Questões operacionais, éticas e rearranjos profissionais e da gestão estão em jogo, quando o assunto é uso de inteligência artificial (IA) nas empresas. Se por um lado ela agiliza processos e permite diagnósticos mais precisos da dinâmica organizacional, de outro, traz dúvidas e impõe a necessidade de treinamentos e de colocar cada coisa em seu lugar: às máquinas o que é das máquinas, e aos humanos o que lhes é inato.
O uso de IA foi discutido sob estes e outros aspectos durante o 3°Fórum Melhor RH Tech, promovido gratuitamente e on-line pela Plataforma Melhor RH e pelo CECOM – Centro de Estudos da Comunicação, em outubro. Habilidades humanas inatas, como empatia, comunicação e capacidade analítica seguem insubstituíveis, entendem executivos que participaram de painéis sobre o tema.
Menos superficialidade
Um estudo da HP neste ano, com mais de 15 mil profissionais de diversas posições, mostrou que 83% estão dispostos a ganhar menos dinheiro trabalhando para empregadores que valorizem inteligência emocional e confiança. Outros aceitariam uma redução de 11% no salário se a liderança fosse empática e emocionalmente inteligente. Relações saudáveis e conexões fortes estão entre as prioridades dos colaboradores, impulsionadas por um contexto de contatos cada vez mais virtuais e impessoais nas empresas.
Os achados corroboram a percepção de Charmoniks da Graça Heuer, Gestora de Capital Humano do Grupo Condor e Vice-presidente da Associação Brasileira de Recursos Humanos no Paraná (ABRH-PR), e Letícia Deus, Coordenadora de RH da RB. As executivas debateram o tema no painel Como ser humano na era das máquinas, ressaltando a necessidade de empatia e escuta ativa em meio a relações cada vez mais digitais e superficiais no trabalho.
“A gente precisa enxergar de que forma a tecnologia vem para nos auxiliar para nos amparar, para a gente ganhar tempo”, destaca Charmoniks, sobre automações ainda necessárias ao setor. “São muitas, que a gente consegue aplicar no nosso dia a dia e fazer com que ele se torne muito mais ágil para muitas situações, nos deixando com mais tempo para fazer o que é inato do ser humano”, enfatiza, sobre as relações de trabalho, às quais as máquinas são, ainda, incapazes de substituir.
Em convergência a esse olhar, Letícia, por sua vez, entende que o colaborador nem sempre quer soluções e respostas ágeis, à moda digital, sendo importante o olhar humano para as mais diversas situações. “Pode ser que o colaborador queira uma palavra amiga, ou muitas vezes queira só ser acolhido”, analisa a executiva. A agilidade e o foco estrito em resultados compete à gestão de processos e não às relações humanas, entende Letícia.
Como apoiadora do evento e uma das mais requisitadas prestadoras de serviço em benefícios, sobretudo em Vales Transporte (VT), a RB também defende o maior estreitamento das conexões no trabalho, compreendendo-o necessário até mesmo nas relações de consultoria e apoio às atividades do RH, no âmbito das soluções que oferece ao mercado.
“No VT, onde há uma enorme complexidade operacional, precisamos ser ágeis e precisos, pois do contrário, haverá um grupo de colaboradores que não irão cumprir sua jornada”, elabora Wilson Carvalho, Diretor Comercial e de Relacionamento da RB (foto).
“Ao longo dos anos os departamentos de RHs foram enxugando e a única coisa que um RH não precisa é de um prestador de serviços que não compra sua obrigação e ao invés de ajudar e apoiar, atrapalhe com uma má prestação de serviço; mas aqui falamos de um conjunto de ações e atitudes, como: presteza, gentileza, agilidade, precisão, resolução, empatia, flexibilidade, paciência etc.”, destaca, sobre habilidades humanas inatas, entre outros requisitos, e que ele considera necessárias a todo o contato profissional e comercial que envolve o atendimento ao setor. A atenção a esse tratamento humano e personalizado seria, inclusive, um diferencial da RB no mercado.
Ética e vieses
Outra discussão particular no uso de inteligência artificial nas empresas é a questão ética e a defesa de valores que são indispensáveis à cultura organizacional.
O painel A máquina e a ética discutiu o uso dessa tecnologia sob esse olhar ético e do ponto de vista da gestão empresarial. Para os participantes, Gustavo Cardial, Professor no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Acre (Ifac) e Sergio Amad, CEO da Fiter, a tecnologia é possibilidade que agiliza processos para os interesses da companhia, contudo é preciso cuidado no tratamento dos dados coletados e processados por meio dessa aplicação.
