

Quando o RH é o protagonista na gestão de pessoas – e não apenas um executor de processos, a inovação deixa de ser apenas uma palavra da moda e começa a pulsar em todos os cantos da empresa, inspirando equipes a pensar diferente. É o RH que atrai pessoas diversas e cria programas que fazem os times não só funcionarem bem, mas trocarem ideias e colaborarem de verdade. E o melhor: essa troca reverbera tanto dentro quanto fora deles, criando um ambiente favorável à experimentação. Do bem-estar ao feedback, passando pelo recrutamento de gente inovadora, é o RH que azeita tudo. Com lideranças empáticas e equipes conectadas, a inovação é só questão de tempo para um RH assumidamente estratégico.

Em qualquer cenário, fazer com que pessoas com histórias e ideias tão diferentes trabalhem bem juntas já é, por si só, um grande desafio. Mas a mágica acontece quando o bem-estar está no topo da lista de prioridades, e não como uma ação isolada no fim do expediente. Por mais que a diversidade seja o combustível da inovação, colocar essas cabeças para funcionar em sinergia não é tão simples quanto organizar um churrasco entre amigos. O trabalho em equipe flui de forma mais espontânea em ambientes seguros e acolhedores, onde as pessoas podem falar abertamente sobre qualquer questão e testar ideias, sem medo de errar. É nesse terreno fértil, cuidadosamente preparado pelo RH, que a inovação cresce com confiança nas equipes.

Sofia Trombetta da ArcelorMittal

Pavimentando o caminho da experimentação

Quem nunca ouviu que errar é humano? No mundo da inovação, errar não só faz parte do processo, como pode ser a chave para o crescimento das equipes — desde que o RH consiga transformar a “falha” em uma verdadeira ferramenta de aprendizado. Mas como fazer isso? Para Sofia Trombetta, diretora de Pessoas, Saúde e Bem-Estar na ArcelorMittal, e Fernanda Saraiva, diretora de Recursos Humanos da SAP Brasil, a resposta está na criação de um ambiente onde a experimentação é encorajada e o medo de errar fica para trás.

Sofia, da ArcelorMittal — uma das maiores produtoras de aço do mundo — destaca que, em ambientes inovadores, o erro deve ser encarado como uma oportunidade de aprendizado, e não como falha. Mas mudar essa mentalidade requer estratégia. Para ela, o primeiro passo é estabelecer uma gestão de riscos sólida, com critérios de sucesso bem definidos. Assim, os colaboradores podem inovar com confiança, sem comprometer a organização. “Isso garante que todos entendam os limites e saibam até onde podem ir, criando um clima de confiança, onde a inovação é incentivada e direcionada de forma estratégica.”

Trabalho em equipe

Nesse contexto, o papel da Área de Pessoas é fundamental. Ao estimular comportamentos e implementar sistemas que promovam segurança e bem-estar, o RH cria ambientes propícios para a inovação, onde as equipes se sentem livres para explorar novas ideias. Na ArcelorMittal, por exemplo, os programas de intraempreendedorismo oferecem exatamente isso: os times podem testar e evoluir naturalmente, fortalecendo não apenas o espírito coletivo, mas também a colaboração entre os times.

Com o suporte metodológico adequado, os colaboradores aprendem a inovar na prática — experimentando, errando, aprendendo e, claro, gerando resultados para a empresa. “Promover um ambiente inovador é, cada vez mais, um fator decisivo para atrair e reter talentos, garantindo a competitividade e a sustentabilidade do negócio”, analisa Sofia Trombetta.

Equipes, RH e Inovação
Fernanda Saraiva da SAP

Busca por conhecimento

Se na ArcelorMittal a inovação é forjada pelo aço, na SAP a fórmula é tecnológica, mas a premissa é a mesma: criar ambientes seguros onde as ideias fluem livremente. Fernanda Saraiva, diretora de RH da empresa — referência em aplicativos corporativos e IA de negócios — destaca que, embora a inovação esteja no DNA, cabe ao RH cultivar esse terreno com trilhas de desenvolvimento e oportunidades de aprendizado. Para inovar, ela acredita ser igualmente importante incentivar a busca por conhecimento, dentro e fora da empresa, criando novas conexões e perspectivas capazes de “transformar as áreas de forma integrada e dinâmica”.

Um exemplo prático dessa abordagem é o SAP Social Sabbatical, um programa global que une colaboradores para ajudar clientes a desenvolver soluções sustentáveis. “Este ano, tivemos uma edição em São Paulo, com profissionais do Brasil e de outras subsidiárias trabalhando juntos para incentivar práticas ecológicas”, conta Fernanda. Com 12 anos de história, o programa já envolveu mais de 254 participantes, que dedicaram 76 mil horas de consultoria voluntária. E os números falam por si: segundo Fernanda, 94% das organizações acreditam que o apoio recebido terá um impacto significativo nos rumos da empresa, e 97% dos clientes estão satisfeitos com a qualidade do atendimento e o conhecimento técnico das equipes.

