A saúde dos colaboradores deixou de ocupar um espaço periférico nas áreas de Recursos Humanos e passou a integrar decisões estratégicas. Em um cenário de pressão por resultados, crescimento acelerado e mudanças constantes, lideranças de RH assumem um papel central.
Mais do que ampliar benefícios, essas lideranças estruturam jornadas de cuidado conectadas à cultura, à liderança e ao desempenho. Casos de empresas de tecnologia, telecomunicações e do ecossistema de bem-estar ilustram esse movimento. Em comum, está a compreensão de que cuidar das pessoas é condição para a sustentabilidade do negócio.
Saúde como pilar estratégico da cultura organizacional

modelo que funcione melhor para
cada pessoa, sem impor padrões
rígidos”
Na Cisco América Latina, a saúde dos colaboradores está diretamente conectada à forma como a empresa entende cultura e liderança. Amanda Pinheiro, líder de Pessoas e Comunidades, afirma que bem-estar sempre foi prioridade estratégica. “Adotamos uma abordagem centrada no ser humano, com comunicação aberta, feedback respeitoso e segurança psicológica”, destaca.
Segundo a executiva, essa visão orienta decisões sobre modelos de trabalho, rituais de desempenho e desenvolvimento de lideranças. “O objetivo é criar ambientes nos quais performance e saúde caminhem juntas”, justifica.
De acordo com Amanda, a Cisco não define número fixo de dias presenciais, respeitando contextos individuais e dinâmicas de equipe. “Buscamos um modelo que funcione melhor para cada pessoa, sem impor padrões rígidos”, explica Amanda. Segundo ela, essa flexibilidade contribui para reduzir sobrecarga e fortalecer autonomia. “Além disso, reforça a confiança como valor central da cultura organizacional”, completa.
Outro eixo importante, de acordo com a executiva, é o investimento em programas estruturados de bem-estar. O Cisco Pavelka, presente globalmente, atua nas dimensões física, mental, social e emocional. “Trabalhamos Comer, Suar, Pensar e Conectar de forma integrada”, afirma Amanda. Em 2025, o programa ganhou reforço com ações presenciais focadas em segurança psicológica no Brasil. “A proposta é transformar cuidado em prática cotidiana, não em iniciativa isolada”, pontua.
Saúde mental e riscos psicossociais no centro das decisões

ser reativo para se tornar preventivo”
Na Ligga Telecom, a saúde emocional ganhou centralidade diante de um contexto de crescimento e transformação organizacional. Isabela Sena, diretora de Gente e Comunicação, explica que o tema passou a ser tratado com método. “Estruturamos a agenda conectando saúde mental, sustentabilidade do negócio e preparação da liderança”, afirma.
Segundo a executiva, esse movimento levou a empresa a rever prioridades e práticas de gestão. “O cuidado deixou de ser reativo para se tornar preventivo”, ressalta. Um marco dessa trajetória foi o mapeamento de riscos psicossociais com metodologia internacional. A iniciativa antecipou exigências da nova NR-1 e ampliou a capacidade de diagnóstico da organização. “Os dados nos permitem identificar riscos e direcionar ações de promoção à saúde”, explica Isabela.
De acordo com a diretora da Ligga, essas informações orientam programas de desenvolvimento emocional e liderança. “Com isso, a empresa ganha previsibilidade e foco estratégico”, garante.
A formação de lideranças aparece como eixo estruturante dessa jornada. Programas como a Escola de Líderes incorporam temas como autoconhecimento e segurança psicológica. “Líderes são mediadores diretos da saúde no dia a dia das equipes”, reforça Isabela. Segundo a diretora, o preparo inclui lidar com mudanças, conflitos e conversas sensíveis. “Esse investimento sustenta ambientes de trabalho mais seguros e saudáveis”.
Bem-estar, flexibilidade e cultura como ecossistema de cuidado

