Nos dias 23 e 24 de setembro, o 3º Fórum Melhor RH ESG e Comunicação trouxe à tona a urgência da implementação de políticas de ESG (ambientais, sociais e de governança) nas empresas, destacando o papel fundamental do setor de Recursos Humanos (RH) nesse processo. O evento promovido on-line e gratuitamente pelas Plataformas Negócios da Comunicação e Melhor RH, e pelo CECOM – Centro de Estudos da Comunicação, sob o mote “No Limite da Mudança”, contou com a presença de especialistas e líderes de RH renomados que compartilharam experiências e estratégias sobre como iniciar e solidificar essas práticas na cultura organizacional. A conclusão, a partir de pelo menos dois painéis da programação, é a de que a maior parte da responsabilidade sobre ESG recai sobre o RH – seja na implementação do tema, em empresas iniciantes na agenda socioambiental, seja na consolidação cultural dessa agenda, o sucesso depende de um bom trabalho feito junto aos recursos humanos.
No painel “Sem tempo irmão – Por onde começar se sua empresa ainda não pensa em ESG”, os participantes discutiram o que significa realmente abraçar a sustentabilidade. A head de ESG da Boehringer Ingelheim, Geraldine Mauro, enfatizou que a sustentabilidade deve estar no centro das operações das empresas. Para que isso aconteça, é necessário realizar mudanças culturais e estruturais significativas, em que a atividade empresarial aconteça “sem comprometer as capacidades das gerações futuras”. Ela destacou que o RH tem um papel crucial nesse contexto, pois a cultura organizacional é moldada pela liderança e pela comunicação transparente, envolvendo o treinamento e o engajamento de todos os colaboradores. Geraldine também apresentou o modelo da Boehringer, que conta com um comitê de sustentabilidade composto por líderes de diversas áreas, promovendo uma governança ética e metas públicas ambiciosas – no caso da Boehringer, projetos na área da saúde chegam a impactar 50 milhões de pessoas.
Gabriel Clemente, especialista em sustentabilidade da Vale, acrescentou que a adoção de práticas ESG não é restrita a grandes corporações. Para ele, o primeiro passo para qualquer empresa é simplificar o conceito e contar com um líder engajado que possa catalisar essa transformação. Ele ressaltou a importância de entender os stakeholders e a dinâmica de relacionamento com eles, uma vez que isso pode influenciar diretamente a percepção sobre o impacto da empresa.
Ricardo Fortes, da FIAP, responsável pelas iniciativas ESG no escopo e foco das ODS da ONU e Pacto Global, complementou a discussão enfatizando a necessidade de estabelecer uma rotina de práticas ESG. Ele defendeu que essa abordagem deve ser transversal, não necessitando de uma área específica. A formação e treinamento focados nesse tipo de abordagem podem ser essenciais.
Nesse sentido, Fortes falou sobre a interação entre alunos da FIAP com empresas para resolver problemas reais, utilizando a tecnologia e a inovação, com o objetivo de conscientizar a nova geração sobre a importância da da responsabilidade Socioambiental.
A metodologia é pautada em objetivos internacionais do tema. “Na FIAP convidamos empresas para colocar projetos aqui e desafiar nossos alunos. Muitos desses desafios são pautados nas 16 ODS estabelecidas pela ONU (ODS=Objetivos de Desenvolvimento Sustentável).
Ações concretas e transversais
Já o painel que deu nome ao evento, “No limite da mudança – A responsabilidade do RH na execução e evolução de metas ESG”, abordou a responsabilidade do setor no dia a dia dessas etapas propriamente ditas. Edna Rocha, diretora de RH da Sonepar, observou que as novas gerações demandam cada vez mais ações concretas em relação à sustentabilidade e governança. Em sua empresa familiar, iniciativas como treinamentos online e programas educativos visam incorporar o conceito de ESG no dia a dia dos colaboradores. Ela destacou a importância de envolver todos os funcionários e suas famílias nas discussões sobre sustentabilidade.
