A confiança tornou-se um ativo essencial na gestão de pessoas. Em empresas que atravessam transformações constantes, a figura do chefe controlador perde espaço para líderes que inspiram por influência, clareza de propósito e comunicação genuína.

Na opinião de Cris Castro, diretora de RH da Syngenta, “influência exige relacionamento bem construído, baseado em confiança e empatia. “É entender interesses e necessidades do outro para criar propostas de ganha-ganha. Não se trata de autoridade, mas de reciprocidade”.
Já Adriana Cohen, líder de Total Rewards na Alstom, destaca a importância de preparar o terreno antes mesmo da contratação. “O cuidado começa antes da entrada do colaborador. Criamos materiais de pré-onboarding para apresentar valores, cultura e benefícios com clareza. A pessoa precisa saber o que esperar — isso reduz ansiedade e alinha expectativas.”
Para Renato Luzzi, diretor de Pessoas, Mobilidade e Logística na SulAmérica, clareza é sinônimo de confiança. “Quando o líder traduz estratégia em ações mensuráveis e compartilha isso com transparência, muita energia que seria gasta em controle vira performance. Conectar tudo ao propósito fecha o ciclo”, conclui.

Na visão de Edna Rocha, diretora de RH da Sonepar, o desafio também é geracional. “As novas gerações não compram o controle cego. Elas ficam quando são influenciadas por exemplo, ética e comunicação clara. Autoridade sem propósito só afasta.”
Tatiana Barrocal Porto, Chief People Officer da NAVA, acrescenta que a simplicidade deve guiar todo processo. “Falar o óbvio ainda é necessário, porque muitas vezes as mensagens não chegam de forma clara. Simplicidade e validação com quem está na ponta evitam ruídos que viram resistência”, pondera
Comunicação que sustenta a confiança
Se a confiança é o alicerce, a comunicação é a argamassa que mantém a estrutura de pé. Para os executivos, sem clareza e objetividade, a influência perde força e abre espaço para interpretações equivocadas.

Adriana defende formatos que conversem com o ritmo dos líderes. “Entregar um guia de uma página, direto ao ponto, ajuda gestores sobrecarregados a repassarem a mensagem certa sem perder nuance. Objetividade também é cuidado.”
A executiva cita ainda iniciativas inovadoras da Alstom. “Criamos uma série de podcasts internos sobre saúde e qualidade de vida. É uma conversa fluida, atual, que engaja e amplia o alcance das mensagens sem burocracia”, exemplifica.
Cris Castro alerta para o risco de distorção. “Influência não é manipulação. A primeira é ética, transparente e busca benefício mútuo; a segunda explora vulnerabilidades. Confiança morre quando há atalho.”
Na Sonepar, Edna Rocha aposta na escuta ativa como prática estruturada. “Promovemos encontros de escuta para entender dores e identificar soluções entre áreas. Quando a pessoa enxerga o impacto do que faz no todo, o sentido do trabalho volta.”
Luzzi lembra que autenticidade é um filtro inegociável. “Feedback contínuo e reconhecimento explícito mantêm expectativas alinhadas e fortalecem a colaboração. Sem isso, a mensagem escorre pelos dedos.”
Tatiana Porto acrescenta que até a inteligência artificial pode ser aliada. “A IA ajuda a simplificar mensagens e personalizar por público, acelerando estratégias de comunicação. O ganho está na objetividade com respeito ao contexto.”
Processos, autonomia e responsabilidade
Em culturas de confiança, o controle não desaparece: ele muda de função. De instrumento de cerco, passa a ser trilho que garante autonomia com responsabilidade. “Influência e controle saudável podem coexistir”, avalia Edna Rocha. “Processos simples e claros caminham quase sozinhos. Prefiro ‘monitorar’ a ‘controlar’: acompanhar para orientar, treinar e conduzir, não para punir.”
Na Syngenta, Cris Castro reforça a importância do equilíbrio. “O time valorizou a autonomia, mas também reconheceu a exigência combinada como motor de desenvolvimento. Acordos claros elevam a régua sem sufocar.”