passou a ser vista como antídoto à
pressão cotidiana”
Na Unico, o bem-estar entrou na agenda estratégica a partir de uma escolha consciente da liderança. Rafaela Provensi, diretora de Operações e Pessoas, afirma que o cuidado é compromisso ético. “Não trouxemos o bem-estar como tática de produtividade, mas como compromisso com nossos Seres”, explica. Segundo ela, essa visão deu origem ao programa CareU, que estrutura a jornada de cuidado. “O crescimento só faz sentido se for sustentável para quem constrói a empresa”, argumenta.
Uma das mudanças mais relevantes, de acordo com a executiva, foi o redesenho do orçamento e dos benefícios. A Unico criou um ecossistema flexível, com destaque para o Benflex. “O colaborador decide como distribuir o benefício conforme seu momento de vida”, afirma Rafaela. A empresa também investiu em parcerias como Wellhub, TotalPass e iniciativas próprias. “O Conecta Sports, por exemplo, fortalece saúde física e conexão presencial”, acrescenta.
Segundo Rafaela, a escuta ativa revelou insights importantes sobre saúde mental e vínculo. “Nos surpreendeu perceber a força do contato presencial em uma empresa digital. A maior demanda não era por novas ferramentas, mas por olho no olho”, relata. De acordo com a executiva, a partir disso, ações simples ganharam papel estratégico no bem-estar emocional. “A conexão humana passou a ser vista como antídoto à pressão cotidiana”, revela.
Dados, engajamento e impacto no negócio

consideram bem-estar tão
importante quanto salário”
Do ponto de vista do ecossistema, o bem-estar corporativo vive uma mudança estrutural no Brasil. Ricardo Guerra, CEO do Wellhub no Brasil, observa que o tema virou critério de decisão de carreira. “Hoje, 89% dos brasileiros consideram bem-estar tão importante quanto salário”, afirma. De acordo com o executivo, essa expectativa pressiona as empresas a amadurecerem rapidamente suas estratégias. “O bem-estar deixa de ser benefício e vira pilar cultural”, destaca.
Guerra aponta que muitos programas falham por falta de personalização e liderança engajada. “Pacotes padronizados e ações cosméticas não escalam”, alerta. Dados de um estudo do Wellhub mostram que empresas com liderança engajada têm até 80% de adesão. “Sem esse exemplo, a participação cai drasticamente. A cultura define o sucesso das iniciativas”, adverte.
Segundo o CEO do Wellhub, os indicadores reforçam a relação entre bem-estar e resultados. Os estudos mostram redução de custos médicos entre colaboradores altamente engajados. “Quem usa programas estruturados apresenta menor sinistralidade“, detalha Guerra. “Além disso, há impacto em engajamento, retenção e produtividade. O bem-estar passa a ser estratégia de gestão da força de trabalho“, reforça.
O papel da liderança na consolidação da agenda de saúde
As lideranças de RH entrevistadas pela Plataforma Melhor RH concordam que a liderança é o principal fator de sustentação dessa agenda. Na Cisco, líderes recebem preparo contínuo para lidar com saúde mental e sobrecarga. “Coaching e formação ajudam a ampliar repertório e segurança”, afirma Amanda Pinheiro. Segundo a líder de Pessoas e Comunidades, o foco é transformar cuidado em comportamento cotidiano. “Sem liderança preparada, o discurso não se sustenta”, afirma.
Na Unico, o desafio está em equilibrar intensidade e longevidade. Rafaela Provensi reconhece que a cultura orientada a impacto pode gerar autocobrança. “Precisamos educar para mostrar que descanso faz parte da performance”, afirma. A executiva ressalta que rituais simbólicos ajudam a reforçar essa mensagem. “O cuidado passa a ser elemento cultural, não exceção.”
Ricardo Guerra, do Wellhub, reforça que a virada acontece quando o topo assume o tema. “Bem-estar só vira vantagem competitiva quando começa na alta liderança”, afirma. Para ele, relatórios e dados traduzem saúde em linguagem de negócio. “A liderança investe quando enxerga retorno concreto. Assim, saúde deixa de ser custo e se consolida como valor estratégico”, finaliza.

