Diversas pesquisas recentes jogaram luz sobre um dos temas mais debatidos atualmente no mundo corporativo: as diferenças geracionais e como elas moldam a relação com o trabalho. Geração Z, Millennials, Geração X e Baby Boomers compartilham o mesmo espaço organizacional, mas têm visões e expectativas diferentes. A Plataforma Melhor RH compilou os principais achados dos estudos conduzidos por Indeed, Hogan Assessments, YouGov e Gupy para entender os pontos de convergência e tensões entre as gerações.
1. Identidade e trabalho: uma ligação profunda, especialmente para a Geração X
Uma pesquisa realizada pelo Indeed em janeiro de 2025 revelou que o trabalho ainda é uma parte essencial da identidade para os brasileiros. No geral, 75% dos entrevistados afirmaram que sua ocupação profissional faz parte de quem são. O destaque vai para a Geração X (80%), seguida por Baby Boomers (77%), Millennials (73%) e Geração Z (70%).
“As expectativas de gerações diversas dentro da mesma equipe impactam diretamente a produtividade e a satisfação no cotidiano”, afirma Lucas Rizzardo, Diretor de Vendas do Indeed Brasil.
2. Equilíbrio entre vida pessoal e profissional: um novo consenso
Apesar de nuances geracionais, existe um entendimento coletivo sobre a importância de equilibrar trabalho e vida pessoal. A Geração X novamente lidera (59%) quando perguntada se prioriza esse fator na escolha de um emprego, seguida pelos Millennials (57%), Geração Z (56%) e Baby Boomers (55%).
No entanto, há uma queda na disposição para trabalhar fora do horário: Baby Boomers (62%) e Geração X (60%) são mais propensos a essa prática, ao passo que apenas metade dos Millennials e da Geração Z compartilha essa disponibilidade.
“As gerações mais novas sinalizam uma reavaliação de prioridades, buscando produtividade e entrega eficiente sem comprometer a qualidade de vida”, destaca Rizzardo.
3. Estilos de comunicação e uso de tecnologia: os atritos do dia a dia
As diferenças geracionais também são evidentes na forma de comunicar e usar ferramentas tecnológicas. Enquanto os mais velhos preferem uma comunicação mais formal, os mais jovens utilizam plataformas digitais e mensagens instantâneas. Isso leva a ruídos na convivência: 31% dos entrevistados apontam divergências de estilo de comunicação como um dos principais entraves no trabalho intergeracional.
O uso da tecnologia também é um ponto de tensão: 33% dos Baby Boomers e 30% da Geração X relataram dificuldades, enquanto os mais jovens estão mais confortáveis com ferramentas digitais. Ainda assim, há troca de experiências entre as gerações: 40% da Geração Z e 35% dos Millennials ajudaram colegas mais velhos com tarefas como anexar arquivos a e-mails. Por outro lado, 17% da Geração X e 20% dos Baby Boomers também colaboraram com os mais jovens em atividades como impressão de documentos.
“Essa é uma grande oportunidade para superar barreiras geracionais, tecnológicas e de comunicação”, sugere Rizzardo.
4. Ambição, dinheiro e desilusão: os contrastes da Geração Z
Embora muitas vezes retratada como desapegada, a Geração Z demonstra altos níveis de ambição. Segundo Roberto Santos, da Ateliê RH, “Na verdade, a Geração Z desromantizou a relação com o trabalho. Eles estão mais interessados em ganhar dinheiro”.
O estudo da YouGov (2024) reforça essa visão: apenas 43,5% dos jovens declararam amar seu trabalho – o menor percentual entre as gerações. Já 47,4% estão mais focados em estabilidade financeira do que em ascensão de carreira.
Além disso, dados da Hogan Assessments apontam que os Gen Z preferem aprendizagem formal, são mais leitores (59%) e apresentam maior pontuação em altruísmo, valorizando causas sociais e empresas com propósito.
Contudo, também se entediam com facilidade e podem demonstrar comportamentos percebidos como arrogantes. Ainda assim, o estudo não confirma que essa é uma tendência da Geração Z, sugerindo que o comportamento pode estar mais ligado à desilusão com o mercado do que a traços de personalidade.
5. Clima organizacional, engajamento e permanência nas empresas
O Relatório de Clima & Engajamento da Gupy (2024) revela uma média de permanência de apenas 9 meses entre colaboradores de 18 a 24 anos.
Guilherme Dias, CMO da Gupy, comenta: “A Geração Z tem outras ambições e não quer herdar a cultura que perpetuamos”.
A solução, segundo ele, passa pela escuta ativa, lideranças preparadas e ferramentas inteligentes de diagnóstico de clima para aumentar a retenção desse público e de maneira geral.
Apesar das diferenças, as diversas gerações compartilham uma busca comum: sentir-se parte de um ambiente de trabalho justo, acolhedor e com possibilidades reais de crescimento. Entender essas nuances pode ser não apenas estratégico, mas essencial para empresas que desejam engajar e reter talentos em um mercado em constante transformação.
“Criar um espaço onde a troca de experiências é incentivada e as expectativas de equilíbrio entre vida pessoal e profissional são respeitadas pode melhorar o engajamento e a satisfação dos funcionários, independentemente da idade”, conclui, por sua vez, Rizzardo.