Com base em pesquisas mundiais que apontam para uma relação positiva entre produtividade no trabalho, engajamento corporativo e felicidade, pesquisadora da Universidade Católica de Brasília (UCB) adaptou ferramentas internacionais para relacionar felicidade do colaborador e engajamento nas empresas brasileiras.
Durante seu mestrado, Carla Furtado validou cientificamente e adequou, para a realidade do Brasil, a escala de Felicidade Interna Bruta (FIB), criada no Butão para avaliar a população daquele país, em 1972, com apoio da ONU. Índice é divulgado junto ao Produto Interno Bruto (PIB) butanês desde então e verifica o acesso de uma população a condições que facilitem a experiência de felicidade e não a felicidade propriamente dita.
A verificação proposta pela escala inclui a experiência extra corporativa do trabalhador em nove domínios: Bem-Estar Psicológico, Saúde, Uso do Tempo, Vitalidade Comunitária, Educação, Cultura, Meio Ambiente, Governança e Padrão de Vida. No Brasil, a escala recebeu o nome de Felicidade Interna Bruta do Trabalhador ou FIB-T.
Sua aplicação foi associada à versão brasileira da Utrecht Work Engagement Scale – UWES, empregada para verificar o estado mental positivo do trabalhador, caracterizado pelo vigor (energia e resiliência mental), dedicação e absorção (concentração) nas atividades laborais.
Novo paradigma
Participaram da aplicação das metodologias associadas, ao todo, 429 trabalhadores provenientes de duas empresas privadas, uma localizada no Distrito Federal (1) e a outra em São Paulo (2). A maioria dos participantes da empresa 1 era do sexo feminino (60,9%) e da empresa 2 do sexo masculino (58,9%). A maioria dos participantes trabalhavam há menos cinco anos nas duas empresas (77,4 % e 62,4%, respectivamente). Na empresa 1 a amostra concentra-se entre 25 e 34 anos (53%) e na empresa 2 cerca de 68% concentram-se entre 25 e 44 anos.
Entre os fatores avaliados pela escala FIB-T, a Satisfação com a Empresa indicou maior correlação com engajamento no trabalho, sendo que os fatores Padrão de Vida e Bem-Estar também são positivamente significativos.
Os resultados, segundo Carla, permitem “a constituição de um novo paradigma organizacional: o cuidado com o bem-estar de quem trabalha intra e extra muros da empresa e não mais apenas com o bem-estar ‘no trabalho’”. Dados serão apresentados pela pesquisadora no próximo Congresso Mundial de Psicologia Positiva, em 2022, na Islândia.
Problemas para engajar
“O engajamento é reconhecido como o oposto de burn out”, explica Carla. No entanto, estudo realizado junto a empresas brasileiras verificou que apenas 18% dos colaboradores brasileiros estão totalmente engajados. Dados são de levantamento consolidado da ADP Research em 2020, que avaliou engajamento e resliência de trabalhadores em 25 países. O percentual brasileiro, por sua vez, mesmo em tempos de pandemia, representa um aumento de 4 pontos em relação a levantamento anterior, realizado em 2018 .
Dados para subsidiar empresas
A partir de seus achados, a pesquisadora fundou o Instituto Feliciência, que aplica a FIB-T (ou o sistema FIB– Feliciência, como foi batizado) nas empresas com o intuito de subsidiar as ações a serem tomadas para elevar os níveis de bem-estar dos colaboradores. O objetivo da pesquisadora é reunir designers, desenvolvedores e especialistas em people analytics para converter a pesquisa realizada em uma solução de business intelligence. Algumas organizações já estão sendo atendidas pelo instituto sob esse conceito como o Tribunal Regional do Trabalho (TRT) de Mato Grosso e a Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan). Os resultados tem sido positivos, segundo informações obtidas junto às instituições e as medições seguem em avaliação.