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Mantendo o barco à tona em águas turbulentas

de Marvio Portela em 2 de abril de 2020

A maioria dos gestores deve conhecer o conceito de “jogo infinito”, de Simon Sinek, que faz muito sentido, considerando o território desconhecido pelo qual estamos atravessando neste momento. Então, pensei em compartilhar alguns pensamentos sobre essa ideia, que é parte das ferramentas que tomadores de decisões podem usar para manter a embarcação à tona apesar dessa turbulência. Afinal de contas, estamos todos no mesmo barco.

Para aqueles que não tiveram a chance de ler ou ouvir a respeito das ideias de Sinek, um bom resumo é que, até recentemente, nós sabíamos quem o então chamado “inimigo” era. Nós conhecíamos as regras. Quem marcasse mais pontos ganhava a partida, ponto final. Mas isso não é mais verdade.

O fato de que jogadores invisíveis podem surgir do nada é evidente mesmo nas ocorrências mais simples da vida. Outro dia, no Brasil, depois do almoço, comprei alguns doces caseiros de uma moça que os vendia em uma esquina na rua. Nós tivemos uma breve conversa, e ela me contou que seus negócios vinham diminuindo nos últimos tempos.

De volta à minha mesa, no mesmo dia, me ofereceram doces parecidos, mas lindamente embrulhados, produzidos pelo marido de uma colega de trabalho. Isso me fez pensar na moça de antes, que não fazia ideia do porquê de suas vendas estarem diminuindo ou de quem é sua concorrência. Isso reforça que o jogo não tem mais regras ou jogadores definidos.

A certeza sobre o que você precisa para vencer não existe. E isso nunca acabará.

No contexto atual, é muito provável que a gestão de muitas empresas entre em pânico ou se deixe distrair dos objetivos que ainda precisam ser alcançados para simplesmente manter o barco em movimento ou para oferecer caminhos para as equipes seguirem, apesar dos desafios.

É muito difícil, principalmente em um contexto de trabalho remoto, não seguir a evolução da tragédia humana trazida pelo novo coronavírus. Mas talvez a mudança atual na ordem mundial e o movimento em direção a um jogo ainda mais infinito possam trazer algumas lições valiosas que devemos manter na nossa mente conforme nós enfrentamos tudo isso.

Apesar de eu não querer ser determinista em um cenário tão desafiador, vale a pena pensar no que manterá as empresas à tona em tempos assim. Para isso, eu vou, novamente, utilizar as reflexões de Simon Sinek que datam de alguns anos atrás.

Na sua famosa palestra “Comece pelo por que”, no TED Talk de 2013, Sinek propõe um argumento muito atraente sobre propósito, começando pela pergunta “por que”. Por que sua empresa existe? Por que você consegue agregar valor para o cliente? Por que eles deveriam se importar?

No SAS, nós acreditamos que a curiosidade é o motor que aciona tudo que fazemos – e, nesse contexto, “por que” é nossa pergunta mais frequente. E esse é o motivo de termos passado pelos altos e baixos da economia global por mais de 40 anos. É o que nos mantém no jogo, que, até onde sabemos, sempre esteve em evolução.

Entretanto, perguntar “por que” não é o único ponto relevante ou mesmo o mais importante na situação que enfrentamos atualmente. O “quem”, neste momento, deveria ser a preocupação primordial de qualquer tomador de decisões. Os indivíduos que estiveram com você por toda a jornada até agora.

As pessoas da organização são o elemento mais poderoso e crucial para lidar com o jogo infinito.

Assim como manter a comunicação, os objetivos e o espírito de equipe consistentes, mesmo trabalhando separados, gestores também precisam proporcionar liderança baseada em valores que vão além de números para garantir que isso permaneça sustentável.

Quando se trata do jogo infinito, isso significa ser capaz de adotar uma abordagem colaborativa, ágil e flexível, necessária para garantir a continuidade do jogo. Não é necessariamente jogar para vencer, mas, sim, jogar para permanecer no jogo. Para fazer isso, você precisa colocar suas melhores habilidades humanas em uso, como a de ouvir todos os envolvidos – funcionários, clientes, parceiros – para que as necessidades em evolução possam ser consideradas e todos possam ter uma chance de jogar.

Mas, acima de tudo, nós precisamos ser gentis uns com os outros. Vivemos tempos preocupantes, em que muitos dos nossos colegas, seus amigos e familiares podem, a qualquer momento, ser afetados pela propagação do novo coronavírus. Bondade é o recurso mais poderoso que você pode usar para continuar fazendo seu trabalho o mais humanamente possível – e é algo pelo qual você definitivamente será lembrado quando, finalmente, deixarmos este momento para trás.

Por favor, cuide-se.

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Marvio Portela

Marvio Portela é vice-presidente do SAS para América Latina