Renato Luzzi insiste que o dado é um aliado para tornar a liderança mais madura. “Usar informação para traduzir estratégia em rotas jogadas às claras reduz assimetria. Com caminho e papel definidos, a energia volta ao que interessa: entregar valor.”
Cris detalha ainda o modelo de liderança praticado na empresa. “Trabalhamos com três Cs e um A: colaboração, curiosidade, coragem e autorresponsabilidade. Essa combinação favorece a segurança psicológica e resultados.”
Tatiana complementa que o aprendizado ativo é fundamental. “Treinar com prática, permitir erro seguro e convidar outras áreas a validarem comunicações melhora a qualidade e evita vieses de especialista. A síntese é clara: confiança exige clareza sobre começo, meio e fim de cada mudança, governança acessível e canais de retorno que funcionem de verdade.”
Propósito compartilhado e voz de quem faz
A confiança também se fortalece quando o propósito deixa de ser slogan e passa a orientar decisões, métricas e histórias contadas por quem vive a marca por dentro. “Nosso propósito é cuidar das pessoas”, afirma Renato Luzzi. “Quando cada função enxerga sua contribuição para esse cuidado, o pertencimento cresce. Aí o orgulho deixa de ser campanha e vira hábito.”
Edna Rocha defende transformar colaboradores em embaixadores. “Já vi programas que profissionalizam perfis no LinkedIn e colhem depoimentos reais de quem trabalha na empresa. Isso aumenta a atração de talentos e reforça a cultura com voz autêntica.”
Cris Castro segue na mesma linha. “Incentivamos embaixadores da marca respeitando estilos pessoais. Orgulho genuíno não se coreografa; se cultiva com ambiente onde as pessoas possam ser quem são”, argumenta.
Para Adriana Cohen, a liderança precisa usar o que patrocina. “Programa de reconhecimento só vira cultura quando os líderes praticam. Exemplo arrasta”, atesta.
Os entrevistados concordam que, quando propósito, exemplo e voz se encontram, a influência floresce. O resultado é uma organização mais coerente, menos refém de controles e mais preparada para sustentar performance no longo prazo.
Adriana lembra ainda que cuidar também é estratégia. “Oferecemos suporte psicológico e um programa robusto para gestação, retorno e primeiros meses do bebê. Bem-estar não é modismo; é produtividade sustentável”, destaca.
Tatiana Porto reforça que a saúde mental entrou definitivamente na agenda corporativa. “As organizações precisam de políticas claras e ritos que sustentem ambientes inclusivos e acolhedores.”

Edna sintetiza a ideia em gestos simples. “Cumprimentar, perceber quando alguém não está bem, oferecer ajuda. Pequenos gestos criam padrão cultural. Quem é cuidado quer cuidar.”
Cris lembra do núcleo do estilo de liderança que defende. “Empatia, perguntas certas e busca honesta por ganho mútuo. Influência é troca. Sem isso, não há ponte que aguente.”
Renato Luzzi também destaca a autenticidade. “Comunicar de forma contínua, alinhar expectativas, reconhecer esforços e transformar o propósito da empresa no propósito de cada um. É isso que sustenta a confiança.”
O consenso é que a cultura de confiança não é atalho, é caminho. Feita de acordos claros, processos simples, exemplos consistentes e decisões que tratam adultos como adultos, ela transforma a liderança em influência positiva. Onde isso acontece, líderes controlam menos, inspiram mais — e as pessoas escolhem ficar.
Liderança por confiança, autonomia e influência foram assuntos debatidos no 5º Fórum Melhor RH Felicidade Corporativa, uma iniciativa das Plataformas Melhor RH e Negócios da Comunicação, com apoio do Cecom – Centro de Estudos da Comunicação, realizado nos dias 4 e 5 de agosto.
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