Ricardo Burgos, VP de Pessoas e Segurança do Grupo Amil, falou sobre os desafios que as empresas de saúde enfrentam ao alinhar suas missões com a agenda ESG. Ele afirmou que, na busca pela qualidade e segurança, a empresa coloca as pessoas no centro de suas ações, enfatizando a privacidade, a segurança de dados e a colaboração com o SUS. Para Burgos, a complexidade dessa pauta requer uma evolução constante.
Maurício Chiesa Carvalho, gerente de RH e Responsabilidade Social da Tamarana Tecnologia Ambiental, abordou a diversidade cultural do Brasil e como isso impacta a implementação de práticas ESG. Ele ressaltou que, enquanto grandes empresas podem ter indicadores de remuneração atrelados a metas ESG, as pequenas organizações também têm um papel vital, podendo ser protagonistas na área por meio de seus propósitos e culturas internas.
Uma fala comum aos diversos participantes do 3° Fórum Melhor RH ESG e Comunicação foi também que a responsabilidade pela implementação de políticas ESG não recai apenas sobre um departamento, mas que deve ser uma meta coletiva que envolva todos os níveis da organização. O engajamento e a liderança do RH, no entanto – grande parte dos participantes concorda -, são essenciais para moldar uma cultura que valorize a sustentabilidade e a responsabilidade social, preparando as empresas para um futuro mais consciente e ético.
Responsabilidades, com novas legislações à frente
Já o tema abordado no painel “Bem-vindos à Era da Transparência – O que muda para o RH com novas regulamentações e tendências legislativas” mostrou como a área é diretamente impactada, em suas responsabilidades voltadas às políticas ESG, por regulamentações e diretrizes legais de transparência, seja com medidas de governança seja com questões de compliance aplicadas à gestão de pessoas. Beatriz Cara Nóbrega, diretora de Recursos Humanos da We Capital; Fabricio Stocker, pesquisador e professor da FGV EBAPE; e Sérgio Amad, CEO da Fiter, conduziram as discussões.
Fabricio, ao iniciar as discussões, apresentou um panorama sobre o impacto da transparência nas práticas de RH. Segundo ele, muitas empresas ainda demonstram receio diante desse desafio, mas têm a oportunidade de se adaptar às mudanças. O conceito de ESG, embora relativamente recente, trata de questões antigas, como a equidade salarial entre homens e mulheres, a saúde mental, a promoção de bons relacionamentos e a criação de ambientes de trabalho inclusivos. Essas questões, que já são conhecidas há décadas, mostram-se benéficas para as organizações em termos de produtividade, performance e até mesmo no fortalecimento de uma cultura organizacional mais colaborativa. Nos últimos anos, com a aceleração das práticas de ESG, a pressão dos stakeholders para que as empresas revelem suas ações tem aumentado consideravelmente.
Sérgio Amad complementou a fala de Fabricio, abordando a pressão que o RH enfrenta, não apenas dos stakeholders, mas também das lideranças empresariais e dos próprios colaboradores. Ele apontou que o RH deve transitar entre a parte técnica e a operação. Segundo Amad, ao longo do tempo, o RH se desenvolveu durante a Revolução Industrial, sendo influenciado por pensadores como Maslow e Taylor, que destacaram a importância da satisfação humana além do aspecto econômico. A partir daí, o RH se estruturou com base em conceitos como a descrição de cargos, hierarquia e organograma, muitos dos quais ainda são refletidos na legislação vigente, como a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) de 1943 e as Normas Regulamentadoras (NRs). Ele também mencionou o impacto da nova legislação sobre saúde mental e burnout, e como as práticas de ESG, particularmente nas letras S (social) e G (governança), são agora parte integrante do RH nas empresas. Por fim, ele questionou como democratizar o ESG nas organizações de diferentes portes.
Beatriz Cara Nóbrega reforçou a importância de realizar uma avaliação precisa da situação da empresa, com todos os indicadores e riscos mapeados, para que o RH possa monitorar e mitigar possíveis problemas. Ela destacou que, quando o RH está alinhado com as estratégias da organização, participando ativamente de reuniões do board e colaborando com áreas como compliance, jurídico e tecnologia, é possível garantir um ambiente de conformidade e alinhamento com as novas regulamentações. Para ela, o aspecto mais importante nesse processo é a mudança de comportamento dentro das organizações.
(Imagens: Reprodução LinkedIn/ Divulgação)
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