RH como facilitador da inovação em equipe

Para inovar, não basta apenas ter ideias; também é preciso que as lideranças saibam escutar, entender e estimular a diversidade de pensamento dentro das equipes. Para Sofia Trombetta e Fernanda Saraiva, o grande desafio do RH é justamente formar líderes que não apenas potencializem a produtividade das equipes, mas que também alimentem a inovação. “A diversidade de pensamento é um dos principais catalisadores da criatividade”, destaca Sofia, diretora de Pessoas, Saúde e Bem-Estar na ArcelorMittal. Mas, de nada adianta ter equipes diversas, com ideias diferentes e histórias para contar, se os gestores não estão dispostos a ouvir.

E falando em ouvir, Fernanda Saraiva, da SAP Brasil, é direta: para se tornar líder, é preciso cumprir certos requisitos e dedicar horas às redes de relacionamento. “Nosso papel no RH é preparar as lideranças para lidar com temas delicados, como escuta ativa, empatia e inteligência emocional”, destaca. Segundo ela, essas competências são essenciais para que os líderes se tornem verdadeiros facilitadores do processo criativo nas equipes, abrindo “espaço na agenda” para que a inovação realmente aconteça – e o RH tem um papel decisivo nesse processo.

Redes de apoio

Com a diversidade sendo um pilar estratégico para impulsionar inovação e criatividade, é crucial que essas discussões estejam livres de vieses inconscientes. Daí a importância de treinamento constante e muito diálogo. “Isso ajuda a criar um ambiente onde diferentes perspectivas não só são ouvidas, mas também aproveitadas para a solução de problemas”, completa Fernanda. Esse tipo de liderança transforma o ambiente de trabalho porque fortalece dois pilares essenciais para qualquer equipe: confiança e respeito.

Na SAP, isso ganha força com as redes de apoio internas, nas quais grupos diversos promovem eventos, debates e pesquisas que incentivam a inclusão e a conscientização por toda a organização. A Business Women’s Network (BWN), que foca no desenvolvimento de talentos femininos e na formação de líderes, é um ótimo exemplo. A empresa também tem grupos voltados à inclusão da população negra, de pessoas com deficiência e neurodiversas, da comunidade LGBTQIAP+, além de iniciativas que promovem a convivência entre gerações. Tudo isso faz com que os colaboradores se sintam parte de uma empresa que realmente valoriza suas perspectivas — o que, claro, só aumenta o comprometimento.

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Foto: imagem gerada por IA – DALL·E

O poder da diversidade

Na ArcelorMittal, a lógica segue o mesmo caminho.Sofia Trombetta destaca que o objetivo é desenvolver líderes inovadores por meio de programas de letramento que transformam gestores em facilitadores da diversidade. Essas lideranças empáticas não apenas escutam, mas garantem que as equipes se sintam à vontade para colaborar e inovar juntas. “Incentivar a liderança a ser exemplo de inclusão e a valorizar as diferentes perspectivas do seu time são passos cruciais”, pontua, citando ainda que lideranças comprometidas com a estratégia de DE&I são responsáveis por mover a organização na direção certa – da inovação e do acolhimento.

Um exemplo concreto disso é o programa Aliados, que promove discussões sobre masculinidade, incentivando reflexões e transformações importantes entre os colaboradores. “O objetivo é aprofundar a formação dos homens em temas ligados à promoção da diversidade e à igualdade de gênero, para que se tornem verdadeiros aliados dessas causas no ambiente de trabalho”, explica Sofia.

Cultura viva

Mas mudar o mindset das pessoas não é tão simples quanto mudar de assunto numa conversa. É preciso provocar mudanças. E dentro dessa jornada de evolução cultural, atributos como união, colaboração e inovação devem ser constantemente instigados. O objetivo, segundo a porta-voz da ArcelorMittal, é fazer com que todos os colaboradores se sintam parte de algo maior e compartilhem o mesmo propósito. E para alcançar esse alinhamento, Sofia lista algumas estratégias fundamentais: fortalecimento das equipes, aprimoramento dos canais de escuta, desenvolvimento de lideranças e a construção de relações de confiança.

O foco, segundo ela, é desencorajar comportamentos desalinhados com a cultura que se quer construir, enquanto atitudes que reforçam os novos valores são promovidas. Além disso, uma das principais estratégias da ArcelorMittal é a realização de pesquisas semestrais com todos os empregados, com o objetivo de captar percepções sobre o que está funcionando e onde há espaço para melhorias. “Essas pesquisas orientam nossas prioridades estratégicas na gestão de pessoas e fortalecem o sentimento de participação e contribuição nas mudanças que estamos implementando”, conclui Sofia.

