Inovação

Aliadas a iniciativas governamentais, empresas são polos de inovação confiáveis, mas IA merece cuidado, diz levantamento

Reunindo percepções da sociedade sobre o tema, o Edelman Trust Barometer 2024 traz insights sobre cultura de inovação, mas revela pontos de atenção sobre a mais comentada das inovações: a inteligência artificial

de Jussara Goyano em 11 de abril de 2024
Veckstock, via Freepik.com

De acordo com o Trust Barometer 2024, da consultoria Edelman, a confiança na capacidade das empresas de gerar inovação com base na tecnologia, em colaboração com o governo, aumentou no Brasil, passando de 49% em 2015 para 55%. Globalmente, 65% dos entrevistados acreditam que as empresas podem impulsionar a inovação em parceria com governos. A confiança nas inovações em si, no entanto, é regular, justificada na percepção de que o mal gerenciamento dessas transformações pode impactar negativamente a vida das pessoas. Nesse sentido, um dos destaques vai para a inteligência artificial (IA), a inovação mais comemorada e comentada do momento – ela está longe de ser unanimidade, com 53% de aceitação entre os entrevistados. O levantamento ouviu mais de 32 mil pessoas em 28 países, incluindo o Brasil.

Para que a confiança nas inovações se solidifique para além dos números encontrados na pesquisa, a Edelman aponta, com base nas percepções encontradas, que explicar sobre os impactos e garantir transparência é essencial. No ambiente empresarial, CEOs precisam defender empregos e se posicionar quanto às crescentes preocupações éticas diante das transformações.

Preocupações éticas, por sua vez, podem ser o principal ponto de atenção para maior aceitação das IAs. No universo empresarial, isso tem a ver com questões que interferem diretamente nas carreiras, no futuro do trabalho e na manutenção das condições para que a organização seja, de fato, inovadora.

“A integração de dados e a inteligência artificial no ambiente de trabalho são uma tendência crescente, trazendo benefícios em eficiência e inovação”, entende Fernando Giannini, especialista em IA (foto), autor do livro Chat GPT – Modos de pensar as relações com inteligências artificiais (2023, Streammer Educação e Tecnologia). “No entanto, é crucial abordar os desafios éticos, de privacidade e de adaptação que surgem”, ele aponta, para que seja possível confiar nesta tecnologia.

Riscos e oportunidades

Segundo o autor, a automação impulsionada pela inteligência artificial, como o uso de tecnologias como o ChatGPT, merece atenção. Pode resultar, em um futuro próximo em até 300 milhões de empregos perdidos ou reduzidos, segundo um relatório do Goldman Sachs. A novidade já está presente em setores como o fast-food, substituindo funções como a tomada de pedidos, lembra Giannini.

A requalificação desafiadora é outra questão a se analisar, do ponto de vista das oportunidades de carreira e também da obsolescência de certos profissionais. “Estudos indicam que 44% das habilidades dos trabalhadores precisarão ser transformadas nos próximos cinco anos, exigindo uma cultura de adaptação e capacidade de lidar com novas ferramentas”, destaca o autor.

Um cuidado extra nesse processo deve haver sobre o fato de que a confiança excessiva na IA pode levar à perda de habilidades humanas essenciais, como criatividade e pensamento crítico, entende Giannini. “Encontrar um equilíbrio entre a tomada de decisão assistida por IA e a intervenção humana é crucial para preservar as habilidades cognitivas”, ele pondera.

Outros dois pontos abordados pelo autor são:

  • Problemas de Convivência e Integração: A introdução da IA no local de trabalho pode gerar desafios de convivência e tensões entre funcionários com diferentes níveis de habilidades relacionadas a essa tecnologia.
  • Desigualdades e Impacto Variado: As desigualdades podem se aprofundar com a automação, em certas categorias de empregos, como os ocupados por mulheres, mais sujeitos a serem afetados. Os impactos da IA também variam significativamente entre países, acentuando desigualdades globais.

Por fim, o autor lembra que o uso de IA no ambiente de trabalho ainda levanta preocupações de privacidade, com o controle e uso de dados pessoais.

“É essencial um debate abrangente que inclua diferentes perspectivas para compreender totalmente o papel da inteligência artificial na sociedade”, destaca Giannini.

O problema da inovação

Voltando à inovação, ela pode ser, em si, um conceito mal compreendido, exigindo-se que esteja atrelada a disrupção e tecnologia – e nem sempre está, embora assim seja abordada nas principais pesquisas sobre o tema.

“Inovar é abrir novos caminhos que gerem valor, ou seja, produtos, processos ou serviços que beneficiem ou sejam estimados por um grupo de pessoas”, lembra Fabio Josgrilberg, pesquisador e professor universitário da Fundação Getúlio Vargas (EAESP), especialista em inovação, em entrevista recente à Melhor RH. No universo do trabalho, seja para abarcar as transformações iminentes, ou para criá-las, a inovação diz mais sobre adaptações e processos do que sobre tecnologia e disrupção.

Esse é o olhar, inclusive, de premiação promovida pela Plataforma Melhor RH e pelo CECOM – Centro de Estudos da Comunicação, o Prêmio Melhor RH Innovation, que está com inscrições abertas até 31/05 para cases de inovação em recursos humanos. Com 21 diferentes categorias para expressar a criatividade e a geração de valor por meio de iniciativas do RH, o objetivo do projeto é fortalecer a imagem do setor como agente transformador nas organizações.

“Não é possível pensar em inovação nas empresas sem essa ajuda”, entende Josgrilberg, que será um dos jurados dos cases. “É um auxílio que não se esgota em atrair, reter e desenvolver talentos com perfil inovador”, entende o especialista. É importante, também, na construção de um ambiente propício para a testagem de novas ideias e soluções: “O RH é chave para escalar cultura e processos criados a partir de ambientes controlados de inovação para toda a empresa”, pontua o executivo. 

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