Entrevista

Mulheres na liderança reduzem o gap de autoridade

Em entrevista à Melhor RH, Diretora Geral da MicroPort Brasil explica que mulheres em cargos de liderança quebram paradigmas e servem de inspiração

de Débora em 15 de outubro de 2021

A ascensão das mulheres em cargos de chefia é uma tendência crescente no Brasil e no mundo. Se há algumas décadas elas eram limitadas a cargos de assistentes, hoje cada vez mais mulheres ocupam postos de liderança em empresas de diferentes setores.

Uma delas é Mirangela Machado, que em junho deste ano assumiu a Diretoria Geral da MicroPort Brasil, multinacional chinesa especializada em dispositivos médicos usados no tratamento de 90 tipos de doenças.

Em entrevista à Melhor RH, Mirangela contou os planos que tem para sua gestão e falou sobre a importância de quebrar paradigmas que restringem a liberdade e a ascensão profissional das mulheres.

A lacuna de autoridade

Mirangela conta que ficou impressionada quando leu o livro The Authoriry Gap (Lacunas da Autoridade, em tradução livre), de Mary Ann Sieghart. O livro traz exemplos de como o mito de que as mulheres são menos capazes que os homens é incutido desde cedo nas meninas. 

“Através de diversos experimentos, o livro demonstra que, infelizmente, desde muito cedo, a partir de seis anos de idade, tanto meninos quanto meninas acabam criando uma inset de que o homem tem mais prioridades que as mulheres. Há muitos casos interessantes citados, e que realmente chocam. Por exemplo, tem o caso de uma escritora que escreveu um artigo e enviou para várias revistas, alguns com assinados como mulher e outros como homem. Os artigos de autoria feminina demoravam a ser respondidos ou não eram notados. Já os de autoria masculina receberam muitos aceites, e quando a publicação do artigo era negada vinha acompanhada de um feedback”, conta Mirangela.

Segundo Mirangela, casos como os descritos no livro mostram como a sociedade, em geral, é levada a crer que as mulheres têm menos capacidade que os homens. Mas ela ressalta que isso não condiz com a realidade.

“Isso está mais na nossa cabeça. Vejo que precisamos trabalhar cada vez mais o empoderamento da mulher. Elas precisam fazer esta autoanálise de que elas realmente podem e são capazes de acreditar e investir mais no seu desenvolvimento. E sem receio, que também faz parte do perfil da mulher, de não acreditar em si mesma, de achar que tem outro melhor ou que não está pronta para aquela posição”, explica Mirangela.

Liderando pelo exemplo

Mirangela destaca que tais constatações tornam urgente a quebra desse paradigma. Para isso, é importante termos exemplos de mulheres em cargos de liderança, que sirvam de inspiração para novas gerações de meninas e jovens.

“O mindset de valores está enraizado na mentalidade de ambos os sexos. É importante que tenhamos a conscientização de que precisamos quebrar essa barreira. Os dados de competência mostram que as mulheres estão estudando, se dedicando, buscando aperfeiçoamento contínuo, muitas vezes até mais que os homens. Acredito que o fato de ter mais mulheres em posições de liderança quebra esse estigma e inspira mais mulheres a acreditarem que são capazes”, explica Mirangela.

Questionada sobre o que pretende fazer em sua gestão para estimular o empoderamento feminino, ela explica que tem a intenção de liderar pelo exemplo e ser sempre aberta à equipe.

“Acredito que meu grande desafio seja conseguir consolidar a MicroPort como uma empresa de alta qualidade, que recebe prêmios mundo afora pela nossa tecnologia e inovação. O propósito é criar na minha gestão uma cultura inspiracional, em que as pessoas possam realmente se sentir à vontade para darem o seu melhor, independentemente de gênero ou estilo. A diversidade é superimportante. Outro dia, li um artigo que dizia que se nós, como treinadores, só tivermos neymares no time, ele não dá certo. Precisamos também do atacante, zagueiro, o goleiro etc. Acredito muito no trabalho em equipe, mas onde tenhamos espaço para expressar nossas ideias e crescer. E é o líder que dita esse tom. Se temos um líder muito diretivo, com certeza ele criará um ambiente que inibirá as pessoas de se comunicarem, de serem transparentes e assumirem seus erros. Isso é crucial para o crescimento da empresa, os erros precisam ser assumidos, óbvio que com soluções rápidas para que possam ser corrigidos e melhorados”, conta Mirangela.

Retorno com modelo híbrido

Mirangela conclui a entrevista afirmando que a MicroPort pretende aderir ao modelo híbrido. Segundo ela, a modalidade veio para ficar.

“Ficou mais do que provado que existem situações onde claramente podemos trabalhar de casa. E que esse modelo é muito mais produtivo tanto para o profissional quanto para o pessoal, tendo a oportunidade de participar um pouco mais do dia-a-dia da casa e dos filhos, sem perder a produtividade. O home office precisa continuar. Porém, sabemos que o presencial faz diferença, como em reuniões, olhando no olho e fazendo interação. Principalmente quando são novos clientes, novos desafios, estratégias e trabalhos muito minuciosos. A interação presencial é insubstituível. Acredito que o modelo híbrido veio para ficar, vamos adotar porque faz a diferença, o time fica muito mais motivado, e o trabalho fica mais produtivo. Com isso, chegam melhores resultados”, conclui Mirangela.


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