Composição estratégica de equipes

Entretanto, quem acha que formar equipes diversas é só juntar pessoas diferentes e esperar que a mágica aconteça está bem enganado. Como Sofia Trombetta aponta, o segredo está em como o RH orquestra essa diversidade para potencializar o desempenho de equipes e pessoas. “Promover uma cultura que valorize diferentes perspectivas e experiências é essencial para impulsionar a inovação”, reforça Sofia. Na ArcelorMittal, o RH não só trata a diversidade como uma meta a ser batida, mas como uma prática diária. O resultado? Maior competitividade no mercado, porque, no fim das contas, é da diversidade que as melhores ideias surgem.

Segundo a especialista, desenvolver times com competências e perfis complementares é a chave para uma gestão mais ágil e preparada para acompanhar o ritmo acelerado das mudanças. Essa combinação garante uma aprendizagem mais rápida, porque é nas trocas entre as pessoas que a inovação acontece, inclusive na velocidade que o mercado demanda. Não à toa, a ArcelorMittal investe pesado em canais de recrutamento que atingem públicos diversos, incluindo minorias e pessoas com deficiência. “Expandimos nossas iniciativas de recrutamento para garantir que as oportunidades cheguem a comunidades diversas”, acrescenta Sofia. Esse trabalho coordenado pelo RH não só transforma a cultura organizacional, mas também torna as equipes mais colaborativas e “praticar” a inovação.

Por lá, o RH também cuida para que os processos de sucessão e gestão de performance sejam claros e justos, com indicadores estratégicos que acompanham o avanço da inclusão e o desenvolvimento dos talentos. “Nosso compromisso com o aumento de mulheres na liderança reflete nossa visão de equipes mais diversas e fortes”, reforça Sofia. Um exemplo concreto desse movimento foi a contratação de seis imigrantes venezuelanos, com todo o apoio necessário para sua integração nas equipes da empresa.

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Foto: imagem gerada por IA – DALL·E

Tecnologia e diversidade

Nessa combinação poderosa entre diversidade e inovação, falta só adicionar um toque de tecnologia para tudo funcionar ainda melhor. E é exatamente isso que Fernanda Saraiva, da SAP, defende. Para ela, a tecnologia é a grande aliada para garantir que a diversidade vá além das boas intenções e se transforme em ação prática. “Utilizamos o SAP SuccessFactors, apoiado pela IA generativa Joule, para monitorar e analisar indicadores como a comparação de salários entre homens e mulheres, identificando possíveis discriminações e sugerindo correções”, explica. Essa união de diversidade e tecnologia não só acelera as decisões estratégicas, mas também libera os colaboradores para focarem em projetos de maior impacto.

Além disso, a tecnologia ajuda a destacar as melhores características de cada colaborador para toda a empresa, facilitando a formação de equipes multidisciplinares com habilidades complementares. Em outras palavras, com a estratégia certa e a tecnologia ao seu lado, o RH transforma a diversidade em um diferencial competitivo, gerando soluções mais criativas e inovadoras. “Isso significa não só trazer pessoas de diferentes origens e perspectivas, mas também garantir que essas vozes sejam ouvidas e valorizadas, criando as condições para que futuros líderes reflitam essa diversidade”, reforça Fernanda. Quando diversidade e tecnologia se encontram, o impacto positivo na inovação é praticamente inevitável.

O tempo como aliado da inovação

“Tempo é a moeda da sua vida. É a única moeda que você tem, e só você pode determinar como ela será gasta.” A frase de Carl Sandburg resume bem o dilema da inovação: se o tempo não for bem aproveitado, ela acaba sendo engolida pelo dia a dia. O segredo é integrar a inovação à rotina, sem deixar que ela seja sufocada pela pressão dos resultados imediatos. Para indústrias como a ArcelorMittal, que lidam com alta produtividade, encontrar esse equilíbrio entre o dia a dia operacional e o investimento em inovação é um desafio constante.

Sofia Trombetta reforça a importância de não deixar que a inovação caia no esquecimento quando as demandas do cotidiano apertam. “A primeira ação para avançar é entender com clareza o problema que estamos buscando resolver como organização, em vez de simplesmente focar nas soluções”, aponta. Segundo ela, muitas empresas cometem o erro de “inovar por inovar”, sem uma estratégia clara, perdendo de vista o impacto real que a inovação pode trazer. Na ArcelorMittal, o objetivo é fortalecer a inovação de forma que ela gere resultados significativos e concretos, alinhando a criatividade com a estratégia da empresa.

Um exemplo disso é o programa InovAção, que em 2023 capturou mais de seis mil ideias, com a participação de mais de dois mil colaboradores. “Nosso objetivo é garantir que, quando nossos empregados têm ideias inovadoras, eles encontrem facilitadores, e não barreiras”, finaliza Sofia. Essas contribuições são reconhecidas e recompensadas, fortalecendo ainda mais o processo. Com o apoio de 47 embaixadores da inovação, a empresa garante que a inovação se mantenha viva em todas as áreas, e a meta é continuar nesse ritmo até 2028, impactando diretamente os resultados e o crescimento da empresa.

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