Sergio e Gustavo destacam que IA não é algo novo e que permeia as diversas soluções de conectividade já utilizadas no mundo corporativo, já transformadas em commodities tecnológicas – o uso ganhou novo destaque com o lançamento recente do Chat GPT, que impressionou os adeptos pelo avanço nas possibilidades de utilização.
Os speakers levantam, então, o atual momento do Brasil em relação a essa tecnologia, e relatam que o país acompanha as regulamentações internacionais sobre o tema. Enquanto na União Europeia se aprovava a GDPR, no Brasil se discutia a LGPD e agora se discute, simultaneamente a outros países, a regulação das inteligências artificiais para quem as desenvolve e utiliza.
“São diferentes responsabilidades para diferentes níveis, digamos, de sensibilidade daquela aplicação específica para IA”, destaca Cardial sobre a usabilidade e o tratamento de informações inseridas nas aplicações. O Projeto de Lei (PL) sobre o tema já prevê alta sensibilidade para aplicações em recursos humanos, ele explica. A legislação visa justamente tornar mais transparentes as relações mediadas pelo uso de inteligência artificial.
Por exemplo, a aplicabilidade da IA em recrutamento e seleção é considerada sensível. E a discussão ética emergente recai sobre possíveis vieses nas seleções “às cegas”, em tese, guiadas por essa tecnologia. Para Cardial, solução livre de viés nesse sentido não existe.
“A questão é estatística. Se você cria um modelo de dados estatísticos que já seguem uma tendência, vai produzir um algoritmo que vai gerar resultados com aquela tendência”, ressalta Cardial. “Não tem como ser viés 0%”, enfatiza, sobre o que toca um ponto sensível das organizações: a real diversidade e a real inclusão demandadas às companhias.
Evitando a repetição
Além do debate sobre o uso de IA na análise de dados e na tomada de decisão, ou em conjunto a habilidades humanas insubstituíveis, outra discussão é sobre o uso de produções geradas por esse tipo de solução.
No painel Como fazer a IA generativa trabalhar para você no RH, Sergio Amad, CEO da Fiter, Juliana Maria da Silva, Head de produto – HCM da Senior Sistemas; e Natália, Head de Produto da Ahgora trouxeram suas contribuições sobre o tema.
Para Natália, é preciso avaliar a originalidade requerida em cada atividade gerativa do setor, para utilizar a IA com responsabilidade e benefícios ao RH.
“É preciso entender tudo aquilo que a gente tá fazendo de forma repetitiva e que tem que ser criado – e nesse ‘criado’ vou colocar aspas, porque na verdade pode ser algo que já foi feito uma, duas, três vezes e não existe, nesse caso, uma necessidade de que seja 100% original”, explica a executiva. E cita a “ansiedade da tela branca” no início dessas atividades a partir de zero conteúdo para justificar o uso de IA generativa, além de exemplos de tarefas e conteúdos repetitivos, que podem ser desenvolvidos com ajuda da tecnologia: planos de remuneração, descritivos de vagas e e-mails diversos para comunicação na empresa.
Juliana destaca a necessidade de uma cultura data driven nas empresas para que as atividades generativas, baseadas, por exemplo, em dados da própria companhia, e tratados por IA, possam orientar decisões adequadas. Para tanto, ela enfatiza, é preciso fazer as perguntas certas aos chatbots e outras ferramentas com esse tipo de tecnologia, e isso acontece criando-se intimidade com as ferramentas de IA, com orientação do RH. A executiva destaca o papel analítico do RH e das lideranças nesse sentido.
“Qual é o tipo de conteúdo que ela [IA] vai compilar e trazer para você? Você pode pedir para que a Inteligência Artificial traga esse insight, como um analista avançado. Então é preciso saber fazer as perguntas certas e saber fazer o uso da ferramenta”, explica Juliana.
Os comandos, perguntas ou prompts podem, inclusive, ter um direcionamento do RH, para que tenham o tom necessário no tratamento dos dados e na comunicação, auxiliando líderes e gestores a propagar a mensagem correta e da forma adequada. “Eu acho que é uma bela iniciativa do RH deixar alguns prompts prontos, com o tom e a voz da empresa. Isso vai gerar posicionamentos muito mais direcionados”, ressalta.
Amad, que participa de todas as reflexões trazidas pelas executivas, deixa, por sua vez, um recado aos profissionais do setor, para que sejam cada vez mais orientados por uma cultura de dados, possibilitando, com a ajuda de tecnologia, melhor planejamento e decisões mais estratégicas.
Assista ao evento completo no YouTube
Dia 23
Dia 24
Assista no Facebook
Dia 23
Dia 24
Assista no LinkedIn (parcial)
Acesse aqui
_________________________________________________________________________________
OFERECIMENTO: